Quem se senta onde? O que vai ser servido para o brinde? Onde vai ser o encontro? Quem paga as despesas? Se pensávamos que havia muitas questões importantes e decisivas que determinavam a realização da inédita cimeira entre os EUA e a Coreia do Norte, não imaginávamos que, afinal, havia todo um outro nível de questões tão ou mais complicadas que é preciso acertar antes.
Sabe-se o dia: 12 de junho. Sabe-se o local (genericamente): Singapura. Conhecem-se os protagonistas: Donald Trump e Kim Jong-un. De resto, é preciso negociar todo e cada um dos detalhes do protocolo. Desengane-se, por isso, quem pensa que para duas pessoas se reunirem é apenas preciso uma sala com uma mesa e duas cadeiras. A uma semana da cimeira que vai pôr os EUA e a Coreia do Norte a debater o futuro do poder nuclear, o New York Times faz um balanço das questões que têm de ser acertadas até lá, e que vão desde a bebida que vai ser servida para o brinde, já que Trump não bebe álcool, até quem pagará as despesas da delegação norte-coreana.
Certo é que ir a Singapura é o mais longe a que Kim Jong-un já foi desde que, em 2011, assumiu as funções de líder da Coreia do Norte. E é também certo que ainda Trump não tinha dito que a cimeira se ia mesmo realizar — depois de uma série de avanços e recuos — e já duas delegações, uma da Casa Branca, e outra de Pyongyang, tinham chegado a Singapura para tratar de toda a logística que envolve a conferência do próximo dia 12: onde se vai realizar o encontro, de que lado da mesa cada um se vai sentar, quem vai poder entrar na sala, quantas refeições e quantas pausas vão ser permitidas, que bebida vai ser usada para o brinde, que prendas podem ser trocadas entre os dois líderes, e por aí fora.
Onde vai ser o encontro?
Não é comum os dois chefes de Estado terem reuniões bilaterais num terceiro país que não os seu ou o do seu interlocutor. Mas vai acontecer: o local escolhido foi Singapura, e a equipa norte-americana entende a escolha como vantajosa para Trump. “Kim Jong-sente-se mais desconfortável quanto mais longe estiver da península coreana, e isso vai funcionar como uma vantagem para Trump”, afirma ao New York Times Evans J. R. Revere, ex-diplomata norte-americano especialista em questões da Ásia.
O local exato da conferência é que ainda não está fechado. Há a opção de um hotel no centro da cidade, que tem sido o preferido dos anteriores presidentes norte-americanos quando vão a Singapura, mas há também a possibilidade de o encontro se realizar na ilha resort de Sentosa, muito procurada por turistas. E há ainda a possibilidade de a visita decorrer em diferentes locais, em vez de se centrar num só.
Quem vai pagar as despesas da delegação de Kim?
Não parece, mas é uma questão pertinente. Joe Hagin, um dos principais membros da delegação norte-americana encarregue destas questões logísticas, enquanto vice-chefe de gabinete da Casa Branca, tem estado em negociações com a delegação norte-coreana, chefiada por Kim Chang-son, e, segundo o Washington Post, a questão do pagamento das despesas tem sido central.
É que a Coreia do Norte é conhecida por instar os outros governos a pagar as suas despesas quando o chefe de Estado faz visitas oficiais ao estrangeiro. Não é que faça muitas viagens ao estrangeiro. Mas foi, por exemplo, o que aconteceu nos Jogos Olímpicos de Inverno em PyeongChang, onde foi a Coreia do Sul que pagou as despesas do hotel, de transporte e de refeições: foram cerca de 225 mil dólares, segundo o New York Times. Além disto, a Coreia do Sul ainda teve de pagar mais 121 mil dólares pela ida de uma delegação norte-coreana aos Jogos Paralímpicos.
O ministro da Defesa de Singapura já avançou que o governo da região estava disposto a pagar parte dos custos da delegação norte-coreana — mas não especificou quanto.
Quem se senta onde? Quem pode entrar na sala?
A questão de quem paga as despesas levanta uma outra: quem é de facto o anfitrião do evento. E esta não é uma questão menor, porque levanta outras ainda, desde quem vai decidir a ementa das refeições, até quem vai ser o primeiro a entrar na sala ou de que lado da mesa se senta cada um deles.
É que Donald Trump até pode ser bastante informal nas reuniões com líderes estrangeiros, mas diplomatas que já planearam encontros com delegações da Coreia do Norte têm recomendado cuidado na preparação, porque para Kim Jong-un todos os detalhes são analisados ao pormenor. O lado da mesa onde se senta é um deles. Tradicionalmente, a personalidade com maior status, dita ‘mais importante’, é a última a entrar na sala e senta-se no lado da mesa mais afastado da porta. Solução possível? Escolher uma sala com duas portas, e entrarem os dois ao mesmo tempo.
Com o que é que Trump e Kim vão brindar?
Não é só a ementa das refeições que vai ser estudada ao pormenor. O que os dois líderes vão beber no momento solene do brinde também está a atingir proporções de uma questão pertinente. Acontece que Donald Trump não bebe álcool, pelo que é preciso chegar a uma solução a meio caminho. Negociar, negociar, negociar. É o que as duas delegações vão passar a semana a fazer: o encontro que esteve para não acontecer vai mesmo acontecer já na próxima terça-feira, dia 12.