Em El Fondoll não há eletrecidade nem rede telefónica. No meio das montanhas no interior da região de Terragona, nordeste de Espanha, esta aldeia está completamente isolada. A 1h41 de viagem de Barcelona e a 30 minutos da povoação mais próxima, o acesso à aldeia faz-se por uma estrada de terra batida. Pratica-se a agricultura de subsistência e cunha-se moeda (o ‘coel’, que tem valor igual ao euro). Há festas, passeios a pé, bicicletas e um almoço comunitário semanal de Paella. Mas a vida nesta comunidade tem uma peculiaridade: nesta aldeia há vinte anos que toda a gente anda sem roupa.

El Fondoll é a primeira aldeia naturista de Espanha. Fundada em 1998, tem atualmente 15 habitantes permanentes e 12 habitantes temporários que se assumem como “voluntários” e trocam trabalho por habitação e alimentação. A aldeia é ainda povoada por um número em constante mutação de turistas de todo o mundo, especialmente dos Estados Unidos, Austrália e Islândia. Independentemente do estatuto, todos eles se despem à entrada da comunidade.

Com 200 hectares, a povoação inclui apartamentos, camaratas e cabanas, cujo aluguer varia entre os 25 e os 67 euros. Existe ainda um cinema, um restaurante, uma sala de festas, uma biblioteca, um salão de massagens, uma piscina, uma sauna solar, uma loja e uma igreja.

Emili Vives é o fundador e dono da aldeia. O engenheiro informático era um ambicioso empresário de Barcelona, mas decidiu deixar tudo para viver ao ar livre. “Na altura tinha empresas, estava muito bem, ganhava bom dinheiro e queria conquistar o mundo. As minhas ambições eram muito altas. Mas o meu corpo começava a ressentir-se”, recorda em declarações ao El Español.

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Não hesitou quando em 1995 teve a oportunidade de comprar a aldeia abandonada. Comprou os materiais e preparou as obras para reconstruir os edifícios em ruínas, mas teve dificuldade em legalizar o projeto devido à intenção de tornar a área numa comunidade naturista. Teve a oposição do padre local, o prefeito tentou extorqui-lo e as autoridades chegaram a apreender todos os materiais de construção. Mas duas décadas depois e com 66 anos afirma que é “feliz, que é o que mais importa”.

“Fonoll é uma experiência sociológico muito interessante. É uma micro sociedade que está constantemente a mudar. Imagine-se o quanto mudou em 20 anos. As pessoas entram e saem quase todos os dias. As pessoas estabelecem relações imediatamente, porque não há muito mais que fazer aqui. E estabelecem-nas nuas desde o primeiro momento, sem deceções e sem máscaras”, define Vives.

Ainda assim, o fundador assegura que a comunidade não está orientada para promover a sexualidade como acontece noutras aldeias naturistas como Cap d’Agde em França. “Não é um sítio de vícios. Não se consomem drogas e nem se quer se pode fumar no exterior. As práticas sexuais também não são encorajadas. Andarmos nus não significa sexo”, garante.