Nesta era do digital fala-se de tudo. E nunca antes o consumidor esteve tão consciente das suas compras – agora preocupa-se com o que coloca na pele, com a forma como as marcas trabalham, com os testes em animais e, claro, com o impacto que a indústria da beleza tem no planeta. Por altura do Dia da Terra, que se celebrou a 22 de Abril, a revista Forbes escrevia que hoje os consumidores, principalmente os mais jovens, estão a procurar companhias e marcas que façam mais do que simplesmente vender um bom produto. Sonika Malhotra, gestor de marca da Unilever, disse mesmo que hoje os consumidores esperam que as empresas sejam mais responsáveis e conscientes, que criem marcas que partilhem destes valores e que incentivem as pessoas a ter pequenos gestos que tornem o mundo um pouco mais bonito.

E nós por aqui também temos estado a fazer a nossa parte. Já escrevemos sobre os testes em animais, sobre as marcas que estão a apostar cada vez mais em fórmulas naturais e explicámos ao pormenor a diferença entre os cosméticos naturais, vegan e orgânicos. Mais do que informar, também procuramos inspirar e incentivar os leitores a fazer mudanças. Porque até a mais pequena mudança já vai ter algum significado.

Mas e no ambiente? De que forma a indústria da beleza usa o seu poder, os seus conhecimentos e o seu dinheiro para ter algum impacto no planeta e nos recursos que usam para poder produzir? Hoje, 5 de Junho, é Dia Mundial do Ambiente e o Observador falou com algumas das marcas que mais têm trabalhado ativamente nas questões ambientais para mostrar como as companhias podem – e devem – retribuir. Porque mais do que partilhar bons projetos que estão a mudar o mundo, esta é também uma forma de incentivar outras companhias a serem mais ativas e de informar os consumidores para onde vai uma parte do seu dinheiro quando compram os produtos destas marcas.

Caudalie e os 8 milhões de euros que já foram revertidos para projetos ambientais

A francesa Caudalie é uma das marcas que mais tem trabalhado de forma ativa nas questões ambientais. Desde 2012 que é membro da associação “1% for the Planet” onde reverte 1% da sua faturação anual mundial para Organizações Não Governamentais (ONG) dedicadas à proteção do ambiente e das espécies. Mas há mais: a marca também financia todos os anos novos projetos de reflorestação através de parceiros escrupulosamente escolhidos, como o PUR Projet ou o World Wide Fund for Nature. Este vídeo explica, em português, a missão ambiental da marca.

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https://www.youtube.com/watch?time_continue=89&v=oaZbvaQxlwc

Mathilde Thomas, fundadora da Caudalie, uma marca 100% natural, explicou ao Observador que, acima de tudo, pretende devolver à terra um pouco daquilo que a terra lhe dá. “O principal eixo do nosso apoio é o da reflorestação, para a qual intervimos em 8 países – França, Peru, China, Brasil, México, Estados Unidos da América, Tailândia e Alemanha. Este compromisso é essencial para nós, porque queremos ver as árvores a crescer, queremos ajudar as populações locais e sobretudo as mulheres e as crianças. Através da Fundação Caudalie comprometemo-nos em proteger a natureza mas também a valorizar o homem a longo prazo. A nossa maior recompensa é quando vemos comunidades que voltam a ter trabalho e melhores condições de vida. E isso tornou-se possível graças aos hectares de árvores que foram replantadas e a todos os serviços ecológicos e sociais que proporcionam”, partilha.

Até hoje, a Caudalie já plantou mais de quatro

milhões de árvores e a marca estima que, até 2020, vai chegar aos seis milhões. E a Fundação Caudalie também tem tido um grande impacto na ajuda às mulheres e crianças em dificuldades no mundo. Mathilde destaca o seu trabalho com a Epic Foundation que ajuda as crianças nomeadamente na Tailândia e no Vietname. Falando de forma muito prática, tudo isto se traduz em mais de oito milhões de euros que já foram revertidos pela Caudalie para apoiar todos estes projetos.

