Para quem achava que os The Avalanches eram um gira-discos artilhado e uma caixa de ritmos, desengane-se. Se a base é a manipulação do sample — a arte de escolher e misturar as palavras e sons de outros — ao vivo a música é outra. Aliás, é quase a mesma, mas com mais gente.

Esta noite, a dupla australiana deu a cara e o corpo pela música “estranha” que fazem, pop com funk com hip hop, cozinhada por artes mágicas. Tony Di Blasi foi o maestro de serviço, o homem do bendito sample; do lado oposto do palco esteve Robbie Chater, na caixa de ritmos e na guitarra que nunca se ouvia, tamanha foi a espessura da parede de som do palco Heineken.

Na bateria Paris Jeffree, na voz e proa de palco a saltitante Eliza Wolfgramm e, senhoras e senhores, Spank Rock, o MC de e para todo o serviço. Os cinco deram o litro e surpreenderam, seguramente, muitos daqueles que esperavam por Peaches ali mesmo, uma hora depois, porque foram contagiantes na alegria e no ritmo.

História e importância são coisas diferentes. Os The Avalanches fizeram um disco em 2000 e desapareceram do mapa — Since I Left You (LP) é por muitos considerado uma obra-prima do género. Depois, desapareceram. No ano passado voltaram com Wildflower, um álbum um nadinha mais “orgânico”, mas ainda a seguir a mesma estrutura de base: o sample. O disco foi bem recebido pelo público e pela crítica, daí (também) a expectativa gerada em torno do regresso aos palcos.

A curiosidade estava em saber como é que tamanha complexidade resultaria ao vivo, se seria uma coisa do género Sleaford Mods, música de carregar no botão. É que aquela mistura tão bem feita de coisas que não se percebem, os tais samples (amostras) de músicas de outros, na ordem dos milhares de pequenos excertos (literalmente) não seriam coisa assim para caber em instrumentos.

E não são, de facto. O que ali se viu foram instrumentos “de verdade” a pintar a tal base previamente manipulada, essa sim, a estrutura que dá corpo à música dos The Avalanches. Tudo o resto foi espetáculo, simples e bom. E não se esqueceram de “Since I Left You”.

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