O PSD foi apanhado de surpresa com o anúncio de Passos Coelho de que iria refletir se seria recandidato à liderança do partido. Os críticos tornaram-se mais críticos, os fiéis continuaram fiéis, mas nos bastidores já começou a contagem de espingardas. Ainda não é no Conselho Nacional desta terça-feira que Passos deverá anunciar a decisão (se fica ou sai), mas esta segunda-feira intensificaram-se as jogadas de bastidores. Rui Rio, segundo avançou o Expresso, reuniu-se em Azeitão com alguns barões e apoiantes. Já Paulo Rangel, apurou o Observador, desmarcou a agenda em Estrasburgo para estar presente no Conselho Nacional desta terça-feira. Luís Montenegro continua em silêncio, mas o seu antigo braço-direito e sucessor no Parlamento, Hugo Soares, já defendeu que a melhor solução é a continuidade de Passos.
Ao contrário de Rio, Rangel não assume uma pré-candidatura, mas não abdica de se posicionar no debate interno. Quanto a Luís Montenegro, disse há meses que se entendesse ser candidato “não pediria licença a ninguém”, mas não estaria a contar ir, neste momento, a jogo. No entanto, esta meia-decisão de Passos Coelho pode precipitar tudo. Os apoios de Marco António Costa, a norte, e o de Miguel Relvas, a sul, podem ser fundamentais para qualquer candidato decidir avançar (e vencer). Entre estes ou outros que surjam. Relvas já lançou, por exemplo, o nome do antigo presidente da distrital de Lisboa, Miguel Pinto Luz. Ao Observador, Pinto Luz nem quer comentar e confessa: “Nem sequer vou ao Conselho Nacional“.
Marco António Costa ainda não falou publicamente sobre o assunto. É, curiosamente, a sul, que Rui Rio procura apoios. O Observador já tinha noticiado que o ex-autarca tinha vindo duas vezes a Lisboa a encontros com figuras do partido. Esta segunda-feira, segundo o Expresso, teve uma terceira reunião numa quinta em Azeitão com figuras como Ângelo Correia, Nuno Morais Sarmento, Manuela Ferreira Leite, Feliciano Barreiras Duarte e José Eduardo Martins. A motivação do encontro será analisar os resultados das autárquicas e discutir uma candidatura de Rui Rio à liderança.
PSD. Rio avança em “qualquer circunstância” e já foi a Lisboa preparar terreno
Ângelo Correia, afirmou na tarde desta segunda-feira ao Observador que “Passos esgotou-se” e que as autárquicas “deixaram o partido frágil em vários pontos de vista”. O antigo dirigente do PSD diz que mais importante do que discutir pessoas é discutir a estratégia e as ideias do partido. Ao que o Observador apurou, da reunião organizada por Rio, poderá sair um documento com ideias para o partido.
O antigo patrão de Passos Coelho diz, no entanto, que o atual líder “deve ser tratado com uma dignidade adequada” e que por isso há que ter “o cuidado para não fazer exclusões” de militantes que têm direito a discutir o futuro do partido. Ainda assim, garante que — se estivesse no lugar de Passos e nas atuais circunstâncias — já se teria demitido. Quanto a Rui Rio, definiu-o como “uma mais-valia para o partido” e lembrou que em 2010 deu uma entrevista ao Expresso onde disse que “achava que quem sucederia a Passos Coelho”. Ora, agora “é evidente” que esse palpite tem “maior pertinência”. Já Nuno Morais Sarmento limitou-se a dizer ao Observador que não quer “fazer comentários por ora”.
O líder da distrital de Aveiro, Salvador Malheiro — que é apontado como um dos líderes distritais menos alinhados com Passos Coelho — disse ao Observador que nas autárquicas “os resultados foram muito maus” e que por isso é “importante haver um grande abanão na estrutura do partido”.
Salvador Malheiro avisa que a derrota de domingo “tem muitos responsáveis, não é só o líder”, mas destaca que “essa análise tem de ser feita internamente” no Conselho Nacional desta terça-feira. Sobre se Passos deve sair, diz que “ele é que deve tomar essa decisão”, mas não nega que considera que o líder “está numa posição mais fragilizada“.
