Aquela corrida que fez no recente meeting de Estocolmo ainda está na cabeça dos mais atentos. O vento, superior ao regulamentado, não permitiu homologar a marca, mas 9.69 nos 100 metros… Uau! E se pensarmos que na última grande prova, os Jogos Olímpicos, estabeleceu um novo recorde pessoal de 9.91 para a medalha de bronze… Ouch! Andre De Grasse tem apenas 22 anos e 1,76 metros, mas deixa sinais de que pode concorrer à coroa de homem mais rápido do mundo após a saída de cena de Bolt. O próprio jamaicano chegou a referir que, pela forma como corria, mais lento no arranque e mais rápido no final, poderia ser o seu sucessor. Mas zangaram-se.

O recordista mundial ficou picado com a quezília levantada na última Liga Diamante do Mónaco, quando o treinador de De Grasse acusou o jamaicano de não querer que o canadiano fizesse os 100 metros para não perder. Não gostou e, na última conferência, quando lhe perguntaram sobre a velocidade pós-Bolt, fez questão de dizer isso mesmo. “Já não vou por esse caminho. O último que falei teve um grande desrespeito por mim e, por isso, não vou voltar a dizer quem será o maior. Deixarei isso para quem aparecer e conseguir calçar os meus sapatos”, disse. Estava lançada aquela pitada para apimentar ainda mais a prova dos 100 metros dos Mundiais mas, afinal, não haverá duelo: Andre De Grasse lesionou-se e vai falhar a última competição de Bolt.

Filho de uma antiga velocista de Trinidad e Tobago (o pai nasceu nos Barbados), o canadiano de Ontario não tem a paixão da corrida desde pequeno e quando fazia provas ainda ia com os ténis de basquetebol, a sua primeira modalidade (queria jogar na NBA). No entanto, quando ganhou nos Jogos do Canadá de 2013 venceu os 100, os 200 e os 4×100 metros, marcou uma posição. No Rio de Janeiro, quando terminou no segundo lugar a prova dos 200 metros, abraçou Bolt e desfizeram-se em sorrisos: seria já a imagem da sucessão? “Olhámos um para o outro, houve um clique. Ele disse-me que não ia conseguir ganhar-lhe, eu respondi que ia tentar vencê-lo e ser o maior. Rivais? Não, nunca”, contou.

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“O atletismo salvou-me a vida”, explicou De Grasse, que encontrou no atletismo um porto de abrigo para uma adolescência conturbada em Markham, um subúrbio de Toronto. “Não sabia o que queria fazer quando era adolescente, faltava-me direção e o basquetebol não estava a funcionar. A minha mãe fez imensos sacrifícios por mim, a pagar os campos de treino de basquetebol, com dois empregos… Nunca caí no mundo das drogas mas estava perdido”, recordou numa revista recente antes do Mundial.

Agora, estuda na Universidade de Southern California ciências sociais por causa do irmão. “Não acredito que o mundo seja correto. Vê-se em todo o lado. Vi muitas coisas pelo mundo, em Doha, no Canadá ou nos Estados Unidos. Vi como as pessoas vivem. Passamos pelos bairros a caminhos dos eventos e o Brasil foi marcante por isso. Temos de passar por estas partes para percebermos que não é justo. Se estes miúdos tivessem a oportunidade ou conhecessem alguém que lhes desse essa oportunidade, as coisas seriam diferentes. O meu irmão tem um mestrado em trabalho social e fui com ele ver miúdos que cresceram sem nada. Quero formar-me para fazer de forma correta esse trabalho”, salientou. Só falta realizar o outro objetivo: ficar com o cadeirão do atletismo que será deixado por Usain Bolt. Porque ganhar ao jamaicano, nunca vai acontecer…