A noite de quarta-feira e a madrugada que se seguiu foram marcadas por uma intensa troca de agressões entre o Irão e Israel. Os embates entre os dois países aconteceram em redor da Síria, em cuja guerra o Irão participa ativamente no terreno e Israel apenas a partir dentro do seu território ou em ataques aéreos. “Se nós tivermos chuva, eles vão ter tempestades”, avisou o ministro da Defesa de Israel, Avigdor Lieberman, numa conferência de imprensa esta quinta-feira de manhã.
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O golpe inicial partiu do exército iraniano, que pela primeira vez atingiu alvos israelitas a partir da Síria. Pouco depois das 00h00 locais (22h00 de Lisboa) atacou posições israelitas nos montes Golã (território disputado na fronteira entre Israel e a Síria) com aquilo que Israel disse serem 20 rockets.
Apesar de não ter havido feridos entre os israelitas, estes não hesitaram em ripostar com o que está a ser descrito como o maior ataque israelita na Síria nas últimas décadas. Já na manhã de quinta-feira, o ministro da Defesa de Israel disse que Israel atingiu “quase todas as infrastruturas iranianas na Síria”.
A guerra de todos onde ninguém ganha. Quais são os países que lutam na Síria?
Num comunicado de imprensa do IDF, é explicado que a retaliação israelita em solo sírio atingiu escritórios de informação iranianos, um centro logístico, bases e postos militares e também armazéns de munições. Além dos alvos iranianos, Israel atingiu também cinco sistemas de defesa aérea da Síria, todos de fabrico soviético. Segundo o IDF, os aviões utilizados para esta missão voltaram em segurança a solo israelita.
No mesmo documento, é dito que a “agressão iraniana é mais uma prova que por trás da implementação do regime iraniano na Síria está a intenção de ameaçar Israel e a estabilidade regional”.
The IDF has struck dozens of Iranian military targets in Syria in response to the Iranian rocket attack against Israel. Quds force is behind attack and has played the initial price. IDF remains ready for various scenarios but does not seek to escalate the situation. pic.twitter.com/4rC8gHK2LG
— LTC (S.) Nadav Shoshani (@LTC_Shoshani) May 10, 2018
Momentos antes de retaliar contra as posições iranianas na Síria, Israel emitiu um aviso para a Rússia a alertar para o ataque. Na manhã desta quinta-feira, o Ministério da Defesa da Rússia afirmou que o ataque israelita foi feito com 28 aviões (F-15 e F-16) e que o “sistema de defesa aérea da Síria abateu mais de metade dos rockets“.
A Rússia é aliada do Irão e do regime de Bashar al-Assad na guerra na Síria. Porém, em todos os ataques que levou a cabo a propósito daquela guerra, Israel nunca atingiu posições russas. Atualmente, Israel e Rússia mantêm relações diplomaticamente cordiais — tanto que, esta quarta-feira, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, esteve em Moscovo numa visita oficial. Além de ter tido uma reunião com o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, assistiu à cerimónia anual de celebração da vitória dos Aliados contra a Alemanha Nazi.
Os EUA reagiram ao ataque iraniano, com uma nota de repúdio contra Teerão e de apoio a Israel. “Os EUA condenam o regime iraniano pelos ataques provocatórios com rockets da Síria contra cidadãos israelitas, e apoiamos fortemente o direito de Israel agir em defesa própria”, lê-se numa tweet da conta oficial da Casa Branca.
The U.S. condemns the Iranian regime’s provocative rocket attacks from Syria against Israeli citizens, and we strongly support Israel’s right to act in self-defense.
— The White House 45 Archived (@WhiteHouse45) May 10, 2018
Até às 15h00 de Lisboa, não havia notícias de qualquer reação por parte do governo do Irão à resposta militar de Israel. Além disso, Teerão também não confirma o ataque que Israel refere como razão da sua retaliação.
Ataque surge em contexto de forte tensão entre Israel e Irão
O ataque ocorre num contexto de forte tensão entre israelitas e iranianos, após várias operações atribuídas ao exército israelita contra os interesses iranianos na Síria.
Um ataque na terça-feira à noite com mísseis “provavelmente israelitas” perto de Damasco matou 15 combatentes estrangeiros pró-regime, entre os quais oito iranianos, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, que indicou que o alvo foi um depósito de armas alegadamente pertencente aos Guardas da Revolução do Irão, força de elite do regime.
Antes, o exército israelita tinha informado que Israel se encontrava em “alerta máximo” face ao risco de um ataque na zona dos montes Golã — território sírio ocupado e anexado pelo Estado hebreu –, “após identificar atividade irregular das forças iranianas na Síria”.
O ataque do Irão de quarta-feira à noite foi o primeiro ataque direto dos iranianos contra o exército israelita. Além disso, acontece um dia depois de o presidente Trump ter abandonado o acordo nuclear com o Irão, uma decisão apoiada pela Arábia Saudita e Israel, cujo primeiro-ministro denunciou que o governo iraniano não estava a cumprir o compromisso internacional. A denúncia não foi confirmada pela Agência Internacional de Energia Atómica.
Na segunda-feira, ainda antes de Donald Trump ter afastado os EUA do acordo nuclear com o Irão, o ministro da Energia de Israel, Yuval Steinitz, disse numa entrevista que “se o Presidente da Síria, Bashar al-Assad, continuar a permitir que os iranianos operem a partir da Síria, o fim dele e do seu regime chegarão”.