Pedro Santana Lopes diz que não dá explicações a ninguém sobre os seus comentários políticos e contraria a versão da conversa entre ambos divulgada na manhã desta quinta-feira por Rui Rio sobre a “inauguração da liderança” do partido. “Foi ele que me ligou ontem ao meio-dia, num telefonema simpático”, revela Santana ao Observador. “Eu tinha uma chamada não atendida dele. Mas já não fui a tempo, liguei em seguida e tivemos uma conversa cordial, como sempre”. Segundo Santana, o líder do PSD telefonou-lhe para dizer que concordava com as críticas feitas por si no comentário aos membros da direção do partido que, nos jornais, pressionaram a demissão de Feliciano Barreiras Duarte. Mas desmente que, durante a conversa, tivesse dito que inaugurar a liderança era uma referência à oposição interna.

Disse-lhe que esperava agora que ele criasse as condições para começar a fazer o trabalho de oposição que os militantes esperam. Não falei em oposição interna. Disse: ‘Espero que possas começar a fazer o trabalho que queres fazer, que inaugures a liderança. Agora tens condições para começares a trabalhar’. Deve ter havido uma má interpretação qualquer das palavras”.

Na manhã desta quinta-feira, em Bruxelas, antes de entrar para a cimeira do PPE, Rui Rio foi confrontado pelos jornalistas com o comentário de Santana sobre a necessidade de o presidente do partido “inaugurar a liderança” do PSD e respondeu:

A crítica não era exatamente para a direção nacional. É para quem internamente está mais apostado em destruir do que a ajudar a construir. Interpretei assim e o próprio já teve a oportunidade de me explicar que era essa a ideia que queria transmitir”, revelou Rui Rio.

“Não gosto nada de estar a revelar conversas pessoais, não ia contar a conversa, mas foi Rui Rio quem falou primeiro. Não tenho nenhum gosto especial nisso, mas não telefonei a ninguém. Além disso, não dou explicações sobre o que digo nos meus comentários“, afirma Santana ao Observador.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Segundo Santana Lopes, Rio não ligou apenas para concordar com as críticas feitas aos membros da direção do PSD que o pressionaram em off, através dos jornais, a demitir Feliciano Barreiras Duarte. Terá dado também outra justificação. “Também me disse que não tinha sido ele a passar essas informações à comunicação social”, esclarece Santana Lopes. “E eu respondi: ‘O teu vice-presidente Castro Almeida disse isso numa entrevista à Antena1”.

Na terça-feira à noite, Santana Lopes tinha dito que não apreciou a forma como Rui Rio geriu a saída do secretário-geral, criticando os sucessivos recados nos jornais: “Não gostei de ver a maneira como Barreiras foi convidado a sair do partido”, porque havia maneira de resolver a situação com uma “conversa direta e frontal”.

Rui Rio em Bruxelas. Caso Feliciano foi “um massacre, um exagero”

Há dois dias, no seu comentário da SIC,  Santana Lopes considerou também que Rio não tem conseguido lidar com as polémicas e que estava agora na altura de “inaugurar a liderança do partido”. O ex-candidato à liderança foi muito crítico da forma como o novo presidente do partido lidou com a crise Feliciano, achou que Rio foi lento na reação, considerou que o assunto devia ter sido “resolvido antes” e afirmou esperar que o “alerta laranja” passasse no PSD, “à medida que também tem passado nas condições atmosféricas no país”.

Barreiras Duarte mostrou alguma resistência à saída do partido e, em certa medida, compreendo e não achei que fosse justo, mas também não o ouvi a pedir desculpa, apenas o ouvi a insistir na tese da cabala montada contra ele”, referiu Santana no seu comentário.

“O PSD que existe neste momento devia ser o de preparar uma alternativa ao governo socialista, mas o partido está inquieto”, afirmou ainda o comentador. A análise de Santana foi muito dura, o que prenuncia um Conselho Nacional quente no próximo dia 28 de março. “Com a notícia de que o PSD preferia não apostar tanto nas legislativas de 2019, mas sim preparar-se para as autárquicas de 2021 é ir contra a natureza do partido”, afirmou. Para Santana, qualquer partido deve querer ganhar “todas as eleições”.

Santana Lopes: “Está na hora de Rui Rio inaugurar a liderança do partido”