A missão é difícil, mas em apenas dois dias apareceram dois candidatos prontos a desafiar Rodrigo Gonçalves — que deverá oficializar a sua candidatura depois do Natal — na corrida ao PSD/Lisboa: Paulo Ribeiro e Sofia Vala Rocha. Paulo Ribeiro já tinha sido candidato contra Mauro Xavier em 2012 quando obteve 220 votos e Sofia Vala Rocha provocou um turbilhão no PSD local quando nas vésperas das autárquicas — mesmo sendo a número cinco da lista — criticou a candidata do partido à autarquia, Teresa Leal Coelho.

Paulo Ribeiro é o candidato da fação oposta a Rodrigo Gonçalves, que irá agregar apoiantes de Santana Lopes, de Luís Newton (que o apoia) e de militantes que estiveram ao lado de Pedro Pinto, Miguel Pinto Luz e Carlos Carreiras na última disputa na distrital (em julho). Os apoiantes de Passos Coelho ganharam em toda a linha, menos em Lisboa, onde os votos afetos à família Gonçalves foram mais uma vez preponderantes.

O candidato — que anunciou na quinta-feira em comunicado que ia avançar, afirmou, em declarações ao Observador, que vai a votos porque no PSD em Lisboa tem existido uma “degradação da democracia interna nos últimos anos”. E tem dois grandes objetivos: “Garantir que o PSD tenha um projeto vencedor para a câmara de Lisboa em 2021 e ajudar o próximo presidente do PSD a vencer as próximas legislativas”.

Paulo Ribeiro diz que não está “preocupado com a candidatura de Sofia Vala Rocha” e que não tem “medo de perder” contra Rodrigo Gonçalves. Sobre Sofia Vala Rocha considera que a adversária teve uma “atitude muito questionável” ao criticar a candidata do PSD em “vésperas das autárquicas”, lembrando que defendeu no Conselho Nacional que o partido devia agir contra militantes que fazem o que ela fez.

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O candidato é militante social-democrata desde 1993, é coordenador do Gabinete de Estudos da Distrital de Lisboa e delegado à Assembleia Distrital de Lisboa do PSD e foi presidente da Comissão Política do Núcleo da Lapa. Já tinha sido candidato ao PSD/Lisboa em 2012, mas também em 2011. Para a eleição de 13 de janeiro — que ocorre no mesmo dia das diretas que opõe Santana a Rui Rio — desafia Rodrigo Gonçalves a assumir oficialmente a candidatura: “Espero que seja candidato e não se esconda atrás de ninguém.”

Sobre os 700/800 votos sempre fiéis a Rodrigo Gonçalves em Lisboa, Paulo Ribeiro denuncia que “esses são votos de inscritos no PSD, não são votos de militantes do PSD“. Em 2012, Paulo Ribeiro já estava do lado oposto a Gonçalves e defrontou uma grande união (que incluía passistas e Rodrigo Gonçalves) que venceu confortavelmente a concelhia. Nas penúltimas eleições da distrital, antes das legislativas, Miguel Pinto Luz convenceu Paulo Ribeiro a juntar-se a ele em nome da unidade do partido e o agora candidato aceitou. Enterrou aí o machado de guerra com a fação de Carreiras.

Os apoiantes de Gonçalves — um dos maiores caciques do PSD/Lisboa — também classificam Paulo Ribeiro como cacique. Ao Observador o candidato garante: “Não negociei com nenhum cacique e não ofereci lugares de deputados“. Paulo Ribeiro assume-se ainda como apoiante de Passos Coelho, mas lembra que nunca deixou de o criticar “nos órgãos próprios, como o Conselho Nacional”, quando discordava do líder. Paulo Ribeiro garante ao Observador que não falou com Santana antes de avançar, mas será sempre visto como o candidato dos que apoiam o candidato a líder do partido. O avanço de Ribeiro condicionou outras candidaturas como a da ex-líder do PSD, Joana Barata Lopes, e mesmo Luís Newton — que nunca terá tido intenção de se candidatar, embora tenha dado uma entrevista dúbia ao Público.

