O ministro francês da Solidariedade e da Transição Ecológica, Nicolas Hulot, apresentou, esta quinta-feira,o plano do governo para a preservação ambiental que visa traduzir em ações não só as promessas que o Presidente, Emmanuel Macron, já tinha feito no seu manifesto eleitoral como também defender os compromissos assumidos por França no âmbito do Acordo de Paris.

O plano de Hulot está assente em seis temas e 23 medidas, e deverá ser implementado ao longo dos próximos cinco anos. De entre as medidas com mais impacto destaca-se a proibição de venda de veículos de combustão até 2040 e o fim da produção de energia a partir do carvão já em 2022.

Nicolas Hulot mostrou-se “ansioso em preservar a liderança da França” em matéria de preservação ambiental e desviou logo críticas que possam surgir por parte dos fabricantes de automóveis. “Os nossos próprios fabricantes têm o que é preciso para alimentar esta promessa, que é necessário cumprir para a agenda climática, mas também em termos de saúde pública”, disse o ministro de Solidariedade e de Transição Ecológica.

Dando como exemplo a Índia, uma economia em expansão mas que também já se comprometeu com o fim da gasolina e do gasóleo até 2030. “O stress não é inimigo da criatividade, é o oposto”, concluiu o ministro antes de detalhar os principais pontos do documento.

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As convicções ambientalistas do ministro são tão fortes que, explica o Le Monde, na apresentação deste plano aos restantes ministros do seu governo, Hulot fez questão de sublinhar que a aposta na preservação ambiental deveria ser ” uma ambição e uma estratégia nacional e interdepartamental”, afeta a “todos os ministérios”.

Eis algumas da principais medidas:

Ajudas para comprar um carro menos poluente

As famílias mais pobres vão poder pedir ajuda ao governo para se livrarem dos seus antigos carros e adquirir um novo que seja mais amigo do ambiente. O valor ou limite máximo desse abate não foi adiantado, dependerá dos rendimentos da família.

O fim dos combustíveis fósseis

Hulot anunciou que, até 2022, a França “irá cessar qualquer produção de energia a partir de carvão”, a principal fonte de emissões de CO2 no planeta. Também aqui o governo pretende estabelecer contratos de transição para evitar que as perdas para o setor sejam demasiado avultadas.

O primeiro-ministro francês, Edouard Philippe, garantiu que, em 2050, a França será um país com “carbono neutro”, o que acontece quando as emissões não ultrapassam os processos de captura do gás. As árvores são um filtro natural essencial para limpar a atmosfera mas também há processos artificiais, como a instalação de filtros em fábricas, que podem ajudar a reduzir as emissões — ou a “capturá-las”.

4 mil milhões para lutar contra a pobreza de combustível

Nicolas Hulot quer mandar reforçar o isolamento térmico dos edifícios mais antigos, que estejam mal isolados e a consumir muita energia. Nos próximos dez anos, esse tipo de problemas, “deverá estar erradicado”, disse o ministro.

Para estas remodelações, o governo reservou 4 mil milhões de euros o que, no entender de Hulot, “são investimentos e não despesas”. Um montante que será também utilizado para acabar com a chamada “pobreza energética”. Na área do aquecimento da habitação, o governo “vai ajudar todos os franceses com rendimentos modestos que estão a lutar para se manterem quentes” a pagar as suas contas de eletricidade.

Fim das licenças para novas explorações de não-renováveis

A legislação chega ao Parlamento, onde Emmanuel Macron e o seu República em Marcha detêm maioria absoluta, já no fim do verão. Se for aprovada, nenhuma outra licença para exploração de petróleo, gás ou carvão será emitida.

Será proibido comprar carros a diesel ou gasolina em 2040

O governo também pretende acabar com a comercialização de carros movidos a gasolina ou diesel em França até 2040. Hulot reconheceu que é um objetivo “pesado”, especialmente para fabricantes de automóveis mas, ao mesmo tempo, “isso é uma verdadeira revolução”, disse o ministro.

No curto prazo, M. Hulot confirmou a promessa anunciada pela Macron candidato durante a campanha é “fazer convergir tributação entre diesel e gasolina até o final do período de cinco anos.”

Uma tonelada de carbono custará mais de 100 euros

Todos sabemos que a poluição tem um preço elevado para o planeta e a França que os maiores poluidores o sintam na carteira. Hulot propôs “colocar um preço sobre a poluição”, reforçando o preço da tonelada de carbono introduzindo assim “uma vantagem competitiva para aquela produção que não se apoia no carbono”. O preço, não estado ainda definido deverá ultrapassar os 100 euros em 2030. Em média, a França produziu 5.048 toneladas cúbicas de carbono per capita.

Nuclear deve ser 50% do bolo energético em 2025

Mantém-se o objetivo traçado para a transição energética, adotado em 2015, na redução da percentagem da energia nuclear na produção de eletricidade que deverá passar para 50% em 2025. Hulot não disse quais seriam as centrais a fechar e o assunto é bastante controverso em França, que é o país mais dependente do mundo deste tipo de energia que não é muito poluente mas é considerada perigosa: os desastres nucleares aniquilam todas as formas de vida num raio de centenas de quilómetros e ainda não se encontrou forma de dissolver o lixo gerado pela produção de energia.

“Eu não quero ter uma abordagem dogmática e este assunto. Vamos fechar uma série de reatores. Devo identificar com a minha equipa os reatores a fechar, com base em critérios de segurança, sociais e económicos”, disse Hulot.

Todas estas medidas deverão “tornar o Acordo de Paris irreversível”, disse Nicolas Hulot que ficou com uma das pastas mais importantes do governo de Macron, agora que Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, a maior economia do mundo, se ter afastado do compromisso com a redução de emissões inscrito no Acordo.