E se fosse possível detetar uma infeção antes mesmo dela provocar sintomas no hospedeiro? Provavelmente isso não salvaria o ser vivo infetado, mas poderia ajudar a que os que se encontravam por perto fossem poupados. Neste caso falamos de oliveiras e da mais perigosa bactéria para as espécies vegetais — a Xylella fastidiosa. A proposta é de uma equipa internacional e foi publicada esta segunda-feira na Nature Plants.

É certo que a forma mais precisa de determinar se uma árvore está infetada com a bactéria é recolhendo amostras da própria árvore e analisando essas amostras, mas o tempo que demora, os custos e os requisitos de pessoal qualificado tornam o método incomportável. Especialmente se a ideia for detetar precocemente a infeção.

Existe um método que permite avaliar várias árvores ao mesmo, mapeando vastas áreas com sensores de infravermelhos em satélite, mas neste caso só é possível detetar a infeção numa fase avançado da doença, quando as folhas já perderam a clorofila (que dá a cor verde), estão murchas e a cair. A bactéria infeta o xilema — os vasos por onde circula a água e os sais minerais — espalhando-se pelas paredes dos vasos até bloquearem a circulação da seiva bruta. Como a água e os nutrientes não chegam às folhas, estas vão secando, perdendo a capacidade de desempenhar as suas funções e morrendo.

O crescimento bacteriano, tipicamente em biofilme, atua como se a planta apresentasse uma constipação, com produção de expetoração a entupir os pulmões”, explica o site do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV) dedicado a esta doença.

A proposta da equipa liderada por Pablo Zarco-Tejada, investigador no Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia, é usar pequenos aviões ou drones para detetar as árvores infetadas ainda antes de estas mostrarem os primeiros sintomas da doença. Para isso analisaram imagens dos olivais usando todo o espetro eletromagnético (logo, todo o espetro de luz e não apenas o infravermelho) e o espetro de temperaturas e conseguiram determinar com bastante precisão quais as árvores infetadas. Algo que confirmaram depois com análises às próprias árvores.

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Imagem de olivais na zona de Puglia, no sul de Itália. As copas das árvores estão assinaladas a vermelho, com as que estão infetadas num vermelho mais pálido ou a verde — Pablo J. Zarco-Tejada

Uma vez identificada a infeção a árvore tem de ser abatida e incinerada, o que tem significado enormes perdas económicas no setor. Logo, quando mais cedo se identificar a infeção, maior a probabilidade de se conter a sua disseminação — as árvores infetadas são perdidas, mas conseguem salvar-se as restantes.

É que a bactéria Xylella fastidiosa tem uma agravante, não infeta apenas oliveiras. Também infeta vinhas, amendoeiras, citrinos e outras árvores de fruto, assim como carvalhos, ulmeiros e árvores ornamentais, ou até gramíneas. E a bactéria é facilmente transmitida pelos insetos que picam as árvores para se alimentarem da seiva bruta porque não precisam de um vetor específico (veículo de transmissão, como um inseto).

Xylella fastidiosa pode infetar mais de 350 espécies de plantas em todo o mundo”, escrevem os autores do artigo.

A bactéria foi detetada pela primeira vez em Itália, em 2013. Neste país afeta sobretudo as oliveiras. Deste então já se espalhou para França, onde as árvores ornamentais têm sido o principal alvo, e Espanha, que tem visto as amendoeiras serem mais atingidas. Em Portugal ainda não foi detetada a bactéria, mas há uma equipa liderada pelo INIAV que está atento à expansão da doença.

Enquanto se tentam detetar precocemente as plantas doentes e se tenta controlar a doença, existem alguns conselhos para prevenir o seu aparecimento: não transportar plantas de um país para o outro; comprar apenas plantas com Certificado Fitossanitário; e combater os insetos que sugam a seiva das árvores e que podem transmitir a bactéria.