Depois de Harvey Weinstein, de James Toback, das novas histórias a envolver Roman Polanski, o mundo acordou esta segunda-feira com o novo nome ligado ao assédio sexual em Hollywood: Kevin Spacey. O protagonista da série “House of Cards” está a ser acusado de ter tentado seduzir um jovem ator de 14 anos, em 1986.

Anthony Rapp, agora com 46 anos, deu uma entrevista ao BuzzFeed News e contou a história. Tudo começou no dia em que Spacey convidou Rapp e um amigo, de 17 anos, para uma festa numa discoteca. Apesar de ambos serem visivelmente menores de idade, o ator, que tinha então 26 anos, garantiu que ficavam na área VIP do espaço noturno.

Dias depois, Kevin Spacey voltou a convidar o jovem Anthony Rapp para outra festa: desta vez, no seu apartamento em Manhattan. Rapp, que atualmente integra o elenco da série “Star Trek: Discovery”, contou que passou grande parte da festa “algo aborrecido” e acabou por ficar fechado num quarto a ver televisão. A dada altura, reparou que Spacey estava à porta do quarto, a olhar para ele, e que todos os outros convidados já tinham abandonado a festa.

Ele ficou parado à porta, como que a balançar-se. A primeira impressão que tive foi que estava embriagado… pegou em mim como os noivos pegam nas noivas. Mas eu não saí logo, porque só pensava ‘o que é que se está a passar?’. E depois ele deitou-se em cima de mim”, contou Anthony Rapp ao BuzzFeed News.

Rapp descreveu a situação como “um momento congelado”, acrescentando que quando a situação implica lutar ou fugir, tem “tendência para congelar”. O ator acredita que Spacey estava a tentar seduzi-lo, mas conseguiu escapar pouco depois, tendo corrido para a casa-de-banho antes de lhe dizer que se ia embora. “Quando eu abri a porta para me ir embora, ele estava encostado à ombreira da porta do quarto. Disse ‘tens a certeza de que queres ir embora?’. Eu respondi ‘sim, boa noite’ e fui embora”, recorda Anthony Rapp, que tinha apenas 14 anos na altura.

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Entretanto, Kevin Spacey já reagiu às acusações. Através do Twitter, o ator, que tem agora 58 anos, emitiu um comunicado em que não nega o episódio; mas diz que não se recorda. “Honestamente, não me lembro desta ocasião, foi há mais de 30 anos. Mas se eu de facto me comportei como ele descreve, devo-lhe o mais sincero pedido de desculpas por aquilo que terá sido um comportamento alcoolizado e profundamente inapropriado, e lamento todos os sentimentos que ele descreve ter carregado com ele todos estes anos”, escreveu o ator, vencedor de dois Óscares.

Além de pedir desculpa e lamentar o trauma que alegadamente provocou a Anthony Rapp, neste comunicado, Kevin Spacey assumiu publicamente que é homossexual. A orientação sexual do ator é um assunto falado e comentado há décadas, mas Spacey nunca tinha confirmado a sua homossexualidade; aliás, chegou a negá-la numa entrevista à Playboy. Agora, escreve que “os que melhor me conhecem sabem que, durante a minha vida, tive relações com homens e mulheres. Amei e tive encontros românticos com homens ao longo da minha vida, e escolho agora viver como um homem gay. Quero lidar com isto honestamente e abertamente e isso começa com um exame ao meu próprio comportamento”.

Na entrevista, Anthony Rapp afirma que durante anos não contou a ninguém – apesar de ter detalhado a história em 2001, numa entrevista à revista Advocate, omitindo o nome de Kevin Spacey. A partir dos anos 90, quando a carreira de Spacey começou a disparar, Rapp recorda que queria “gritar dos telhados ‘este gajo é uma fraude!'”. O ator explica que aprendeu a “bloquear” o episódio, mas que existiram ocasiões em que ficou profundamente perturbado depois de ver Spacey na televisão e que receava o dia em que iriam ter de trabalhar juntos.

O ator, que ficou conhecido no meio depois de integrar o elenco do musical “Rent”, revela-se sortudo por “algo pior não ter acontecido” e diz que ganhou coragem para contar a sua própria história no rescaldo do escândalo que envolveu Harvey Weinstein. Numa série de tweets, depois da publicação da entrevista, Anthony Rapp escreveu que “eu contei a minha história inspirado pelos homens e mulheres corajosos que têm falado, para acender uma luz e esperançosamente fazer a diferença, tal como eles fizeram comigo.”