Por estranho que possa parecer, no início deste ano, o CEO da Lotus foi apanhado em excesso de velocidade e proibido de guiar. Mas o lado mais “acelera” do luxemburguês Jean-Marc Gales também trouxe bons resultados para o construtor britânico, que desde 2000 coleccionava prejuízos atrás de prejuízos, e que, a partir de 2014, ano em que Gales assumiu a liderança da marca, começou a inverter essa situação. A ponto de a Lotus ter conseguido finalmente um exercício positivo.
Em 2017, o pequeno construtor de desportivos teve lucros, “pela primeira vez na história”, lê-se na nota enviada à imprensa. Nota essa onde também é comunicada a substituição de Jean-Marc Gales por Feng Qingfeng.
O luxemburguês, cujo currículo regista a sua passagem por grupos automóveis como a PSA, Daimler, Volkswagen e General Motors – sempre em cargos de topo – sai (alegadamente) da chefia da Lotus “por razões pessoais”. Seja verdade ou “politicamente correcto”, o certo é que as funções que até aqui desempenhava passam a ser da responsabilidade imediata do vice-presidente e director técnico da Geely Auto. Feng Qingfeng é, naturalmente, um profissional da confiança de Li Shufu, o homem que está à frente da Geely, companhia que é dona da Volvo e de uma série de outras marcas que vai “entretendo-se” a comprar. Aliás, a participação maioritária no capital da Lotus fez parte do negócio com que o multimilionário chinês conseguiu bater a PSA e adquirir 49,9% da Proton. Isto meses antes de Shufu, cujo património líquido está avaliado pela Forbes em 15,7 mil milhões de dólares, ter surpreendido tudo e todos ao converter-se no maior accionista da Daimler.
A imprensa internacional dá mostras de alguma estranheza perante esta mudança de cadeiras. Primeiro, porque acontece poucos meses depois de a Geely controlar a Lotus. Segundo, porque Gales sempre revelou dedicação ao desafio de fazer da Lotus um fabricante viável. Terceiro, porque o luxemburguês deu provas de que estava a colocar a marca no rumo certo, vendendo 1.600 carros em 2017, o que representa não só um aumento de 10% face a 2016, como o alcance do tão ambicionado lucro.
Haja ou não pormenores que podem ainda vir a ser revelados, certo é que Gales parece ficar um pé dentro e outro fora. No mesmo dia em que a Geely frisa que ele se mantém na casa de Hethel como conselheiro estratégico, a JD Classics, empresa dedicada ao mundo dos clássicos e da competição, anunciou-o como seu novo CEO.