Quatro esquadras da PSP de Lisboa estão sem carros para patrulhas e resposta a chamadas de emergência, depois de as viaturas terem sido enviadas para reparação por estarem “inoperacionais” e não terem sido substituídas. A situação acontece há mais de quatro meses, diz ao Observador fonte policial. A falta de carros de substituição tem obrigado a uma gestão concertada do único carro disponível, partilhado pelas quatro esquadras, colocando em risco a resposta a situações urgentes. O problema vai muito além da capital.

Rato, Rua da Palma, Baixa Pombalina e Bairro Alto são as esquadras do coração da capital que há quase meio ano estão sem carro próprio. Numa situação normal, cada uma destas esquadras teria o seu carro — o que, só por si, já é uma solução de recurso face ao número de meios indisponíveis. Mas há vários meses que a situação se tornou ainda mais precária, estando atualmente em vigor uma escala mensal em que o único carro disponível para dar resposta às chamadas na área sob jurisdição destas esquadras vai rodando pelas quatro esquadras (atualmente, a gestão da viatura é feita pela esquadra da Baixa Pombalina).

Ao Observador, fonte operacional da PSP admite que “não tem sido possível, em determinados momentos, dar resposta ao volume de chamadas que chegam à central”. Para gerir os pedidos de socorro, a própria central começou a fazer uma “triagem” das situações reportadas, em função da gravidade de cada caso. Ao mesmo tempo, aumentou a pressão sobre os agentes que estão no terreno para que acelerem a sua resposta: “Já terminaram?”, pergunta-lhes frequentemente quem está a receber os pedidos de ajuda.

Nalguns casos, a solução passou por enviar equipas a pé. “Ainda não houve pedidos sem resposta, por mero acaso”, assegura um agente de uma das esquadras de Lisboa sem carro disponível. Ao Observador, o presidente do Sindicato Nacional dos Oficiais da PSP confirma que a situação é crítica e não apenas na cidade de Lisboa mas, de forma mais alargada, em toda a Área Metropolitana de Lisboa. “A situação tem corrido bem, sabe deus porquê”, diz ao Observador o subintendente Resende.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O dirigente sindical repete um alerta em que tem insistido junto da tutela:

No dia em que, por causa da incapacidade de resposta, alguém morrer, aí vão dizer-nos que vão disponibilizar mais meios e mais homens” porque “neste país, só depois de as tragédias acontecerem é que há mudanças”.

Fonte da PSP reconhece que a disponibilidade de viaturas tem estado abaixo do desejado e confirma que o problema não se esgota em Lisboa. Nos concelhos de Sintra e Loures, por exemplo, a situação também se verifica em várias esquadras e “vem-se arrastando nos últimos meses” sem que ainda tenha sido possível encontrar uma solução. Para remediar o problema, há casos em que as juntas de freguesia disponibilizaram os seus carros para que a PSP pudesse continuar a fazer o patrulhamento de segurança — e, invariavelmente, perante a falta de meios, esses carros acabaram por ser usados para todo o tipo de serviços da polícia.

A justificação para este cenário? Um misto entre a “gestão de oficina” para onde são enviados os carros avariados e a “renovação da frota” automóvel que a PSP tem em curso. Para o próximo ano, o Ministério da Administração Interna quer reforçar a frota das forças de segurança com 1.900 novos carros. “Que renovação?” questiona-se o subintendente Resende, do SNOP, confessando a “tremenda frustração” pelo estado atual da frota na polícia e fazendo um esforço de memória para recordar quando chegaram as últimas viaturas à PSP. “A situação é de um aperto total como nunca se viu”, diz o dirigente sindical.

Enquanto não há carros novos — ou, simplesmente, carros que andem –, a degradação vai-se acentuado. “Se fossem à inspeção, estes carros não seriam aprovados porque não reúnem as condições mínimas de segurança”, diz ao Observador um agente de uma destas esquadras da capital. O modelo de um carro por esquadra (quando é cumprido) significa uma sobrecarga para os carros que ainda andam na estrada. No caso de Lisboa, são quatro rodas para quatro divisões, 24 horas por dia, sete dias por semana. É uma questão de tempo até estas viaturas chegarem ao limite.

Fonte da PSP rejeita, no entanto, que haja situações urgentes sem resposta na área de jurisdição das esquadras atualmente sem carro. “Havendo carros disponíveis, podem ser acionados os meios de outras divisões”, refere, garantindo que nos casos considerados graves – assaltos, casos de violência doméstica, outras situações com violência – “nunca haverá falta de resposta”.

Quem está no terreno diz ao Observador que o recurso a esquadras vizinhas limita-se a “tapar buracos” e não resolve o problema de fundo. Quando são acionados meios de outras esquadras vizinhas, são essas áreas que ficam sem capacidade de resposta imediata. E “só por acaso” ainda não houve casos grave em que a PSP não tenha conseguido dar uma resposta em tempo útil.

Mas o problema não se fica pelas dificuldades de resposta às chamadas de socorro. Cada vez que há uma “ocorrência” é preciso preencher papelada. Isso exige tempo. E tempo é o que não há, neste momento. Consequência: os processos acumulam-se nas esquadras, à espera de uma oportunidade para que toda a documentação seja preenchida e, em alguns casos, os processos possam seguir para tribunal.

Confrontada com esta situação, a PSP não prestou até ao momento qualquer esclarecimento.