Um dia antes de Paulo Ribeiro, na quarta-feira, a antiga candidata a vereadora assumiu também ser candidata à concelhia de Lisboa. Sofia Vala Rocha provocou a ira de vários setores do PSD ao ter dito no último dia de campanha das últimas autárquicas, em entrevista ao DN, que “Passos matou o PSD/Lisboa” ao ter escolhido Leal Coelho. Sofia Vala Rocha — que o Observador tentou sem êxito contactar — assumiu a candidatura através de um tweet.

A candidatura de Sofia Vala Rocha foi uma surpresa, ao contrário de Paulo Ribeiro que anda há várias semanas a fazer contactos no PSD/Lisboa no sentido de avançar para uma candidatura à concelhia.

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Do lado de Gonçalves, tudo indica que irá avançar o próprio líder de fação, Rodrigo Gonçalves, um dos maiores caciques do PSD/Lisboa. Ao que o Observador apurou, Rodrigo Gonçalves, que não quis fazer comentários ao Observador, deverá anunciar a sua candidatura depois do Natal. À partida, Rodrigo Gonçalves parte na pole position, pois tem uma base entre 700 a 900 votos fiéis — muito à custa de esquemas de cacique já relatados pelo Observador –, sendo muito difícil tirar a concelhia ao homem que controla um dos três núcleos da concelhia: o Central. Em julho, a concelhia tinha 6.692 militantes ativos, mas votaram apenas 1.440.

Rodrigo Gonçalves deu uma demonstração de força na lista de delegados de Lisboa para a Assembleia Distrital, nas eleições de julho para a distrital. O passismo venceu em toda a linha, no distrito, em todas as concelhias, menos onde Gonçalves impôs a sua lei: na lista de delegados de Lisboa. A lista que apoiou, liderada por Morais Sarmento, conseguiu 800 votos, contra apenas 597 da lista encabeçada por Marina Ferreira (apoiada pela fação Carreiras-Pinto-Newton). É muito difícil virar o jogo em Lisboa, que tem uma aritmética muito peculiar.

O PSD/Lisboa está divido em três núcleos: o Central, liderado pela fação da família Gonçalves, que tem militantes e uma capacidade mobilizadora maior; o Oriental, presidido por Paulo Quadrado; e o Ocidental, controlado pela fação de Luís Newton e de Sérgio Azevedo, que tem na sua área de influência as juntas da Estrela e de Santo António, por exemplo.

Por razões históricas, o PSD em Lisboa tinha secções sem a existência de uma concelhia. Desde a fundação do partido e até 2011, havia nove secções do PSD espalhadas pela capital, da letra A à H, incluindo depois a secção Oriental. Acima destas, estava a poderosa distrital de Lisboa. Em 2011, fundiram-se as secções e foram criados três grandes núcleos. Os dirigentes dos núcleos lisboetas mantêm um controlo dos seus votos e é isso que lhes vai garantindo o poder. Depois de Rodrigo Gonçalves ser o líder da histórica secção A, quando esta foi convertida em Núcleo Central, o presidente passou a ser Daniel Gonçalves, pai de Rodrigo Gonçalves. Desde junho de 2015, porém, a liderança do Núcleo passou para Pedro Reis, amigo de Rodrigo Gonçalves.

As eleições vão ser a 13 de janeiro, mas esta sexta-feira foi o último dia para pagamento de quotas. As manobras de cacique, que o Observador antecipava a 22 de novembro, já começaram. O pagamento de quotas, as chamadas telefónicas e as promessas de lugares já começaram. Quer no lado de Paulo Ribeiro (afeto a Santana Lopes), quer no lado de Gonçalves (afeto a Rui Rio). Sofia Vala Rocha é uma candidata a quem não são conhecidas tropas.