Embora um mercado ainda cheio de lacunas e pouco regulado, o universo do natural e do orgânico está a crescer e a tornar-se cada vez mais apetecível. O que também faz com que, de repente, as pessoas pensem que se uma marca não se assume como natural é porque está cheia de químicos e — oh meu Deus! — o que é que andamos a colocar na nossa pele? Fora de dramas, as coisas não são tão drásticas assim.

Se quer assumir uma posição real, é importante saber distinguir entre o que é natural e o que é orgânico. Porque são termos diferentes. Um produto natural tem ingredientes originários da natureza mas podem ser criadas versões sintéticas desses ingredientes. Já um produto orgânico tem ingredientes 100% naturais e retirados diretamente da natureza. É apenas uma questão de pureza. Mas porque os termos “natural” e “orgânico” ainda não estão totalmente regulados, a verdade é que muitas marcas usam estes carimbos quando as suas fórmulas não correspondem exatamente àquilo que apregoam. Ou seja, um creme pode ter o carimbo orgânico mas apenas conter 70% de ingredientes orgânicos.

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Conclusão? Entre uma marca que não conhece, que leu online ou vai comprar pelo site porque tem um carimbo orgânico ou uma marca bem estabelecida no mercado, conhecida, respeitada e credível que não tem um selo orgânico, o que é que deve escolher? Fica no critério e na confiança de cada um, claro, mas é aqui que queremos chegar.

Há muitas marcas bem posicionadas que são mais naturais do que aquilo que imaginamos. Mas como esse não é o seu foco de negócio principal, essa informação acaba por não ser destacada. Damos exemplos práticos: a The Body Shop ou a Lush são marcas que lutam ativamente contra os testes em animais. Esse é o seu “core business” e esta mensagem está na raiz das marcas. Mas outras como REN, NYX, Too Faced ou Kat Von D também são marcas cruelty-free e membros da PETA mas não usam essa informação nas campanhas porque esse não é o seu foco principal. Ser membro da PETA significa que uma marca não permite e não irá conduzir ou pagar por testes em animais nos seus ingredientes, formulações ou produtos acabados em qualquer lugar do mundo. Mas essa informação pode ser, ou não, destacada na sua comunicação.

Ler os rótulos não é um bicho de sete cabeças e pode ajudar a compreender como muitas marcas são até bastante naturais

Quando falamos de ingredientes, há ótimas marcas no mercado que têm fórmulas muito mais naturais do que aquilo que imaginamos. Mas como essa informação não está escarrapachada nas embalagens, muitos consumidores pensam imediatamente que são marcas tóxicas porque se fossem “green” teriam as palavras “natural” ou “clean” carimbadas com toda a pompa e circunstância. Mas, na verdade, não é bem assim.

A beleza hoje em dia já não está tão associada à moda mas cada vez mais associada à saúde. E as marcas estão a sentir essa pressão e a “limpar” cada vez mais as suas fórmulas. Hoje, quando procuramos um produto de hidratação mais natural, não estamos a escolher entre uma ou duas marcas de nicho mas essa oferta já se encontra nas grandes marcas bem conhecidas.

Um simples exemplo: o Liftactive Fresh Shot Antioxidante & Antifadiga de Vichy. Vamos ler o rótulo:

  • Aqua: água. É simples, certo? Mas continua;
  • Ascorbic Acid: parece um ácido tóxico mas é apenas Vitamina C;
  • Alcohol Denat: é álcool desnaturado, seguro nos cosméticos e usado, normalmente, como solvente e adstringente, criando uma base cremosa para que outros ingredientes se dissolvam facilmente. Não é o melhor, mas também não é o pior;
  • Dipropylene Glycol: é mais um solvente, usado normalmente em percentagens baixas que não tem qualquer toxicidade cutânea;
  • Glycerin: é um composto orgânico que hidrata a pele e previne a perda de humidade;
  • Laureth-23: é um estabilizador seguro que faz com que a fórmula não se estrague;
  • Neohesperidin Dihydrochalcone: é difícil de ler mas é apenas um adoçante artificial derivado de citrinos, usado geralmente para dar aroma;
  • Sodium Hydroxide: é um conservante seguro usado para conservar o pH dos cosméticos;
  • Tocopherol: é apenas vitamina E e tem função antioxidante;
  • Hydrolyzed Hyaluronic Acid: é uma molécula de ácido hialurónico;
  • Pinus Pinaster Bark/Bud Extract: parece complicado mas é apenas extrato da casca do pinheiro bravo: antioxidante e forte atividade anti-radicais livres.

Todas estas informações podem ser retiradas de sites credíveis como o CosmeticsInfo ou o Environmental Working Group’s Skin Deep que aprovam e atestam a segurança de todos os ingredientes. E explicam o que são.

Claro que o caminho ainda é longo. Não basta só dizer que um produto está livre de parabenos ou sulfatos para o fazer brilhar com o chamariz do “green”. Ajudar os consumidores a decifrar o que as marcas de beleza realmente usam nas suas fórmulas ao invés de obscurecer os detalhes por trás de termos praticamente ilegíveis é o primeiro passo.

Dito isto, reunimos na fotogaleria algumas marcas bem conhecidas e cujas fórmulas são bem mais simpáticas do que se calhar imagina e estão mesmo aqui à sua frente: na farmácia, na perfumaria e no supermercado.