Joel Sartore chegou apressado à Galeria da Biodiversidade – Centro Ciência Viva, onde na terça-feira apresentou a sua exposição, “Photo Ark”. “Foi fotografar a lebre ibérica“, explicam-nos. Em 12 anos, o conceituado profissional da National Geographic já tirou o retrato a mais de sete mil espécies de animais em perigo de extinção. 45 dessas imagens estão no Porto a partir desta quarta-feira e até abril de 2018. O objetivo é que cada visitante saia de “Photo Ark” consciente de que cada espécie importa.
Instalada na Casa Andresen, que fica no Jardim Botânico do Porto, a Galeria da Biodiversidade emprestou 250 m2 para que o norte-americano expor lémures, rinocerontes, pandas, orangotangos e até uma mosca. Todas as fotos são em fundo preto ou branco. “Para que todos fiquem do mesmo tamanho, seja uma formiga ou um elefante. Não há distrações. Assim, podemos olhar estes animais olhos nos olhos“, disse, na visita de imprensa.
Sartore lembra-se de várias das mais de 7.000 fotografias que já tirou. Numa delas, um macaco jovem, da Guiné Equatorial, tem uma expressão facial de admiração. “Provavelmente estava-se a ver pela primeira vez ao espelho”, disse, puxando pela memória. Mas há uma coisa de que Joel não se esquece. O Mandril de apenas cinco meses estava num mercado de comida.
Sartore é fotógrafo da National Geographic há mais de 20 anos, o que implicava voajar muito. Quando em 2005 a sua mulher Kathy foi diagnosticada com um cancro da mama, o fotógrafo decidiu fazer uma pausa para poder estar junto da família e cuidar da mulher e dos três filhos do casal. Durante esse ano, começou a pensar no que podia fazer para levar as pessoas a preocuparem-se mais com o facto de a Humanidade poder perder metade de todas as espécies do mundo até ao final do século XXI.
Assim nasceu o Photo Ark, um dos projetos com maior visibilidade da National Geographic. O objetivo é documentar 12 mil espécies em 25 anos. Mais de metade já está, o que faz do Photo Ark a maior Arca de Noé arquivística do mundo. O objetivo mais importante é sensibilizar as pessoas para a proteção destas espécies. Seja através de doações a algumas instituições — em Portugal Joel recomenda o Zoo de Lisboa e o Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Universidade do Porto –, seja simplesmente passando a mensagem.
“Estamos no início do caminho. Temos de tornar esta causa tão popular quanto o futebol, ou a roupa, ou a comida. Salvar os animais tem de se tornar moda.” Se não por compaixão, pela própria sobrevivência. “É errado acharmos que se perdermos metade das espécies vamos ficar bem. A biodiversidade é essencial à sobrevivência. Incêndios como os de Portugal vão ser piores“, alertou.
Os bastidores de algumas sessões fotográficas caricatas, que pode ser visto na exposição:
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A sua sala favorita é uma divisão mais escura, com poucos retratos. Uma mosca das flores colorida e super ampliada, um peixe Noturus Crypticus, um coelho anão. Todos extintos ou provavelmente extintos. E um rinoceronte branco do norte muito velho, que morreria menos de duas semanas depois de Joel o ter fotografado. Já só existem três, protegidos no Quénia. Do lado oposto estão espécies que correram sério risco de extinção, mas que se salvaram. Como o panda gigante, o lobo americano ou o condor da Califórnia. A prova de que, quando a sociedade se envolve, é possível salvar os animais.
A Galeria da Biodiversidade – Centro Ciência Viva é o primeiro pólo do Museu de História e da Ciência da Universidade do Porto. Foi inaugurada a 30 de junho pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e pelo Reitor da Universidade do Porto, Sebastião Feyo de Azevedo. É lá que “Photo Ark” pode ser visitada de terça-feira a domingo, das 10h às 18h.
A entrada na exposição custa 5€. Por mais 4€, os visitantes têm acesso à exposição permanente do Museu. A entrada é gratuita nas manhãs do segundo domingo de cada mês e, em permanência, para crianças até aos quatro anos e acompanhantes de pessoas com mobilidade reduzida.