Ao longo da sua campanha presidencial, o presidente francês, Emmanuel Macron, sempre declarou o rejuvenescer da Europa como um dos seus principais objetivos. Passados quatro meses de presidência, o líder do En Marche mantém a ideia bem viva. Macron discursou esta terça-feira na Universidade de Sorbonne, em Paris, onde detalhou a sua visão para o futuro da União Europeia, que pretende tornar ainda mais… unida.
“O único caminho que assegura o nosso futuro é a reconstrução de uma Europa que é soberana, unida e democrática“, declarou o chefe de Estado francês. Na Sorbonne, Macron estabeleceu claramente uma política conjunta na Defesa como uma das prioridades para a União: “No início da próxima década, a Europa deve ter uma força de intervenção conjunta, um orçamento de Defesa comum e uma doutrina conjunta para a ação”, disse.
Mas Macron falou também de economia, afirmando que “o desafio fundamental [para a Europa] é reduzir o desemprego, que atinge um em cada cinco jovens”. Para o Presidente francês, é necessário fazer da zona euro “uma potência económica concorrente da China e dos Estados Unidos”. Isso só poderá ser feito, segundo Macron, com um orçamento da zona euro, bem como um parlamento e um ministro das Finanças, para que se evitem crises como as que têm afetado a Europa nos últimos anos e se dê legitimidade à UE nos mercados globais. De acordo com assessores do presidente, Macron vai destacar no seu discurso a importância da voz dos cidadãos na União Europeia: o presidente francês quer incluir os cidadãos em debates públicos e convenções em cada um dos países-membros.
Para concretizar a sua visão, Macron precisa do apoio da Alemanha. A chanceler alemã, Angela Merkel, já tinha demonstrado abertura relativamente às ideias do presidente francês — contudo, os recentes resultados eleitorais alemães podem vir a dificultar os planos para uma Europa mais integrada. Macron também não hesitou em comentar as eleições germânicas no discurso da Sorbonne: “Pensávamos que o passado não ia regressar”, disse, referindo-se à entrada no Parlamento da Alternativa para a Alemanha, partido de extrema-direita. Algo que, para o Presidente francês, aconteceu porque “nos esquecemos de defender a Europa”.
Apesar de ter vencido as eleições, Merkel perdeu o apoio dos Sociais Democratas, com os quais tinha governado em coligação no último mandato. Agora, tudo indica que a líder da União Democrata-Cristã se irá virar para os Verdes e para o Partido Democrático Liberal, partidos que não partilham a mesma visão europeia de Macron, que até já está a ser posta à prova. Em declarações ao POLITICO, Sabine Thillaye, do En Marche!, afirmou que o partido está a contactar outros partidos e parlamentos com o propósito de criar uma espécie de “Europe En Marche!”. O objectivo é conseguir criar uma aliança que apoie os ideais de Macron a tempo das eleições para o Parlamento Europeu em 2019.
Entre as críticas às ideias de Macron para a Europa, as principais são a falta de necessidade para um novo parlamento e criação de um novo partido europeu. Frank Engel, membro do Partido Popular Europeu, afirma que um novo partido seria “supérfluo” pois já existem muitos com ideologias semelhantes. A Comissão Europeia, contudo, já colabora com membros do parlamento francês para analisar as propostas de debate democrático em todos os países-membro. Um resultado favorável daria a Macron margem de manobra para implementar a sua visão de Europa.