O Presidente da República defende que a recuperação económica em Portugal foi um “milagre a dois tempos”, um “milagre” que não começou em 2015 ou 2016 mas, sim, no tempo do governo anterior, liderado por Passos Coelho. De quem é o mérito, então? “Dos portugueses, que souberam sofrer sacrifícios muitos pesados”, responde.
Em entrevista ao jornal espanhol La Voz de Galicia, Marcelo comenta as notícias recentes sobre a economia portuguesa lembrando que houve um “primeiro tempo, a primeira fase do milagre, que foi o período crítico em que os portugueses souberam sofrer sacrifícios muito pesados sem os quais não teria sido possível a segunda fase do milagre”.
Houve “mérito, há que dizê-lo, do governo anterior, do dr. Pedro Passos Coelho. O milagre começou aí”, atira Marcelo Rebelo de Sousa. Mas houve, então, uma “segunda fase do milagre, que foi quando com o novo governo — com uma composição oposta da anterior e apoiado por partidos que tinham uma posição muito crítica das políticas anteriores — se receou que pudesse romper com a recuperação das finanças públicas, isso não aconteceu”.
“Houve essa determinação — o que é mérito do primeiro-ministro, António Costa, e do seu governo; é mérito dos partidos que apoiaram o governo. Eu diria que foi um sinal de grande maturidade política”, remata o Presidente da República.
Na entrevista, o chefe de Estado assume que a sua relação com António Costa “foi sempre boa e igual”.
“Em primeiro lugar, porque defendo que o Presidente deve dar-se bem com o primeiro-ministro, com os órgãos de soberania e com os partidos políticos. Estou permanentemente em contacto com o chefe do Governo, não só nas audiências semanais, em bons e maus momentos, como foi o caso das tragédias dos incêndios. Além disso, conhecemo-nos muito bem há décadas, já que ele foi meu aluno na Faculdade de Direito de Lisboa”, recordou.
O chefe de Estado português mostra a sua satisfação por o executivo de Costa ter convencido a União Europeia e os mercados e continuar estável a pouco mais de um ano das eleições legislativas.
“É uma satisfação que esse Governo, no qual ninguém acreditava internacionalmente, tenha convencido Bruxelas, os mercados e continue estável a um ano e poucos meses de acabar a legislatura”, assume o Presidente, para quem o “ponto de inflexão” foi o “início de 2017”.
Marcelo congratula-se também pela solidez do sistema político, tanto à esquerda como à direita.
“Temos um sistema político forte à esquerda e à direita, que oferece alternativas aos portugueses e evita o surgimento de populismos”, sublinha.
Congratula-se também por ter “desaparecido a crispação entre a esquerda e a direita” que surgiu após a eleições de 2015, ganhas por Passos Coelho, mas que não conseguiu formar Governo, dando lugar ao executivo socialista apoiado pelo PCP e BE.
Na entrevista, Marcelo Rebelo de Sousa salienta que a visita de Estado que fará a Espanha entre 16 e 18 deste mês será “muito importante”.
“Não foi por acaso que o rei de Espanha foi meu convidado especial na tomada de posse. Isso permitiu criar uma aproximação que corresponde à excelência atual das relações políticas entre o reino de Espanha e Portugal”, frisa.
O Presidente português lembra a visita dos reis de Espanha a Portugal, que foi “um grande sucesso”, e classifica o estado atual das relações bilaterais assinalando a “grande proximidade não intelectual e emotiva” e o “fenómeno espantoso de complementaridade e de colaboração constante”