“Não sei. Nunca saí de casa. Não sei os nomes das ruas”. Esta foi a resposta de Jordan Turpin quando lhe pediram a morada. A jovem de 17 anos tinha conseguido ligar para o 911 (o equivalente ao 112, nos Estados Unidos) para denunciar os pais que acorrentavam os 13 filhos na sua casa, na Califórnia, (e protagonizaram o caso que chocou os Estados Unidos e o mundo, no início do ano). Na madrugada de 14 de janeiro, Jordan fugiu de casa através da janela do quarto. Levou consigo o telemóvel que o irmão mais velho tinha posto no lixo. Disse-lhe que só servia para ligar para o 911. Mas era mesmo esse o número para o qual queria ligar.

Fugi de casa. Somos maltratados. Os meus irmãos estão acorrentados”, disse a filha de 17 anos ao operador.

A chamada foi ouvida esta quarta-feira no tribunal de Riverside, na Califórnia, onde David e Louise Turpin estiveram presentes para uma audiência preliminar. Foi a chamada que levaria à libertação dos irmãos. Tal só foi possível porque Jordan conseguiu fornecer o código postal. Combinaram um ponto de referência e dois agentes da polícia foram ao seu encontro.

Enquanto as autoridades iam a caminho, Jordan relatou ao operador o que viria, dias mais tarde, a aparecer em vários os jornais do mundo. Por exemplo: “A casa estava tão suja que, às vezes, não conseguia respirar. Jordan revelou também que, na altura em que viveram no Texas, os pais ficaram a viver numa rolote durante quatro anos e raramente apareciam na casa onde deixaram os filhos sozinhos.

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Dentro da casa dos horrores. As explicações psicológicas para o caso dos 13 filhos acorrentados

Filha fotografou os irmãos magros e sujos, para mostrar à polícia

Os pés descalços de Joanna Turpin, de 14 anos, estão quase pretos. Está acorrentada a um beliche de madeira. Tal como Julissa Turpin, de 11 anos. De cabelo comprido, calças de ganga e uma camisola cor de rosa com uma imagem da Minnie Mouse, olha para o chão com uma expressão triste. Está muito pálida e magra — o diâmetro do seu pulso era do tamanho de um bebé de quatro meses.

As imagens das duas irmãs foram projetadas esta quarta-feira no tribunal. Foram apenas algumas daquelas que Jordan Turpin conseguiu tirar com o seu telemóvel. O objetivo seria guardá-las e mostrá-las às autoridades quando conseguisse fugir, como prova daquilo que estava a acontecer na casa dos horrores. Os esforços de Jordan iam além das fotografias: a jovem — que acabaria por conseguir fugir — tinha um canal secreto no YouTube onde denunciava os pais através de músicas. “Culpam-me por tudo, culpam-me de todas as formas, culpam-me pelo que eles dizem, o que eles dizem”, revela numa das letras.

[Veja os vídeos que a jovem publicava no Youtube e uma conversa em que falam sobre o pai]

Os inspetores mostraram ainda fotografias tiradas já depois dos 13 filhos dos Turpin terem sido hospitalizados. Além dos braços magros — que revelam “desnutrição severa” –, as imagens mostram também a sujidade que apresentavam depois de serem resgatados. De tal forma que era possível ver as marcas das correntes: nessas zonas, a pele estava branca. Outras fotografias mostravas as roupas que as crianças estavam a usar no momento em que foram resgatadas. Os inspetores explicaram que as peças de roupa estavam tão sujas que tinham bastante peso.

Os 13 filhos revelaram às autoridades que eram agredidos e viviam na escuridão. Acordavam às 23h00 da noite e iam dormir às três da madrugada: em média, dormiam cerca de 15 horas por dia. Só saiam do quarto para comer, lavar as mãos e os dentes. A mãe, Louise, chamava os 13 filhos, um a um para comer. Eles iam até à cozinha, comiam em pé — só havia sandes de manteiga de amendoim e burritos congelados — e depois voltavam para o quarto.

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Esta foi a primeira vez que foram apresentadas provas para sustentar a acusação. O objetivo da audiência foi convencer o juiz Bernard J. Schwartz de que há material para sustentar as acusações e enviar os autos para julgamento. Na última audiência, no final de fevereiro, David e Louise Turpin foram acusados de mais três crimes de abuso de menores. A mãe foi ainda acusada de um crime adicional de agressão. O casal já estava acusado de 12 crimes de tortura, sete de abuso contra um adulto dependente, seis de abuso de menores e 12 de falso sequestro. David estava também acusado do crime de um “ato obsceno” contra  “uma das crianças”, por suspeitas de ter tocado “inapropriadamente” numa das filhas menores de 14 anos. O casal — proibido de contactar com os filhos — enfrenta uma pena que pode ir “até 94 anos de prisão”, se forem condenados.