“A minha avó adorava comida”, começa por explicar Sophia Bergqvist, no seu português com sotaque britânico. “A Cozinha da Clara é para celebrá-la a ela e à gastronomia.” Clara, está-se mesmo a ver, era a avó de Sophia. Quando nasceu, em 1906, recebeu uma surpreendente prenda de batismo da sua avó inglesa: a Quinta de La Rosa, junto às águas do rio Douro, no Pinhão. Morreu em 1972. Vive agora através da Cozinha da Clara, um novo restaurante de raiz portuguesa, que privilegia produtos locais e sazonais, mas que não esquece a herança gastronómica da família nem os pratos do receituário da avó.

A paixão pela comida por parte da minha avó Clara era lendária, assim como os jantares à volta da mesa Nelson na sala de jantar”, explica Sophia, olhos claros e cabelo loiro à inglesa, mas desenvoltura bem portuguesa. “Com este novo espaço tentamos recriar o ambiente dessa época.” A Cozinha da Clara inaugurou oficialmente a 27 de maio deste ano, por baixo da receção da Quinta de La Rosa. É uma quinta familiar, onde Clara viveu a maior parte da sua vida, e onde Sophia Bergqvist ainda habita, ao mesmo tempo que dispõe de 12 quartos e quatro suites para turismo, com vista privilegiada para os socalcos do Douro Vinhateiro.

A Cozinha da Clara tem a mesma vista. Na sala interior, com 50 lugares, dominam o xisto nos pavimentos e a madeira no teto abobadado. Ao fundo está o logótipo do restaurante, feito a partir da caligrafia de Claire Feuerheerd, o nome de batismo da avó de Sophia. Pedro Cardoso foi o chef escolhido para manter viva a memória da matriarca. Para trás deixou o Aquapura Douro Valley, atual Six Senses, onde esteve cerca de 10 anos e, com ele, trouxe Pedro Esteves, chefe de sala.

Polvo grelhado, migas de bróculos e molho de pimentos (23€). © Quinta de la Rosa / António Homem Cardoso

Quando Sophia está na quinta, é provável que a vejam chegar-se à mesa dos clientes para dizer um olá. E para perguntar se o gaspacho de beterraba com queijo de cabra e laranja (6,80€) está do agrado. Ou se gostam da chamuça de sardinha sobre compota de pimentos e alfaces (6,20€).

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O menu não é extenso. Às quatro entradas, onde se inclui o gaspacho e a chamuça, juntam-se três pratos de peixe e outros três de carne. Para comer com a faca de serrilha há o tradicional cabrito assado, batata e grelos (24€), um lombelo de porco com milhos transmontanos e ervilhas de quebrar (19,70€) e o frango corado com cogumelos salteados e batata com ervas (19€).

Nos peixes encontram-se o arroz de tamboril e camarão aromatizado com coentros (22,10€), a corvina corada com puré de couve flor caramelizado e legumes (20,50€) e o polvo grelhado com migas de brócolos e molho de pimentos (23€). Para breve estará disponível uma sugestão do dia, com um prato diferente a cada refeição. Vitela com milhos transmontanos em duas texturas e molho de vinho do Porto, e terrina de leitão com cogumelos e gomos de laranja são algumas das experiências já testadas pelo chef Pedro Cardoso.

Parfait de leite creme queimado (6,30€). © Quinta de la Rosa / António Homem Cardoso

As sobremesas estão em maioria: cinco no total. A típica fruta laminada, sim, mas também um leite creme queimado, que aqui surge como parfait (6,30€). E um pudim de laranja com citrinos macerados, bem fresco, para o verão. Ou a torta de abóbora com pasta de queijo fresco e gelado de noz.

Por falar em queijo, para quem quer matar a fome durante a tarde, junto à piscina da Quinta de La Rosa, há uma carta só de petiscos. Onde se incluem tábuas de queijos e enchidos, salada de polvo, asinhas de frango picante, batata brava com molho de ervas, esferas de alheira recheadas com Queijo da Serra e gelados.

Na quinta produz-se vinho do Porto desde 1815, bem como vinho do Douro (cada vez mais importante nas exportações da La Rosa) e azeite. Há visitas guiadas ao Vale do inferno, a vinha que ali está na quinta desde antes da Primeira Guerra Mundial. Desde que o bisavô de Sophia meteu mãos à obra. O passeio inclui entrada no lagar e na cave, com as suas pipas em carvalho francês (tonéis e pipas de Carvalho português para o vinho do Porto). Fazem-se todos os dias às 11h30, 14h30 e 17h. Provas de vinho também, mediante reserva.

O vinho está tão presente na história da Quinta de La Rosa que a comida terá harmonizações, pensadas pelo enólogo da quinta, Jorge Moreira, eleito recentemente enólogo do ano pela revista WINE – A Essência do Vinho. As harmonizações são feitas com vinhos La Rosa, mas também com vinhos de outras quintas vizinhas. Na carta de vinhos encontram-se ainda os vinhos Passagem, que Sophia e Jorge produzem na Quinta das Bandeiras, no Douro Superior e vinhos Poeira, entre muitos outros.

No exterior fica a esplanada, com 20 lugares. E esta vista. © Quinta de la Rosa / António Homem Cardoso

Para além de um apaixonado por vinhos, Jorge Moreira começou a organizar há alguns anos o “La Rosa Hill Challenge“, desafio que consiste em atravessar as águas frias do Douro a nado, desde a Quinta de La Rosa até à margem da Quinta das Carvalhas, da Real Companhia Velha. Depois dos 200 metros a nado, o desafio mais difícil é subir os quatro quilómetros de encosta até ao topo da Quinta das Carvalhas. O evento está marcado para este sábado, 17 de junho, às 09h. No final da ‘tempestade’ física vem a bonança: um grande repasto. Na Cozinha da Clara, pois claro.

Nome: Cozinha da Clara
Morada: Quinta de La Rosa, 5085-215 Pinhão
Contacto: 25 473 2254
Horário: Almoço das 13h às 15h, jantar das 20h às 22h
Reservas: Aceita
Preço médio: 35€ – 40€