Enviado especial do Observador à Rússia (em Sochi)
Mudou a língua, mudaram os intervenientes mas a ideia foi basicamente a mesma na hora do adeus. Depois da derrota com o Uruguai, houve lágrimas no balneário português e jogadores cabisbaixos por não terem conseguido o objetivo de chegar mais longe neste Campeonato do Mundo, mas na passagem pela zona mista os ânimos já estavam mais calmos, assentando num grande pressuposto: Portugal deu tudo, sai com a sensação de dever cumprido e, até de forma irónica, acaba por sofrer a primeira derrota (sem contar com grandes penalidades) desde 2014 na fase final de uma grande prova de seleções naquela que foi a exibição mais conseguida em termos coletivos desta presença na Rússia.
“Obviamente que estamos tristes, sabíamos que ia ser um adversário difícil e não foi possível seguir em frente. Agora a quente é complicado dizer o que falhou, embora algo tenha falhado. Lutámos, demos tudo e ironicamente, quando se falava em Portugal de irmos ganhando jogos sem jogar tão bem, a verdade é que acabámos por perder no melhor jogo. Também é preciso dar mérito ao adversário, sabíamos que o jogo todo deles passava pelos dois avançados”, comentou João Mário.
[Veja os golos de Portugal e do Uruguai em 3D]
Bruno Fernandes já tinha passado com os olhos no chão, João Moutinho também atravessara a zona mista, Gelson Martins saiu a ouvir música, William Carvalho e Rui Patrício aproveitaram a “boleia” do antigo companheiro no Sporting estar a falar para seguirem para o autocarro, Adrien e Manuel Fernandes pediram desculpa mas não se mostraram disponíveis para dissecar a eliminação de Portugal, André Silva acedeu ao pedido de uma voluntária para responder a uma ou duas perguntas de um jornalista russo com a respetiva tradução. Já Bernardo Silva parou em vários pontos e, em português, inglês e francês, lamentou o desaire mas enalteceu o encontro que Portugal fez e a reação que mostrou aos golos sofridos.
“Eles são uma equipa inteligente mas fizemos uma grande segunda parte, jogámos bem e faltou apenas o golo. Acabámos por sofrer o 2-1 quando estávamos a atravessar o nosso melhor momento. O Uruguai é uma boa equipa, experiente, muito forte em termos defensivos, com um ataque também forte. Depois de uma eliminação é complicado dizer muito mais porque queríamos dar uma alegria aos portugueses. Ironicamente, no melhor jogo que Portugal fez no Mundial é que acabou por perder. Conseguimos controlar, ter mais posse de bola… Estávamos motivados depois do golo do empate mas quando estávamos melhor sofremos e tentámos ir atrás do resultado. Se calhar nos outros jogos até agora tivemos sorte em alguns momentos, a mesma sorte que hoje não esteve connosco”, destacou nas várias abordagens que foi tendo ao longo do corredor.
Um pouco depois, entre grandes abraços entre os dirigentes uruguaios e alguns jornalistas compatriotas que estavam no início daquele percurso, também José Fonte parou e, em português e inglês, alinhou pelo diapasão em termos de ideia geral do encontro de João Mário ou Bernardo Silva. “Termos sofrido um golo cedo talvez nos tenha deixado de pé atrás. Tivemos bola mas não fomos tão incisivos como deveríamos ter sido. Depois do intervalo viemos com tudo, os jogadores tentaram mudar o que se estava a passar mas não conseguimos. Demos a vida por este País e por esta seleção mas hoje não conseguimos. Foi o nosso jogo mais conseguido e queríamos ir mais além, saímos com o sentimento de que podíamos ter ganho este jogo”, frisou.
Cristiano Ronaldo, que tinha deixado o futuro em aberto na flash, acenou, sorriu e continuou a marcha. Tal como Pepe, que desta vez não quis prestar declarações. A última zona mista do último jogo de Portugal estava terminada para uns e começava para outros. E esse início da passagem dos sul-americanos foi dado por Cristian Rodríguez, antigo jogador de Benfica e FC Porto. Mas essa foi uma cena com tanto de engraçado e surreal que merece um espacinho à parte.