Luís Filipe Vieira provavelmente já sabia o que os árbitros tinham testemunhado sobre o caso dos vouchers antes de depor na Comissão de Instrução e Inquéritos da Liga (CIIL), em novembro de 2015. De acordo com a revista Sábado, a Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF) enviou aos seus associados uma resposta-tipo preparada para enviar à Comissão, que chegou a Paulo Gonçalves, o assessor jurídico da SAD do Benfica.
A resposta foi enviada após um pedido de “aconselhamento jurídico” por parte de árbitros e assistentes, disse José Fontelas Gomes, então presidente da APAF, à Sábado. O documento sugeria aos árbitros que dissessem que era um “hábito generalizado” dos clubes oferecer “lembranças alusivas à coletividade ou à região”, bem como que o Benfica oferecia “lembranças nos mesmos precisos termos e contexto” em jogos no Estádio da Luz.
O documento só terá sido enviado para os árbitros, mas acabou por ‘cair’ no email do assessor do Benfica no mesmo dia em que a APAF o enviou, a 7 de novembro de 2015, sem se saber quem o enviou.
Paulo Gonçalves acabaria por enviar cópias de vouchers oferecidos entre as épocas de 2013/14 e 2015/16 (que então decorria) a advogados da “Correia, Seara, Caldas, Simões” no dia 10 de novembro, um dia antes de Luís Filipe Vieira prestar depoimento na CIIL. Escreve a Sábado que Paulo Gonçalves sugeriu aos advogados uma alteração à minuta do depoimento do presidente do Benfica, dado não ter sido Vieira o responsável pela alteração na política de vouchers, que, de 2013/14 para 2015/16, passou de um convite duplo para quatro convites. A responsabilidade era de “alguém” do Departamento de Futebol, terá dito Gonçalves aos advogados.
Tanto o email da APAF como os emails entre os advogados e o assessor do Benfica foram enviados pelo último para o endereço “contraosistema@iol.pt”, que se diz pertencer a Ricardo Costa, consultor da Abreu Advogados e antigo presidente da Comissão Disciplinar da Liga, responsável pelo inquérito relativo ao caso Apito Dourado. Gonçalves, que noutros emails se dirigiu ao destinatário como “Ricardo”, pediu ao mesmo que agisse quando lhe enviou a correspondência com os advogados — “FYA”, escreveu o assessor, acrónimo que significa ‘for your action’, ou seja, algo como ‘age’.
O caso dos vouchers, que foi denunciado em 2015 pelo presidente do Sporting, Bruno de Carvalho, foi arquivado nas instâncias disciplinares desportivas, incluindo no Tribunal Arbitral do Desporto, que rejeitou o recurso do Sporting em março de 2017. Em novembro deste ano soube-se que o membro que avaliou o caso, Miguel Lucas Pires, pediu cinco bilhetes para jogo do Benfica através de Fernando Seara. Dias depois, renunciou ao cargo.
A Polícia Judiciária ainda se encontra a investigar o caso.
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