A Revolut, a empresa tecnológica que oferece serviços bancários no Espaço Económico Europeu, tem 33 mil clientes em Portugal, apesar de não ter presença física no território nacional, revelou Pablo Viguera, diretor-geral da companhia para a Península Ibérica, ao Observador.
Para avançar na expansão portuguesa, Viguera não descarta a adesão à rede Multibanco. “Vamos tentar personalizar a experiência [em Portugal], o que poderá passar pela integração do Multibanco. Tipicamente, não temos [cartões] Maestro, mas lançámo-los só na Alemanha, porque são muito importantes lá”, conta o responsável, que está agora à procura de um líder para o negócio em Portugal.
As soluções da Revolut giram em torno de uma conta de pagamentos e de um cartão de débito que fornecem aos clientes, ambos geridos através de uma aplicação móvel. A Revolut é muito usada, sobretudo, por quem viaja muito, já que a aplicação funciona com pré-carregamento (top up) e permite, depois, a conversão instantânea e gratuita de uma moeda para outra, entre 25 moedas mundiais, com a taxa real daquele momento, sem “acréscimos” ou comissões. Com o cartão Revolut é, também, possível levantar até 200 euros por mês nos caixas automáticos dos países, sem custos.
Todavia, em Portugal, o cartão só é aceite em caixas automáticos e terminais de pagamento que tenham disponível a rede Mastercard ou Visa. Isto quer dizer que os titulares do cartão Revolut não conseguem usá-lo num comerciante nacional que aceite apenas cartões da rede Multibanco. Um pagamento pela rede Multibanco pode custar menos de metade aos comerciantes nacionais do que um pagamento pela rede Mastercard ou Visa.
“Os comerciantes que mais aparecem nas transações com cartões Revolut são a Uber e a Amazon do Reino Unido”, revela Pablo Viguera. O responsável explica que a ideia de contratar um “ponta de lança” da Revolut para Portugal é, também, para isso: para compreender melhor as características do mercado português e ajudar à expansão da empresa — que é a prioridade da Revolut, a nível mundial, em 2018. Depois da Europa, a companhia está prestes a avançar para os Estados Unidos da América, Singapura e os Emirados Árabes Unidos.
Meio milhão de pessoas usam Revolut todos os dias
A Revolut conta com 1,6 milhões de clientes em todo o mundo, dos quais um milhão faz transações pelo menos uma vez por mês e cerca de meio milhão todos os dias. Desde novembro passado, o número total de clientes subiu 60%, em parte graças à introdução da funcionalidade de transação de criptomoedas.
A maioria dos clientes são particulares do serviço básico, que inclui, sem custos, conversões cambiais (até cinco mil euros mensais), transferências interbancárias em 25 divisas e levantamentos em caixas automáticos até 200 euros por mês, além da conta de pagamentos em euros ou libras esterlinas. Os levantamentos além dos 200 euros mensais são alvo de uma comissão de 2% sobre o montante. O cartão de débito custa seis euros. Desde a passada quinta-feira, dia 15, também é possível constituir débitos diretos.
Entre 8% e 9% dos clientes optam pela conta Premium, que custa 6,99 libras por mês (cerca de 7,90 euros). Essa opção duplica os levantamentos gratuitos (para 400 euros por mês), acrescenta um volume de conversões cambiais ilimitado, cartão de débito e seguro médico internacional. Em Portugal, cerca de 7% dos clientes da Revolut são Premium, segundo Pablo Viguera.
A Revolut tem, também, cerca de 16 mil clientes empresariais na Europa. Todos os dias, estreiam-se 40 a 50 empresas na Revolut.
O saldo da conta Revolut pode ser carregado através de uma transferência interbancária, por pagamento via cartão de débito ou de crédito ou usando Apple Pay ou Google Pay. “Os depósitos dos clientes não estão diretamente no nosso balanço. Estão em dois bancos líderes do Reino Unido, o Lloyd’s e o Barclays”, diz Pablo Viguera, que acrescenta que, por isso, o capital está garantido.
A Revolut está no processo de obter licença bancária no Reino Unido e na Lituânia (válida para operar na maioria da Europa), o que lhe dará a possibilidade de fornecer soluções reservadas aos bancos, como pagar juros nos depósitos e conceder crédito.
“Dentro de seis meses, deveremos oferecer depósitos e crédito“, indica Viguera. Todavia, os clientes britânicos da Revolut que necessitem de um empréstimo pessoal já podem recorrer a financiamento colaborativo. São outros consumidores britânicos que emprestam, usando a infraestrutura da LendingWorks, uma plataforma especializada nessa solução. Em Portugal, poderão vir a oferecer crédito diretamente do balanço da Revolut (assim que tiverem licença bancária) ou assinar uma parceria com uma plataforma local, como no Reino Unido, diz o diretor-geral da companhia.
“O nosso objetivo é ser ‘o teu banco local global’, isto é, uma experiência bancária local completa mas com o benefício de poder levar essa experiência para qualquer parte do mundo”, conta Pablo Viguera. Depois da negociação de criptodivisas (em que cobram 1,5% sobre os montantes negociados), a Revolut está prestes a lançar novas soluções. O “Wealth”, desenvolvido em parceria com a ETFmatic, a primeira gestora robótica de ativos registada em Portugal, deverá ser uma das novas ferramentas na aplicação: permitirá investir automaticamente o património dos clientes. Em dezembro passado, Luis Rivera, o fundador da ETFmatic, disse ao Observador que havia mais de um milhão de pessoas à espera dessa solução.
Embora queiram ser a solução para a maioria das pessoas, a Revolut tem penetrado essencialmente na geração dos 18 aos 23 anos — “que nunca interagiram com um banco e que querem uma experiência superfácil, como no WhatsApp e no Instagram”, explica Viguera — e nos viajantes, que movimentam dinheiro em diversas divisas, ou consumidores com estilos de vida internacionais.
Como é que a Revolut faz dinheiro?
Pablo Vigueras garante que a Revolut não aplica qualquer margem na conversão cambial, ao contrário do que faz a maioria dos bancos. Em junho passado, quando o Observador comparou as taxas de câmbio da Revolut com as da Mastercard e da Visa, confirmou que, em 56% dos casos, a Revolut tem um câmbio mais favorável.
“A maioria do dinheiro que ganhamos é na subscrição Premium e na taxa de serviço aos comerciantes”, que é partilhada com a Visa e a Mastercard, revela o diretor-geral. “Nos últimos três meses, também tivemos uma receita substancial de negociação de criptodivisas”, acrescenta.
Além disso, a empresa também fatura com as comissões cobradas quando os levantamentos excedem o máximo gratuito e com outros itens como uma fração das vendas de seguros de saúde internacionais que são oferecidos na conta Premium.
As operações da Revolut ainda são deficitárias, como é comum nas empresas mais recentes. Mas a companhia já teve dois meses consecutivos em que as receitas ultrapassaram os custos, dezembro de 2017 e o último mês de janeiro. A Revolut foi criada em 2015 e trabalham na empresa cerca de 300 pessoas (eram metade no verão passado).
Na sua última ronda de financiamento, no verão de 2017, a Revolut foi avaliada em 309 milhões de euros. A operação incluiu a maior campanha do ano na Seedrs, a plataforma luso-britânica de financiamento colaborativo. Entre os maiores acionistas da Revolut estão a Index Ventures, a TriplePoint Capital e a Balderton Capital.