O cantor Diogo Piçarra está sob fogo depois de terem surgido acusações de que poderá ter plagiado o tema “Canção do Fim”, que levou este domingo ao palco da segunda semi-final do Festival da Canção, de um cântico evangélico da Igreja Universal do Reino de Deus.

O músico já veio negar a acusação, garantindo que não conhecia a música do movimento religioso e que não tinha nenhuma intenção de a copiar. Mas as semelhanças são tão evidentes que o maestro António Victorino d’Almeida, citado pelo DN, afirmou: “Não é um plágio, é igual”.

[Veja o vídeo que compara as duas músicas]

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[“Achava que tinha uma ideia brilhante”. Neste vídeo veja a primeira reacção de Diogo Piçarra numa entrevista ao Observador]

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Desde que há música gravada, há relatos de dezenas de casos de plágio, mais ou menos conhecidos, mais ou menos evidentes. Uns chegaram a tribunal, outros foram resolvidos em acordos amigáveis, e outros não passaram de suspeitas nas redes sociais. Lembramos 11 casos famosos de plágio.

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Diogo Piçarra reage a críticas que comparam música do Festival da Canção a uma da IURD

Tony Carreira vs. 11 autores estrangeiros

É o caso recente mais mediático em Portugal: em setembro do ano passado, Tony Carreira foi formalmente acusado pelo Ministério Público de ter plagiado onze canções, todas elas de autores estrangeiros.

Entre as músicas plagiadas encontram-se grandes êxitos do cantor como “Sonhos de menino”, “Depois de ti mais nada”, “Esta falta de ti”, “Leva-me ao céu” ou “Se acordo e tu não está”.

[Compare aqui as músicas que Tony Carreira é acusado de plagiar]

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A queixa foi apresentada pela Companhia Nacional de Música, com quem, a 27 de novembro, o cantor chegou a um acordo em tribunal: Tony Carreira iria entregar 10 mil euros à Câmara Municipal da Pampilhosa da Serra, para apoio aos danos causados pelos incêndios, e mais 10 mil euros à Associação das Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande; em troca, o processo seria suspenso durante quatro meses.

O acordo, contudo, ficou sem efeito este mês, depois de problemas em tribunal com a representação legal da Companhia Nacional de Música — o advogado que representava a CNM renunciou à procuração antes de o acordo estar assinado.

Tony Carreira mantém-se disponível para chegar a acordo, recusando porém pagar qualquer valor à CNM, que no seu entender não tem direito a ser ressarcida “de nada, por esta não ser parte interessada, nem representar qualquer parte interessada”.

Beatles vs. Chuck Berry

O êxito “Come Together”, composto por John Lennon, será um plágio do tema “You Can’t Catch Me”, de Chuck Berry. Aliás, Lennon acabou mesmo por admitir que a música foi inspirada em “You Can’t Catch Me”, e chegou a um acordo com a editora de Berry,  comprometendo-se a gravar outras canções do artista.

Como o Observador lembra aqui, em 1975, John Lennon editou o álbum Rock’n’Roll em que cumpriu o acordado. Mesmo assim, a editora processou-o por plágio.

Em sua defesa, Lennon disse: “Sim, era eu a compor sobre um velho tema de Chuck Berry. Apesar de não ser nada como a canção de Chuck Berry, levaram-me a julgamento porque o admiti uma vez há anos. Deixei uma linha da letra igual, que poderia ter mudado por outra. A canção continua a ser minha, independentemente de Chuck Berry ou qualquer outra pessoa no mundo.”

Radiohead vs. The Hollies vs. Lana del Rey

Em janeiro, os Radiohead processaram Lana del Rey considerando que “Get Free”, da cantora americana, era um plágio do seu maior êxito, “Creep”. A própria cantora confirmou a acusação.

“É verdade. Apesar de eu saber que a minha canção não foi inspirada em Creep, os Radiohead acreditam que foi e querem 100% dos direitos de publishing — eu ofereci até 40 ao longo dos últimos meses, mas eles só aceitam 100. Os seus advogados têm sido inflexíveis, portanto vamos tratar do assunto em tribunal”, disse Lana del Rey.

Mas a polémica em torno de “Creep” não começou ali. É que já circulavam as acusações de que os próprios Radiohead tinham roubado a melodia à “The Air That I Breathe”, dos The Hollies.

Robin Thicke vs. Marvin Gaye

A música “Blurred Lines” de Robin Thicke foi a mais popular do verão de 2013, tendo vendido mais de sete milhões de cópias e rendido milhões de dólares ao autor. Mas a família de Marvin Gaye processou Thicke por ter copiado a música ao tema “Got to Give It Up”, do músico, que morreu em 1984.

