Hoje Estarás Comigo no Paraíso
Bruno Vieira Amaral
(Quetzal)

As Primeiras Coisas era um conjunto de histórias das pessoas-personagens de um bairro da margem sul do Tejo, apresentando-se como romance, mas com uma estrutura similar a um livro de contos, ligados no início e no fim do livro. Hoje Estarás Comigo no Paraíso é revelador de um fôlego maior, com um sólido fio narrativo, assente numa investigação pessoal sobre o assassinato de um primo, João Jorge, no princípio dos anos 80. Escrita sobre uma experiência autobiográfica, recriada e ficcionada, sem a necessidade de uma terceira pessoa, fazendo uso da imprensa, de processos judiciais e de testemunhos próximos. E um gesto literário corajoso, onde cabe a escrita sobre a relação com um pai ausente, que trata o autor como se este fosse um aristocrata.

Viagem ao Sonho Americano
Isabel Lucas
(Companhia das Letras)

Um ensaio sobre literatura e paisagem. Ou um périplo pelos EUA à boleia de alguma da sua melhor literatura, escrito por uma jornalista e crítica que, no conjunto de textos que publicou ao longo de um ano no jornal Público, também se revela escritora. Uma das qualidades maiores do livro, além da escrita – sóbria, certeira, elegante — é a forma como faz o retrato das várias Américas, através das várias vozes que nela habitam e habitaram. De taxistas somalis a gente da escrita, como Herman Melville, John Steinbeck, Philip Roth, Gore Vidal, David Foster Wallace e Richard Ford. Há uma curiosidade a atravessar cada um dos roteiros, cada um dos encontros, cada uma das reflexões e perguntas – que passam muitas vezes pelo momento político e os seus protagonistas. Escreveu, no texto inicial: “O espanto nunca me deixou, e ele faz parte da minha identidade enquanto pessoa que caminha pela América”.

O Deslumbre de Cecília Fluss
João Tordo
(Companhia das Letras)

Último livro de uma trilogia e oitavo livro do escritor. Nele sente-se uma experiência grande na escrita de longas ficções, capaz de fazer oscilar, de um modo fluído e orgânico, digressões psicológicas credíveis e diálogos convincentes. O enredo envolve um adolescente de 14 anos (e este começa por ser um romance sobre esse período em que muito se descobre e se perde demasiadas vezes o pé), fixado nas suas pesquisas sexuais, na relação com um tio que enlouqueceu e na filosofia budista. Tal como acontece com o livro de Bruno Vieira Amaral, há uma figura desaparecida, em circunstâncias misteriosas, no caso uma irmã, sardenta e zombeteira, que pede um obsessivo exercício de memória e uma pesquisa. E que se torna uma personagem, “com a mesma consistência de ser humano feito de papel”.

Nuno Costa Santos escreveu livros como “Trabalhos e Paixões de Fernando Assis Pacheco” ou o romance “Céu Nublado com Boas Abertas”. É autor de, entre outros trabalhos audiovisuais, “Ruy Belo, Era Uma Vez” e de várias peças de teatro.

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