O negócio corre bem e, se tudo correr como o esperado, 2017 será um ano recorde tendo em conta as exportações de vinho verde. Por esse e outros motivos pedimos ao presidente da Comissão de Viticultura da Região de Vinhos Verdes (CVRVV), Manuel Pinheiro, que nos indicasse alguns (bons) motivos para provar os néctares já no próximo ano, que está mesmo aí à porta.
É um vinho único
Diz Manuel Pinheiro que este é um vinho único no mundo, bastante gastronómico, resultado de uma feliz combinação: presença do mar naquela região, solo granítico e castas típicas que já muito ajudaram a construir o nome dos vinhos verdes. “Não há vinho verde em mais nenhum país”, destaca o presidente da CVRVV, responsabilizando em grande escala a influência marítima.
“O que caracteriza e transmite caráter ao vinho é o clima, os solos e as castas”, garantiu ao Observador Manuel Pinheiro em maio do ano passado. A região é tida como um anfiteatro virado para o mar, sendo que os vales “levam a influência marítima para o interior” — por aqui não há verões muito quentes nem invernos muito frios. Às temperaturas amenas juntam-se os solos maioritariamente de granito, que conferem mineralidade ao vinho. E o que dizer das castas? Manuel Pinheiro eleva o Alvarinho e o Loureiro, castas autóctones que dão distinção ao vinho e fazem dele mais leve e fresco.
O que é preciso saber sobre o vinho verde?
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Ao contrário do que em tempos se possa ter pensado, o vinho verde não é feito a partir de uvas verdes, até porque a vindima acontece no momento de perfeita maturação da uva, palavra do presidente da Comissão de Viticultura dos Vinhos Verdes, Manuel Pinheiro.
O vinho é caracterizado por uma frescura natural e pelo baixo teor alcoólico, pode ser bebido branco, tinto ou rosado — sendo que também existe espumante de vinho verde, aguardente bagaceira e aguardente vínica — e é produzido numa das maiores regiões demarcadas no país e na Europa, situada no noroeste de Portugal. A Região Demarcada dos Vinhos Verdes estende-se pela zona tradicionalmente conhecida como Entre-Douro-e-Minho, conta com 18.000 produtores e 600 engarrafadores.
Casa bem com sushi
O investimento no mercado japonês começou há sensivelmente três anos e desde logo Manuel Pinheiro se sentiu muito bem recebido. Ao Observador, conta que há muitos restaurantes que ligam o sushi ao vinho verde. “Eles acham que o vinho verde branco é o melhor vinho para acompanhar sushi”, garante, face à experiência que já acumulou. “Vendemos muito bem para o Japão, quase 1 milhão de litros”.
Dá para o verão e para o inverno
“Não é só um vinho de verão, mas também de inverno. A casta Alvarinho é ideal para acompanhar o bacalhau na ceia de Natal”, lembra Manuel Pinheiro, numa altura em que o Natal está novamente à porta — o Alvarinho, por ter mais corpo e ser mais complexo, surge como um dos parceiros ideais para o bacalhau cozido (o Loureiro não ficará muito atrás). Há dois picos de venda, assegura, no verão (junho e julho) e no inverno (dezembro). “É um vinho muito oferecido e que se bebe como entrada na noite de Natal, sobretudo mais a norte”.
É o primeiro vinho DOC mais exportado em Portugal
Retiremos da equação o Vinho do Porto, que tanto orgulho nos traz, para repetir a ideia: o vinho verde é o primeiro DOC (Denominação de Origem Controlada) mais exportado, sendo que metade da exportações vínicas para os Estados Unidos diz respeito a vinho verde. Exportações essas que tem vindo a aumentar desde 2004. “EUA e Alemanha são os mercados principais do vinho verde, mas o vinho está em 107 mercados, em 5 continentes. São 60 milhões de euros em exportações esperados até ao final do ano, um ano recorde de exportações.”
Vinho verde com previsão de exportações de 60 milhões até final de 2017
A (promissora) colheita de 2017 está quase a chegar
Tradicionalmente, a região dos vinhos verdes produz vinhos de um ano para o outro — falamos em vinhos jovens. A isso acrescentamentos o facto de 2017 ter sido um ano particularmente bom no país. “Foi um ano muito quente, muito favorável para os vinhos verdes. Fomos o único país europeu que produziu mais”, afirma Manuel Pinheiro. Quer isto dizer, que em janeiro já vai ser possível conhecer alguns vinhos da colheita de 2017. Mais, o vinho verde tem menos álcool do que os de outras regiões. “Tem, por isso, menos calorias!”.
As uvas que estão a chegar às adegas, como tivemos oportunidade hoje de verificar numa visita pela região, são maravilhosas, podiam estar às nossas mesas, são cachos lindos, são uvas com muito boa maturação, em ótimo estado sanitário e cabe agora aos enólogos transformá-las em grandes vinhos, que é o que esperamos”, afirmou Manuel Pinheiro à Lusa por altura das vindimas.
A tendência é para perfis diferentes
Jovens e menos alcoólicos são dois traços que definem o perfil tradicional dos vinhos verdes que, curiosamente, tem vindo a mudar um pouco. O futuro destes vinhos, diz Manuel Pinheiro, passa por vinhos com cada vez mais qualidade. “Isto é um bom motivo para ajudar a desenvolver o interior. Vinhos diferentes são uma tendência, em particular na região dos vinhos verdes.” O presidente da CVR assegura que as categorias de maior valor têm vindo a aumentar — de 4% em 2000 a 17% em 2017; valores que são particularmente influenciados pelo crescimento do Alvarinho e do Loureiro. “Como era um vinho muito tradicional, o vinho verde teve no passado problemas a nível de maturação das uvas, era mais ácido. A revolução tecnológica, sobretudo na parte da vinhas, veio resolver isso. As castas ainda são tradicionais, mas a tecnologia é moderna.”
A região merece uma visita
Em causa não está só a oportunidade de provar vinhos verdes com perfis mais e menos tradicionais, que casam bem com sushi ou bacalhau, mas também visitar uma região que está a crescer em termos de propostas turísticas. Seja disso exemplo o hotel Monverde, a Casa De Sezim ou a Quinta da Aveleda. “O Minho está por descobrir em termos turísticos. E temos 18 mil produtores.”
*Artigo atualizado às 19h50 com informação corrigida sobre a exportação