Foi uma das maiores operações dos últimos anos na Europa contra grupos de motards com ligações à extrema-direita. A Polícia Judiciária (PJ) deteve esta quarta-feira 58 pessoas, uma delas na Alemanha e 4 em flagrante delito. Serão todos membros de um grupo de motards que já este ano esteve envolvido em cenas de violência, os Hells Angels. Foi o culminar de um inquérito que já dura há algum tempo e que investiga crimes de tentativa de homicídio, roubo, ofensa à integridade física, associação criminosa, lenocínio e extorsão.

Os inspetores foram para o terreno ao início da manhã, em vários locais do país. Nas cerca de 80 buscas, concentradas sobretudo em Lisboa e em Faro, foi apreendido muito material considerado relevante para a investigação. Com a operação, a PJ acredita ter “decapitado” a liderança dos Hells Angels.

Em conferência de imprensa, o diretor da PJ, Luís Neves, explicou que, entre os detidos, há 5 estrangeiros, da Alemanha e da Finlândia. Os suspeitos incluem também vários elementos ligados à segurança privada.

As diligências foram entretanto confirmadas também pela Procuradoria Geral da República (PGR). Em comunicado, a PGR fala numa “operação complexa” para o “desmantelamento de uma associação criminosa”, inserida em “vários inquéritos em que se investigam as atividades ilícitas desenvolvidas em território nacional pela organização Hells Angels Motorcycle Club (HAMC)”.

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A operação começou a ser pensada há algum tempo e era considerada de alto risco. A Unidade Nacional Contra Terrorismo da PJ e o Departamento Central de Investigação e Ação Penal prepararam a ida para o terreno “com pinças”, por se tratarem de suspeitos considerados perigosos, muito violentos e altamente organizados.

Segundo a PGR, os detidos vão começar a a ser presentes a tribunal este quinta-feira, para serem interrogados pelo juiz de instrução que há-de determinar as medidas de coação para cada um deles.

As primeiras informações adiantavam que o ex-líder da extrema-direita, Mário Machado, poderia estar entre os detidos, mas este inquérito específico não está relacionado com as lutas de poder entre os Hells Angels e os Los Bandidos, grupo a que Machado pertence. A rivalidade entre ambos e os atos de violência que tem gerado estão a ser investigados num outro processo. Ao Observador, o próprio advogado José Manuel de Castro confirmou que Mário Machado “não foi detido nem está envolvido nesta operação”.

Há pouco mais de três meses, Machado esteve no centro de uma cena de violência que levou à hospitalização de várias pessoas. Um almoço de motards e elementos ligados a movimentos de extrema-direita, no Prior Velho, acabou com agressões, depois de um grupo rival do de Mário Machado ter invadido o espaço. Nesse dia, Mário Machado abandonou o restaurante envergando um blusão com o símbolo dos Red & Gold, um grupo motard com ligações aos europeus “Los Bandidos”, rivais históricos dos Hell’s Angels.