Como se tivessem discursos concertados, o PS e o Bloco reagiram ao discurso de Passos Coelho no Pontal, acusando o líder do PSD de xenofobia por causa das declaraçõessobre as alterações à lei da emigração.

O porta-voz do PS, João Galamba, acusou Pedro Passos Coelho de ensaiar “um discurso racista e xenófobo” ao fazer uma “denúncia mentirosa” de alterações à lei da imigração que transpõem uma diretiva comunitária.

“Pela primeira vez em muitos anos tivemos em Portugal um líder político e o líder político do maior partido da oposição, a ensaiar um discurso racista e xenófobo, à semelhança do que vemos noutros países, em França, nos Estados Unidos”, defendeu João Galamba, aos jornalistas no parlamento, reagindo a propósito do discurso do líder do PSD no domingo, durante a Festa do Pontal, em Quarteira, que marcou a “rentrée” política do partido.

O dirigente e deputado socialista acentuou que se trata de “uma denúncia mentirosa sobre alterações à lei que não existiram”, tratando-se somente de uma “transposição de uma diretiva europeia, totalmente em linha com o direito europeu”.

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“Não só o PSD e Pedro Passos Coelho inventaram alterações legislativas que não existiram, como aproveitaram essa invenção para ensaiar um discurso que não tem lugar em Portugal e que deve ser severamente censurado”, sublinhou.

Galamba atribuiu ao “puro desespero e desorientação” as críticas de Passos Coelho a alterações à lei da imigração, e disse que estas mostram, afinal, que as declarações do candidato autárquico do PSD em Loures, André Ventura, foram “um balão de ensaio para um discurso nacional”.

Passos Coelho acusou o Governo de fazer uma cedência ao “radicalismo de esquerda” com uma alteração “à lei de estrangeiros, que na prática permite que qualquer pessoa possa ter autorização de residência em Portugal desde que arranje uma promessa” de contrato de trabalho.

“Uma promessa, reparem bem, de poder ter um contrato de trabalho”, disse, declarando ainda que, segundo essas modificações, “o Estado deixará de ter condições para simplesmente expulsar alguém que possa, sendo imigrante, ter cometido crimes graves contra a própria sociedade portuguesa”.

“Este foi o Governo que aprovou estas alterações. Porque é que não discutem na sociedade portuguesa as implicações que para a segurança do país a médio e longo prazo isso pode trazer? Da mesma maneira pergunto: o que é que vai acontecer ao país seguro que temos sido se esta nova forma de ver, a possibilidade de qualquer um residir em Portugal, se mantiver?”, questionou.

“Por isso é que o PSD se mantém como um partido que não cede à facilidade, que não cede à demagogia, que não cede ao radicalismo”, acrescentou.

Bloco: a única proposta de Passos continua a ser o programa da troika

Também o BE acusou o presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, de usar a xenofobia como “estratégia de sobrevivência”, argumentando que as suas críticas à lei da imigração são uma aposta no preconceito e ataque aos mais fracos.

“Perante a ausência de políticas alternativas, perante a ausência de uma proposta que possa mobilizar os portugueses e as portuguesas, como a única proposta de Passos Coelho continua a ser o programa da ‘troika’, ensaiou um discurso que não é habitual e que vai ao encontro de posições xenófobas recentes, que o próprio Passos Coelho disse não fazerem parte da tradição do PSD”, acusou Joana Mortágua, aos jornalistas, no parlamento.

Referindo-se ao discurso da ‘rentrée’ política social-democrata, no Pontal, no domingo, a dirigente e deputada do Bloco sublinhou que “o líder do PSD escolheu começar o ano [político] a dizer que, em Portugal, não entra qualquer um”.

“Esta ideia sobre novas regras de imigração, que são bastante razoáveis, tem como único objetivo, depois de todos os argumentos perdidos, apostar no preconceito, no ataque aos mais fracos, como estratégia de sobrevivência”, afirmou Joana Mortágua.

Para o BE, “as saudades da ‘troika’” não permitem a Passos Coelho “fazer muito mais”, colocando no mesmo plano as afirmações do líder social-democrata sobre o sistema de comunicações SIRESP, considerando que faz “arremesso de tragédias como arma política”.