“Hoje em dia os consumidores têm a possibilidade de conjugar beleza com compromissos ecológicos. Os consumidores tornaram-se peritos, reclamam transparência e não se deixam enganar por produtos que de verde só têm a aparência. Desta forma, cada pessoa que compra um produto Caudalie, em Portugal também, contribui naturalmente para este compromisso”, garante Mathilde ao Observador.

Mathilde Thomas nas vinhas que fornecem grande parte das matérias-primas da Caudalie. Foto: Caudalie

A missão “Bio-Bridges” da The Body Shop

A The Body Shop é provavelmente conhecida pela sua luta ativa contra os testes em animais, mas saiba que há muito mais a destacar. Mas já lá vamos. No início de maio, 620 deputados do Parlamento Europeu votaram a favor da proibição dos testes em animais na indústria da cosmética. E nos últimos meses, juntamente com a ONG Cruelty Free International, a marca tem estado a fazer uma petição massiva para recolher 8 milhões de assinaturas para levar o tema a discussão nas Nações Unidas. A aprovação do Parlamento Europeu foi um passo importante nesta luta. Até ao momento, já foram recolhidos quase 6 milhões de assinaturas, sendo que em Portugal este número já chegou a 75 mil. Se quiser assinar esta petição, pode fazê-lo aqui.

Mas outra das grandes missões da marca são as “Bio-Bridges” que, assim de repente, pelo nome pode não lhe dizer nada. Mas é um dos maiores projetos ambientais desenvolvidos por uma marca de beleza e tendo como foco a perda de biodiversidade que é o maior desafio atual da Terra. No ano passado, a The Body Shop anunciou o seu investimento de mais de 2 milhões de euros para criar 10 novas “bio-bridges” até 2020 para proteger animais selvagens de florestas tropicais ameaçadas.

E o que é isso das “bio-bridges”? São basicamente, como o nome diz, uma espécie de pontes, ou seja, corredores restaurados de vida selvagem dentro de paisagens danificadas que ajudam a conectar animais e espécies de plantas isolados e ameaçados por forma a que se possam voltar a reproduzir. Estes corredores vão permitir que os animais se consigam movimentar livremente para não terem de se restringir ao que resta de pequenas zonas de habitat selvagem. Esta missão das “Bio Bridges” também envolve as comunidades locais, ajudando-as a desenvolver modos de vida mais sustentáveis. Este vídeo resume, numa animação divertida, toda esta explicação.

O Reggie é uma das espécies de macacos mais ameaçadas com um declínio de mais de 80% nos últimos 30 anos. Mas este projeto “Bio-Bridges” tem mais eixos: na Índia vai proteger os elefantes ameaçados de extinção pela destruição do seu habitat, na Indonésia vai proteger a população mais critica de orangotangos na floresta de Sumatra, na Malásia vai trabalhar na zona de Endau Rompin para evitar a fragmentação de habitats, a maior ameaça aos animais em extinção como o Tigre Malaio e o Elefante Asiático. E no Vietname vai proteger a floresta Khe Nuoc Trong e os fundos são também alocados para pesquisas de espécies e projetos de compromissos com as comunidades para aumentar a consciencialização local sobre as espécies ameaçadas, como o nosso amigo Reggie.

Assim, quando compra um produto The Body Shop, além de estar a ajudar espécies em específico (como a nova máscara de carvão do Himalaia cujas vendas revertem para a proteção dos pandas  vermelhos em extinção nos Himalaias e para a associação Red Panda Network do Nepal a plantar mais comida para esta espécie, incluíndo a sua favorita – o bambu), está também a contribuir para esta regeneração das florestas do mundo através da construção destes corredores naturais de vida selvagem.

