A história da fundação do Café Progresso em 1899, na baixa do Porto, tem detalhes muito semelhantes à da recente remodelação do mesmo estabelecimento, já em 2017. Artur Mendes, um dos atuais responsáveis do Progresso, diz ao Observador que o nascimento do café histórico no século XIX partiu da vontade de um grupo de amigos que, não encontrando um café de qualidade na cidade, criou negócio no mítico número 5 da Rua Actor João Guedes. Hoje, os responsáveis são três: Artur, Pedro Sá Pereira e Diogo Batista. E escusado será dizer que são consumidores de café. Mais: foi o café que também os juntou neste projeto de remodelação.
Se a venda de café de saco se tornou uma das imagens de marca do Café Progresso, esta mantém-se viva e firme no “novo” espaço. Mas não só. “Foi uma das primeiras casas onde nasceu o cimbalino e, na altura, foi uma mudança grande porque as pessoas não estavam habituadas ao café expresso”, acrescenta Pedro Sá Pereira. O conceito “cimbalino”, utilizado pelos portuenses para designar o café expresso, teve origem no nome da máquina da marca italiana Cimbali. O Café Progresso foi um dos primeiros estabelecimentos no Porto a ter a prestigiada máquina de café, “uma espécie de Rolls Royce” do mundo do café, afirma Artur Mendes.
Há décadas, o café histórico do Porto marcava o passo da evolução de uma das bebidas mais adoradas do mundo, e em 2017 não parece querer ficar atrás. O café é preparado e transformado das mais diversas formas e feitios — em saco, em filtro, expresso — e vem de vários pontos do planeta. Brasil, Guatemala, Peru, Etiópia e Costa Rica são algumas das viagens à boleia de uma chávena colorida de café. Sim, porque as típicas chávenas brancas são substituídas pelas cores amarela, azul e vermelha.
“O café é muito mais do que aquilo a que nós estamos habituados: também tem castas, origens, diferenças e notas de prova”, aponta Pedro.
O responsável pelo novo Café Progresso confessa percorrer vários quilómetros à procura de um café de qualidade, especialmente quando viaja. Pedro Sá Pereira faz tours de café pelas cidades que visita e, talvez por isso, queria que os seus clientes tivessem a mesma exigência. No Progresso, a bebida ocupa algum protagonismo na ementa. Um café expresso com 60% de origem brasileira e 40% do Guatemala custa 80 cêntimos. O valor aumenta consoante a intensidade, a quantidade e o tipo de preparação do café: um “Long Black”, com 200 ml, da Etiópia, custa 1,80€.
“Vinha lanchar ao Progresso com a minha avó”
Ao longo dos anos, o Progresso tornou-se o ponto de encontro para famílias, colegas de trabalho e amigos. Recebeu tertúlias, à semelhança de outros cafés emblemáticos da cidade, como o Guarany ou o Majestic. No entanto, ao contrário dos conterrâneos, o Café Progresso não entrou na lista do programa da autarquia “Porto de Tradição”, dedicado à proteção das lojas históricas.
Para Pedro Sá Pereira, a relação com o café histórico do Porto começou quando, no final das sessões de cinema do Teatro Carlos Alberto, vinha lanchar ali com a avó. “Isso já foi há quase 40 anos, o destino estava traçado”, ri-se. Talvez tenha sido o destino e as circunstâncias que fizeram com que os três sócios chegassem até donos do Progresso: o filho de um ex-funcionário do café, o anterior proprietário, decidiu largar o negócio e confiar a Artur, Pedro e Diogo o futuro de 118 anos de História.
Mantiveram a traça do edifício, recuperaram o antigo pavimento e deixaram à mostra, no piso de cima, uma parede que mostra os diferentes estados do espaço pelas várias décadas. Se para uns não passaria de uma visão da degradação do tempo, para os responsáveis é um motivo de orgulho de uma casa centenária. No Progresso apareceram, todavia, novidades como as mesas comunitárias, os sofás e até uma pequena esplanada. “Trata-se de recordar e manter o hábito e a tradição de um bom café”, afirma Pedro Sá Pereira.
Porém, foi na ementa que as grandes mudanças aconteceram. Entraram as pizzas, de diversos sabores e ingredientes, como a “Carmelitas” (11,50€/15€), com tomate, filetes de sardinha, mozzarella e raspas de limão, ou a “Diavola” (11€/14€) com tomate, mozzarella, salame, pesto de azeitona e pimentos. O preço varia consoante a escolha pelo tamanho médio ou grande, tendo também a opção de massa tradicional ou integral. Com o novo Progresso veio também uma novidade que se apresenta como uma versão mais saudável da pizza, a pinsa, cuja massa tem uma maturação de 150 horas que dá mais leveza ao prato e permite uma melhor digestão da refeição. Para já, conta com três sabores: a carbonara (11€), a ventura (14€) e “a baixa” (12€).
“Grande parte do que oferecemos é à vista do público [artesanal] e, como existe uma nova geração preocupada com o ambiente e também mais saudável, biológica e orgânica, decidimos apostar nesta ementa”, explica Pedro. Na mesma linha, entram as saladas, as panquecas, os smoothies e os iogurtes caseiros.
Se o novo Progresso se faz para os novos e jovens clientes, “a quantidade de pessoas que já passaram aqui e nunca tinham entrado”, o cliente tradicional não fica excluído. Por isso se mantiveram as torradas de pão biju e os queques da D. Odete – “Uma das pessoas mais antigas desta casa, que consegue transmitir a mística ao longo dos tempos do Progresso”, adianta um dos responsáveis do espaço. Pedro Sá Pereira quer, assim, colocar o café na rota dos turistas e dos locais.
As críticas que têm surgido nas redes sociais e poderão surgir no curto espaço de tempo do novo Café Progresso – aberto há cerca de um mês — são encaradas com naturalidade.
“É um processo que compreendemos. Para muitos, primeiro estranha-se e depois entranha-se. Há necessidade de respeitar o tempo para as pessoas assimilarem a mudança”, diz.
Mas o atual proprietário relembra: “Como o próprio nome indica, é preciso progredir e dar progresso ao Progresso”.
Nome: Café Progresso
Morada: Rua Actor João Guedes, 5, Porto
Telefone: 22 332 2647
Online: Facebook, Website
Horário: De terça a quinta-feira das 8h às 00h. De sexta-feira a sábado das 8h às 2h. Domingo das 8h às 23h. Descanso semanal à segunda-feira.