Os filhos de Gaye levaram Thicke a tribunal e o juiz decidiu que efetivamente a canção não era original, mas sim uma cópia, condenando Thicke a indemnizar os herdeiros de Gaye em 7,4 milhões de dólares (cerca de 6,8 milhões de euros).

Michael Jackson vs. Donna Summer

Um dos casos mais recentes envolveu o rei da pop. Este mês, o compositor e produtor discográfico Quincy Jones, responsável pelos maiores sucessos de Michael Jackson, acusou-o de ter plagiado várias das suas canções, entre as quais a famosa “Billie Jean”.

“Não gosto de o dizer publicamente, mas Michael roubou muita coisa, ele roubou muitas canções”, declarou o produtor de 84 anos, que participou na criação dos lendários álbuns “Thriller” e “Bad”.

“Ele era tão maquiavélico como é possível ser-se”, acrescentou, numa entrevista concedida ao ‘site’ Vulture, apontando o dedo às semelhanças entre “Billie Jean”, cuja produção assegurou, e a canção “State of Independence”, da rainha da ‘Disco’ Donna Summer, igualmente produzida por Quincy Jones e lançada alguns meses antes — apesar de as semelhanças não serem evidentes.

Coldplay vs. Joe Satriani

“Viva la Vida” é um dos grandes êxitos dos Coldplay, mas poderá na verdade ser baseada num plágio de uma composição do guitarrista Joe Satriani, “If I Could Fly”. As semelhanças são evidentes entre o refrão da música dos Coldplay e o riff principal do tema de Satriani.

Nesta polémica, entrou também Yusuf Islam (que antigamente dava pelo nome de Cat Stevens), que alegou que ambas as músicas eram semelhantes à sua “Foreigner Suite”. E mais tarde ainda, um professor de música concluiu que as três eram semelhantes ao tema Se tu m’ami, do compositor italiano Giovanni Battista Pergolesi, que tinha morrido em 1736.

Oasis vs. T. Rex

A música “Cigarettes & Alcohol”, dos Oasis, ou pelo menos o riff  principal, será um plágio de “Get It On”, dos T. Rex.

Ouça a original:

Credence Clearwater Revival vs. Little Richard

“Travelin’ Band”, um dos grandes êxitos dos Credence Clearwater Revival, poderá ser plágio de “Good Golly, Miss Molly”, de Little Richard.

O líder da banda, John Fogerty, conseguiu um acordo fora dos tribunais, desculpando-se e dizendo que foi “um plágio acidental”.

Esta não foi a primeira vez que Fogerty foi processado por plágio. A primeira vez tinha sido por, em “Run Through the Jungle”, ter alegadamente copiado “The Old Man Down the Road”, composta… por si próprio.

George Harrison vs. The Chiffons

Um dos maiores êxitos da carreira a solo do ex-Beatle George Harrison, “My Sweet Lord”, poderá também ter sido copiado. Aliás, o próprio Harrison admitiu ter copiado de forma inconsciente e sem intenção o tema “He’s So Fine”, das americanas The Chiffons.

O próprio juiz que julgou o caso considerou as músicas iguais. Ouça a música das The Chiffons e compare.

Rihanna vs. Just Britanny

A cantora Rihanna também é acusada de ter plagiado uma das suas canções — “Bitch Better Have My Money”.

A música em causa é da rapper Just Brittany, com o título semelhante “Betta Have My Money”.

https://www.youtube.com/watch?v=lLICs5p-SxY

Rádio Macau vs. The Cure

Até a letra de “O Anzol”, dos portugueses Rádio Macau, indicia que pode estar ali qualquer coisa de pouco original: “Ai eu já pensei mandar pintar o céu/Em tons de azul, pra ser original/Só depois notei que azul já ele é/Houve alguém que teve ideia igual/Eu não sei se hei-de fugir/Ou morder o anzol/Já não há nada de novo aqui/Debaixo do sol”.

Talvez alguém já tivesse tido ideia igual. Neste caso, os The Cure, com “Just Like Heaven”. As semelhanças são notórias. Mas, como se nota neste artigo do Observador, “‘O anzol’, como as restantes músicas de O Elevador da Glória, foi gravado em Setembro de 1987 e Kiss me, kiss me, kiss me, o álbum que inclui ‘Just like heaven’, saiu no início de Outubro desse ano – é muito improvável que qualquer das bandas tivesse tido conhecimento das canções da outra antes de gravar o seu próprio álbum, pelo que as semelhanças serão apenas fruto do Zeitgeist – a estética pop/pós-punk dos anos 80 tem as suas formatações e convenções e é possível que duas (ou mais) bandas possam chegar, independentemente, à mesma solução”.