O Amazonian Saviour Multi-Purpose Balm, um bálsamo multiusos para marcas e pele seca, foi o primeiro produto com vendas a reverter para as bio-bridges. 1,50€ da venda de cada bálsamo em Portugal será utilizado para esta missão. Foto: The Body Shop

A proteção dos oceanos de Avène

Para lançar a sua nova linha de solares, a francesa Avène assumiu um compromisso de longo prazo com os oceanos cujo objetivo assenta a 100% na redução do impacto ambiental. Esta consciência assenta em vários eixos do produto em si: as embalagens são ecológicas e recicladas e há uma concentração mínima de filtros solares (apenas quatro) que, além de terem um impacto reduzido no ambiente, não se dissolvem na água e, como tal, são mais facilmente assimilados pelos organismos marinhos. Assim, a sua fórmula tem melhor biodegradabilidade e os produtos são sem silicones, um ingrediente que não é biodegradável.

Este projeto da Avène chama-se “Skin Protect Ocean Respect” e, tal como a Caudalie, também está associado ao PUR Projet para sensibilizar para a proteção solar com mínimo impacto ambiental, para educar as crianças sobre os perigos ao sol e para preservar a biodiversidade marinha. Ao Observador, a Avène Portugal explicou o porquê da escolha dos oceanos como foco ambiental da marca a nível mundial: “Os oceanos são o lar da maior parte da vida na Terra, atuam como fonte da natureza e regulam os elementos essenciais para o equilíbrio climático. E como sabemos, os protetores solares são uma questão pública e também de interesse ambiental por serem um dos maiores poluidores dos oceanos. Assim, consciente da importância de proteger o ecossistema de forma a garantir um planeta mais seguro e mais saudável para as próximas gerações, a Avène focou-se no meio marinho uma vez que é aí onde os nossos produtos têm um maior impacto“, explicou-nos o departamento português da marca.

E esta iniciativa é uma abordagem voluntária da Avène para reduzir a sua pegada ecológica. Porque quão injusto seria proteger somente o ser humano (do sol) deixando um rasto de destruição no ambiente (os protetores solares são dos maiores poluidores do mar)? A marca assume ainda um compromisso eco-responsável a longo prazo e criou um programa de restauração dos corais, um elo vital para a sobrevivência dos ecossistemas marinhos dado que 25% a 50% das espécies marinhas se refugiam e alimentam nos recifes de corais.

Um dos exemplos é o projeto Pejarakan localizado no noroeste da ilha de Bali, na Indonésia. “Há alguns anos, os fundos marinhos estavam a morrer devido ao aumento das temperaturas, da pesca com cianeto e dinamite e, mais recentemente, aos efeitos climáticos devastadores do fenómeno El Niño. Este projeto permite-nos ajudar a criar e restaurar os recifes de coral, desenvolver aquacultura sustentável de corais e envolver as populações locais”, destaca a Avène Portugal.

10 anos do icónico pote solidário da Lush

A Lush já dispensa apresentações. Uma marca de produtos naturais e totalmente cruelty-free que tem uma ação igualmente forte no ambiente ao promover a venda de produtos feitos à mão sem embalagens para combater o desperdício de materiais como o plástico. Mas há a destacar o icónico Charity Pot cujas vendas vêm há dez anos a financiar projetos de direitos humanos, direitos animais e proteção ambiental. E o ponto forte é que a maioria do financiamento é atribuído a pequenos grupos que normalmente estão posicionados onde se pode fazer a real diferença, mas muitas vezes com fundos limitados e com dificuldades em os conseguir.

E o que é que aconteceu nestes 10 anos? O mundo mudou, a Lush cresceu e os financiamentos também. Se, em 2007, as doações do primeiro Charity Pot rondaram os 250 mil euros, em 2016 bateram os nove milhões de euros. E isto também se traduz em números. Em 2007 a Lush ajudou 26 projetos e em 2016 este número cresceu para 1415. Isto representa cerca de 21.3 milhões de euros de fundos doados nos últimos dez anos. O Charity Pot é hoje vendido em 36 países. Em Portugal começou a vender-se em 2015.

Guardando o melhor para o fim, a Lush doa 100% do seu valor (menos o IVA) a esta missão. Agora só falta conhecer o Charity Pot: uma luxuoso creme de corpo e mãos feita com gel de aloé vera fresco de Laikipia, no Quénia, manteiga de karité de Comércio Justo do Gana e manteiga de cacau de Comércio Justo da Comunidade de Paz de San José de Apartadó na Colômbia. As cooperativas e grupos que cultivam e colhem estes ingredientes fazem-se de forma sustentável (e cada mais vez mais regenerativa), usando a sua experiência e sabedoria para produzir ingredientes de alta qualidade que são fantásticos na pele e beneficiam as suas comunidades.

