A futura liderança do Eurogrupo está agora nas mãos dos mais altos responsáveis da União Europeia e apanha os líderes europeus reunidos em Abidjan, para a Cimeira União Europeia/União Africana. António Costa está a aproveitar o encontro na Costa do Marfim para conversar com líderes europeus, na tentativa de perceber as hipóteses do ministro das Finanças, Mário Centeno, na corrida à presidência do Eurogrupo. Um dos encontros que teve esta quarta-feira foi com a chanceler alemã, Angela Merkel, mas também conversou com os primeiros-ministros italiano e francês.

Até esta noite ainda não havia uma decisão sobre quem está em melhores condições de chefiar o Eurogrupo e ela pode ser tomada a qualquer momento.

A cimeira acontece precisamente em cima da data-limite para a apresentação de candidaturas ao grupo informal e o assunto tem sido incontornável. O objetivo passa por encontrar um candidato consensual entre os socialistas, antes de submeter um nome concreto à votação. Mas, nesta fase, a decisão está mesmo ao mais alto nível e os potenciais candidatos já só estão a aguardar por fumo branco para oficializarem avanços.

É o caso de Mário Centeno que nas últimas semanas intensificou contactos com os seus homólogos na zona euro para medir eventuais apoios à sua candidatura. O ministro está em Portugal à espera de um sinal de Costa. Fonte europeia comentou ao Observador que nesta “ponta final”, o “blackout tem sido total”, referindo-se à falta de informação sobre este processo.

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Na sua conta oficial do Twitter, o primeiro-ministro tem divulgado algumas imagens de contactos mantidos em Abidjan, uma delas foi do encontro desta tarde com o presidente Emmanuel Macron e o primeiro-ministro Paolo Gentiloni. França e Itália são dois dos pesos-pesados europeus (2ª e 3ª economias da zona euro) e os ministros das Finanças de ambos os países têm sido também dados como nomes a ter em conta na corrida ao Eurogrupo. O francês Bruno Le Maire e o italino Pier-Carlo Padoan são nomes considerados e o avanço de qualquer um deles comprometeria as ambições de Centeno. No entanto, no final da semana passada, Padoan terá feito saber que não deveria avançar. No caso do francês, é quase certo que não será candidato.

Esta quarta-feira, a agência de notícias austríaca (APA) citou fontes do PPE dando conta que a família do centro-direita não vai indicar um candidato para a liderança do Eurogrupo. O PPE ocupa hoje a liderança de todas as instituições mais importantes na União Europeia — Comissão Europeia, Conselho Europeu e Parlamento Europeu –, com exceção do Eurogrupo e o equilíbrio das famílias política europeias é um argumento forte para entregar aos socialistas a presidência do grupo informal dos ministros das Finanças da zona euro.

A APA retirou ainda de cena a possibilidade — ainda que remota — que chegou a ser falada de o austríaco Hans-Jörg Schelling vir a ser candidato. Schelling chegou a medir apoios, mas o ministro — que é conhecido pelas suas posições duras e ortodoxas — nem sequer tem garantido um lugar na futura coligação austríaca.

Candidatura de Centeno ao Eurogrupo ganha força

A decisão do PPE prejudica as eventuais candidaturas da ministra das Finanças da Letónia, Dana Reizeniece-Ozola (que, mesmo assim, deve candidatar-se) e ainda do ministro das Finanças do Luxemburgo, Pierre Gramegna. Este último tem contra si a questão da nacionalidade, já que o luxemburguês Jean-Claude Juncker é presidente da Comissão e foi um dos dois presidente do Eurogrupo, desde que começaram a existir mandatos de dois anos e meio. Gramegna era, a par de Padoan, um dos ministros que Mário Centeno mais temia na luta pela liderança.

O eurodeputado eleito pelo PSD, Paulo Rangel, diz que o “PPE nunca fez questão” de acumular, nesta altura, também a presidência do Eurogrupo, tendo em conta os cargos que já acumula na UE. No entanto, considera que a escolha do socialista Mário Centeno “não é muito provável”. “O nome dele nunca foi muito falado [no meio europeu], só nos últimos 15 dias”, diz Rangel ao Observador: “Mas isso pode ser favorável”. O social-democrata acredita que Centeno “só será solução se houver algum bloqueio ou um impasse. Num ressalto”, diz.

“Portugal tem sido muitas vezes escolhido quando se desenvolvem bloqueios ou na ausência de uma candidatura”. O facto de “não ter anticorpos” ajuda nestes processos, argumenta Paulo Rangel.

