A associação das petrolíferas portuguesas contraria a tese de que os carros elétricos asseguram emissões de dióxido de carbono (CO2) zero. A APETRO apela a que a política da União Europeia para redução de gases de efeito estufa não exclua nenhuma tecnologia, nem combustível.

Numa opinião divulgada esta semana, a propósito dos padrões de eficiência dos veículos pós 2020, a APETRO avisa que “contabilizar a eletricidade utilizada em veículos como não emitente de CO2 não reflete a realidade do seu contributo real para as emissões de CO2 em toda a economia”. Em causa estão as fontes utilizadas para produzir eletricidade que é usada pelos automóveis.

Ainda que o carro elétrico seja uma das formas mais eficazes de armazenar energia, por via das baterias, podendo contribuir para uma maior eficiência no sistema elétrico, tem que ser abastecido. E não há qualquer garantia de que use apenas eletricidade produzida de fontes renováveis. Aliás, nos meses mais recentes, a probabilidade é de que use mais energia produzida através de combustíveis fósseis, carvão e gás natural, devido à seca que fez quebrar a produção renovável.

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Apesar de grandes melhorias ocorridas nos últimos anos, as centrais térmicas, sobretudo as que usam carvão como Sines e Pego, são ainda as maiores emissoras de CO2 por unidade.

A APETRO diz mesmo que os “regulamentos e as abordagens de marketing que reivindicam que os veículos elétricos (VE) têm zero emissões de CO2 no tubo de escape não refletem a realidade e desinformam os consumidores. A realidade (….) é que a produção de eletricidade, a extração de matérias-primas e a fabricação de baterias para VE são intensivas na emissão de CO2 para a atmosfera.”

Numa altura que se discutem as políticas que a Europa vai adotar para cumprir as metas do acordo de Paris e, quando várias capitais e países europeus anunciam o fim dos carros a gasóleo, a associação que representa a indústria petrolífera pede uma abordagem “tecnologicamente neutra”. O gasóleo representa cerca de dois terços do consumo no mercado nacional e é o combustível dominante em quase toda a Europa, mas a sua reputação foi seriamente abalada pela descoberta da fraude no controlo das emissões (neste caso de óxido de azoto) dos modelos da Volkswagen.

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A APETRO, que segue as orientações da FuelsEurope (associação europeia), defende que a abordagem para calcular as emissões de CO2 deve contabilizar as emissões totais de gases de efeito estufa exigidas para cada sistema propulsor e não apenas as emitidas pelo tubo de escape. À luz deste critério, acrescenta, a redução de emissões dos veículos elétricos, face aos motores de combustão interna, “é significativamente inferior aos valores atualmente divulgados”.

Apela por isso a que se reconheça a “contribuição dos combustíveis para a redução de emissões de CO2 no cálculo dos padrões de eficiência de emissões de veículos”. Se esta realidade for reconhecida, isso criará um “interesse claro na indústria, alinhando os setores automóveis e de produção e combustíveis para a sua utilização, incentivando o investimento mútuo em novas tecnologias”.

A associação das petrolíferas portuguesas defende ainda a reavaliação das penalizações por incumprimento aplicadas aos fabricantes automóveis, considerando que são demasiado agressivas. Geram um ambiente de restrição económica e levam os construtores a “venderem preferencialmente veículos elétricos em vez de veículos de combustão interna (ICE na sigla inglesa) eficientes”.