Em Portugal, o Charity Pot custa 5€ e pode-se comprar em qualquer loja Lush ou online.

Outros projetos que vale a pena conhecer

A Caudalie, a The Body Shop, a Avène e a Lush são quatro exemplos de marcas que estão a usar os seus lucros para contribuir para o planeta. Mas há outras que vale a pena destacar e que vamos resumir.

A Klorane tem uma fundação – a Klorane Botanical Foudation – e há mais de 20 anos  que cultiva plantas e tem um compromisso com a proteção e valorização do ambiente. O objetivo? Proteger as plantas ameaçadas, explorar os tesouros vegetais para compreender a biodiversidade e sensibilizar para a fragilidade do património vegetal. Ao longo dos anos, a marca tem vindo a explorar as riquezas do mundo vegetal nos quatro cantos do mundo para conhecê-los melhor, protegê-los  e respeitar quem vive em cada região. Isto traduz-se em mais de 100 mil árvores plantadas para ajudar as populações locais das zonas em que a marca colhe ingredientes, como forma de preservar sempre os seus recursos preciosos.

A grega Apivita tem um compromisso sustentável desde a sua fundação, em 1979 e isso está também traduzido nas próprias instalações da fábrica no Parque Industrial de Markopoulo, na Grécia. As instalações incluem um sistema de tratamento biológico de resíduos para resíduos líquidos e sólidos resultantes de processos de fabricação (resíduos industriais), bem como para resíduos urbanos gerados por atividades humanas. Outra das preocupações da marca são os materiais que usa tendo, por isso, reduzido o peso das embalagens de cartão e de vidro e aumentado o uso de matérias-primas recicladas ou certificadas ambientalmente.

Depois do sucesso do programa Recycle and Be Rewarded em 2017, a Kiehl’s voltou, este ano, a lançar a sua campanha mundial de reciclagem. E Portugal não ficou de fora. Durante o mês de Maio, a marca esteve a aceitar qualquer embalagem de cosmética para reciclar numa sensibilização para a reciclagem na beleza (pode continuar a entregar embalagens mas, agora, já só da marca). Por cada três embalagens vazias entregues recebe três amostras Kiehl’s. E estas ações têm realmente impacto. No ano passado, só na primeira semana, a marca recolheu mais de 400 embalagens em Portugal. Esta é uma forma de sensibilizar para a importância de reciclar junto da comunidade local em todos os países em que a marca está presente e de reforçar que a marca usa materiais reciclados nas suas embalagens sempre que possível.

Para esta sensibilização, a loja do Príncipe Real em Lisboa foi totalmente enfeitada com uma criação artística da Flower Designer Maria Matos.

Loja Kiehl’s do Príncipe Real durante a campanha Recycle and Be Rewarded. Foto: Kiehl’s

A Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza foi criada em 1990 e, desde então, tem lutado ativamente para a conservação da biodiversidade. A marca brasileira cria e mantém duas reservas naturais que somam mais de 11 mil hectares, é uma das principais instituições de iniciativa privada a apoiar financeiramente ações e pesquisas científicas de conservação da natureza (até hoje já financiou mais de 1.500 iniciativas), e, apesar de apoiar em grande parte a conservação da natureza no Brasil (um dos países mais ricos em biodiversidade do mundo), a marca reforça que todas estas ações têm reflexo positivo em todo o planeta, uma vez que, quando se trata de assuntos ambientais, não há fronteiras entre os países. A marca destina ainda 1% das suas receitas anuais para programas e projetos de conservação da natureza e de desenvolvimento social.

Assim, ao comprar produtos O Boticário, os portugueses também estão a contribuir para esta ação ambiental: as áreas protegidas são a estratégia mais efetiva para a conservação da biodiversidade do planeta.