Moscovici: Centeno “não é o único que pode chegar” à presidência do Eurogrupo

O fator desconhecido e a dança das cadeiras

A característica que melhor define o processo de eleição do presidente do Eurogrupo é a imprevisibilidade. Por se tratar de um grupo informal, a única regra definida é o temo do mandato e os próprios ministros até isto podem alterar — como o fizeram agora com Jeroen Dijsselbloem.

Por mais e melhores candidatos que possa haver, os governos privilegiam a estabilidade, por isso tentam ao máximo um consenso. Não tem de ser um nome forte. Tem, acima de tudo, de ser um nome consensual.

A eleição de Jeroen Dijsselbloem mostrou isso mesmo, quando à última hora Angela Merkel voltou atrás na palavra dada a Mariano Rajoy e o seu ministro Wolfgang Schäuble não apoiou o espanhol de De Guindos para a liderança do grupo.

Este ano, os interesses regionais estão a vir ao de cima, mas há muitos fatores que podem mudar tudo à vigésima-quinta hora.

Pierre Gramegna era visto como uma boa hipótese para suceder ao holandês por ser essencialmente um nome neutro, um diplomata, mas a nacionalidade não o ajuda, tal como a decisão do PPE de não se unir em torno de um nome do bloco de centro-direita e de este lado do espetro político europeu já deter quase todas as presidências na União Europeia.

Dana Reizniece-Ozola já deu indicação que pretende avançar, mas o apoio é escasso. Por ser uma quase completa desconhecida, por ser de um país com pouca expressão no grupo e sem peso dentro dos dois principais blocos dentro do Eurogrupo.

Pier-Carlo Padoan, o favorito entre todos os ministros – e não só – terá transmitido que não iria avançar com uma candidatura, mas o seu nome continua a ser falado em Bruxelas. É muito respeitado, tem um vasto currículo, voz em todos os mais importantes debates nos seio do grupo, é socialista, mas é italiano, tal como o presidente do Banco Central Europeu, do Parlamento Europeu e a Alta Representante para os Negócios Estrangeiros da União Europeia. Contra si tem também as eleições italianas que se avizinham, algo que preocupa mais os ministros.

Peter Kazimir, da Eslováquia, está longe de ser um nome consensual, especialmente entre os socialistas, mas poderia ter algum apoio entre os ministros de centro-direita. No entanto, Kazimir poderá já estar fora da corrida.

Mário Centeno depende essencialmente das restantes candidaturas. O ministro português não é um nome com peso no Eurogrupo, até porque as suas intervenções dentro do grupo têm sido limitadas, especialmente a temas respeitantes a Portugal, e porque existem outros nomes mais fortes, em especial o italiano Pier-Carlo Padoan.

A desistência de Padoan pode fazer o nome de Centeno o nome mais forte no campo socialista e, com uma constelação de fatores, dar reais hipóteses a Mário Centeno de ascender a um dos cargos mais importantes na Europa.

Mas até ao último segundo tudo pode mudar devido aos acordos políticos entre os líderes da zona euro, neste momento em África. Esta incerteza deve-se em grande parte ao futuro de dois cargos importantes que estão em disputa na Europa, ainda que com menos destaque mediático: o de presidente do Eurogroup Working Group e a vice-presidência do BCE.

O espanhol Luís De Guindos há muito que deixou de alimentar a ambição de ser presidente do Eurogrupo e virou agulhas para o BCE, tendo do seu lado o facto de Espanha – quarta maior economia da zona euro – não deter qualquer cargo de relevo na Europa.

No entanto, a sua candidatura não é bem vista por todos. O que seria uma saída quase direta de ministro das Finanças para o BCE, sem um período de nojo, leva alguns governos a torcer o nariz.

Mas o mais importante, e menos mediático, destes três cargos é mesmo o do Eurogroup Working Group. O austríaco Thomas Wieser vai reformar-se em janeiro e o seu sucessor vai ser escolhido agora. Este grupo é onde se trabalha e se define praticamente tudo o que sai do Eurogrupo. Até os comunicados do Eurogrupo são escritos no Eurogroup Working Group, sujeitos naturalmente a mudanças dos ministros, mas que poucas vezes acontecem. Foram poucas as vezes que os ministros tomaram decisões diferentes no Eurogrupo.

O cargo é ocupado a tempo inteiro e equiparado a diretor-geral. Na corrida também estará um italiano. A hipótese de ser um francês a ocupar o cargo chegou a existir, mas já estará afastada.

O equilíbrio de forças e de interesses entre estes postos a concurso deverá ditar a futura presidência do Eurogrupo, mais do que as características dos próprios ministros a concurso.