“Indignas” e “miseráveis”. Foi assim que o presidente do Centro Hospitalar de S. João, no Porto, se referiu às instalações onde são tratadas crianças com cancro na unidade de saúde que dirige. No imediato, lamenta que as verbas da nova ala pediátria — paradas há dois anos — ainda não tenham sido desbloquedas. António Oliveira e Silva falava aos jornalistas, reagindo à notícia do JN que dá conta de que há crianças a fazer quimioterapia nos corredores do São João.

“Há um protocolo assinado, temos um projeto pronto para entrar em execução e não temos o dinheiro libertado que torne possível a execução desse projeto”, afirmou o o presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar de S. João.

A 1 de Junho de 2017, o documento foi assinado  entre o centro hospitalar, a Administração Central do Sistema de Saúde e a Administração Regional de Saúde do Norte. Mas a verba continua por desbloquear.

Já depois de publicada a reportagem com denúncias das famílias das crianças doentes, o Ministério da Saúde adiantou ao JN que os valores iriam ser disponibilizados em breve. Mas essa afirmação não sossega Oliveira e Silva, que diz já ter lido essa resposta “há mais de três meses”. E enquanto o dinheiro não chega, garante que todas as obras que não dependem dessa verba estão a avançar.

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“Estamos a aguardar que sejam desbloqueadas. Mas posso dizer que em tudo onde que não sejam precisas essas verbas estão a ser feitas coisas. A 15 de Junho vai ser disponibilizado um centro de ambulatório novo e foram montados quartos de isolamento naquele internamento, que continuo a classificar como indigno. O que precisamos é que sejam desbloqueadas as verbas já prometidas pela tutela e que ainda não estão ao nosso dispor”, afirmou Oliveira e Silva.

A falta de condições em que as crianças com cancro estão a ser tratadas no Hospital de São João estende-se à unidade Joãozinho — para onde os menores são encaminhadas quando têm de ser internados —, segundo a denúncia feita pelos pais dos doentes que relembram que há quase dez anos que a unidade Joãozinho funciona em contentores, fora do edifício central.

Embora denunciem e se queixem das condições em que os seus filhos recebem tratamentos, os pais são unânimes em aplaudir o comportamento dos profissionais de saúde que, segundo dizem ao JN, tudo fazem para dar o melhor tratamento às crianças.

Hospital de São João. Crianças fazem quimioterapia nos corredores

António Oliveira e Silva — que argumenta que só em casos muitos excecionais e por falta de espaço é que terá havido tratamentos de quimioterapia feitos no corredor — diz estar disponível para falar com os pais, sempre que for necessário.

“Isto pode soar como um sacudir de água do capote de uma entidade para outra, mas o que relembro é que temos um protocolo assinado desde o ano passado, um projecto pronto para entrar em execução e não termos a verba libertada para o projecto entrar em execução“, diz o presidente do Conselho de Administração, estimando que o valor necessário para os melhoramentos rondará os 22 milhões de euros.

“Tudo o que seja possível melhorar vamos fazer de forma imediata”, garantiu António Oliveira e Silva.