“O governo de esquerda está a ter sucesso, em parte, porque não é especialmente de esquerda”. Esta é uma das principais conclusões de um artigo de análise publicado na revista The Economist, que partiu de uma entrevista com o primeiro-ministro, António Costa. Se os partidos socialistas europeus, quase todos em dificuldades, quiserem perceber porque é que a “geringonça” se mantém e porque é que Costa tem sondagens “invejáveis”, podem procurar “inspiração” no governo PS — mas “ideias” não há muitas, “terão de ir procurá-las a outro lugar”.

A revista económica, uma das mais lidas por políticos, empresários e investidores de todo o mundo, escreve que “para já, o Governo está concentrado no défice e na dívida, e não em investimento ou serviços públicos. Um governo de centro-direita estaria a fazer mais ou menos a mesma coisa”.

Foi, em grande parte, graças a “uma boa dose de ótima sorte” que António Costa conseguiu estabelecer-se no Governo, apesar da derrota nas eleições. O Governo entrou em funções precisamente na altura em que “a retoma estava a descolar, graças ao crescimento nos mercados europeus que recebem 70% das suas exportações, e partindo das medidas tomadas pelo governo anterior”.

Por outro lado, o BCE manteve os mercados calmos com as medidas de estímulo e o turismo “explodiu, graças à instabilidade nos outros países com clima ameno”. E, finalmente, “o tema da imigração, que está a destruir tantos partidos de esquerda na Europa, não perturba os eleitores portugueses”.

A chave para a estratégia de António Costa está a ser governar com o apoio da extrema-esquerda, que o apoia “a troco de cedências modestas ao nível das políticas”, como o aumento do salário mínimo e a interrupção de privatizações. Mas ao mesmo tempo que manteve o rumo de consolidação das contas públicas, diz a The Economist, o governo de António Costa “cortou, com um machado, no investimento público — que em 2016 foi o mais baixo de toda a União Europeia”.

No fundo, “o governo de esquerda está a ter sucesso porque não está a ter políticas que sejam, particularmente, de esquerda”, conclui a revista. Mas, a julgar pelas declarações de António Costa, não está fora de questão que volte a haver um governo apoiado numa maioria de esquerda. “Porque não”, diz António Costa.

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