Os críticos vão saindo da toca, embora de Rui Rio ainda não se tenha ouvido uma palavra após o escrutínio. Na noite eleitoral, a ex-líder do PSD Manuela Ferreira Leite — que até tomou um pequeno-almoço de apoio com Teresa Leal Coelho na campanha em Lisboa — confessou estar “atónita e chocada com os resultados demasiadamente maus” obtidos e afirmou que Passos Coelho “não tem” condições para continuar à frente do partido, sugerindo que fizesse o mesmo que Paulo Portas e se retirasse.
O ex-líder parlamentar e comentador José Pacheco Pereira — há muito desavindo com a liderança do PSD — também afirmou que o PSD se tornou num “partido médio” e o ex-líder do PSD, Luís Marques Mendes, que também participou numa arruada com Teresa Leal Coelho, falou de uma “verdadeira humilhação” em Lisboa e Porto. Já esta segunda-feira, em declarações ao Público, o dirigente do PSD/Lisboa Rodrigo Gonçalves disse que era necessário tirar “as consequências e que se interprete o que levou ao divórcio com os eleitores do PSD”. Mas disse que “ainda é cedo” para se discutir questões de liderança. Um dos maiores caciques do PSD/Lisboa tem, no entanto, estabelecido vários contactos com Rui Rio.
O ex-líder da concelhia, Mauro Xavier, que abandonou este órgão por discordar da escolha de Teresa Leal Coelho pediu responsabilidades ao líder do partido após a derrota em Lisboa.
Entretanto, há várias figuras do partido que têm defendido Pedro Passos Coelho. José Matos Correia na noite eleitoral, em declarações à Renascença, saiu em defesa do líder do PSD. O mesmo já tinha feito antes Paula Teixeira da Cruz. Esta segunda-feira foi a vez do líder parlamentar, Hugo Soares, a fazê-lo também em declarações à Renascença a dizer:
É o melhor para liderar o partido e o melhor para ser primeiro-ministro. Para mim deve continuar à frente do PSD.”
Para o inner circle do líder não é um dado adquirido que Passos saia. Dirigentes próximos do líder do PSD dizem que pode muito bem querer ir a votos para se manter na liderança e apostar num fim da geringonça antes de acabar a legislatura. “Se ainda sentir que o partido o quer, pode não sair“, ouviu o Observador.
É uma decisão pessoal, e apesar de estar de certa forma saturado com a vida que leva, sem fins de semana há anos e a mulher doente, não será apenas isso a pesar na decisão. Os resultados não são bons, mas vistos por dentro do passismo não são assim tão maus. O problema é, essencialmente, Lisboa.M as agora apontam-se as responsabilidades a Teresa Leal Coelho e à maneira como a campanha foi gerida e levada a cabo. Como é que os sociais-democratas justificam este argumento? Pelos resultados do partido para a Assembleia Municipal e juntas de freguesia terem sido mais altos do que na candidata: o que significa que Teresa Leal Coelho é que foi o erro. Mas quem a escolheu? Pedro Passos Coelho.
Lisboetas que rejeitaram Teresa Leal Coelho votaram PSD para juntas e Assembleia Municipal
No partido, muitos estão à espera do que Passo Coelho dirá no Conselho Nacional, embora a decisão não seja tomada esta terça-feira. Fontes sociais-democratas destacam que, sem Passos na corrida “vai ser tudo mais anárquico e imprevisível”. Quanto a Rui Rio, o ex-autarca do Porto vai esperar por Passos. Não deverá fazer guerras a dizer querer apressar as coisas, mesmo que o presidente do partido só anuncie a decisão no Conselho Nacional no final de novembro. É uma questão de ver se Rio se vai deixar condicionar pelos timmings de pasos.
Neste Conselho Nacional já haverá contestação a Passos Coelho. Desde logo, pelo crítico do costume: o ex-deputado e conselheiro nacional, Luís Rodrigues. O antigo líder da distrital de Setúbal disse ao Observador que “tem de haver leitura nacional das eleições” e que “ninguém pode escamotear isso”.
Luís Rodrigues considera que “quanto mais depressa o partido fizer as suas diretas e o seu congresso, mais depressa vai estar preparado para fazer oposição”. Acrescenta, nas mesmas declarações ao Observador, que “não precisa de ser já amanhã, mas também não precisa de cumprir os dois anos de prazo do mandato.” O conselheiro nacional avisa que cada “responsável do partido tem de perceber o que fazer perante o resultado” e diz ainda que, na sua análise, o “eleitorado não quis penalizar o PSD, quis que o PSD pensasse bem que projeto e que liderança quer ter“. Ou seja: foi mais um cartão amarelo à política de Passos do que ao partido.