A recuperação económica tem sido acompanhada do crescimento do emprego, mas este não tem chegado a todos da mesma forma, apesar do que os números do desemprego possam sugerir, afirma o Fundo Monetário Internacional (FMI), que alerta que mais de dois terços da redução do desemprego jovem na zona euro se deve a jovens que simplesmente saíram do mercado de trabalho. Jovens já são o grupo em maior risco de pobreza.

Numa análise ao desemprego jovem na zona euro, o FMI diz que o desemprego entre os jovens aumentou durante a crise, mas a retoma, que criou oportunidades para os restantes a partir de 2013, só começou a chegar aos jovens a partir de 2016. Apesar de em alguns países, como Portugal e Espanha, as taxas de desemprego jovem terem caído à volta de 10 pontos percentuais, em pelo menos oito ainda estão acima de 20%, como é o caso de Portugal também (a taxa em abril situou-se nos 20,6%).

Além da recuperação mais atrasada que a dos restantes, os detalhes demonstram uma realidade mais negativa do que as taxas globais sugerem.

Segundo o Fundo, desde 2016, o número de jovens desempregados nos países da zona euro diminuiu em cerca de 900 mil, mas apenas cerca de 300 mil empregos foram criados.

Ou seja, pelo menos dois terços da redução da taxa de desemprego jovem deve-se a jovens que abandonaram o mercado de trabalho.

Onde andam estes jovens?

Na análise da organização, há várias razões para esta diminuição na população ativa jovem. A primeira delas é demográfica. Com o envelhecimento da população e o aumento da idade da reforma, houve uma menor renovação daqueles que incluíam o mercado de trabalho.

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A queda na imigração para este grupo de países também terá desempenhado um papel. As dificuldades em entrar no mercado de trabalho não melhoraram com a cada vez maior integração de mulheres adultas (para as estatísticas) no mercado de trabalho, que trabalham até mais tarde.

Há também jovens que estão a abandonar o mercado de trabalho para investir em educação, motivados não só pelas escassas oportunidades, mas também porque a procura pelas empresas é cada vez mais por trabalhadores com qualificações mais elevadas, em setores com as tecnologias de informação, finanças, energia, saúde e serviços profissionais. Setores como a construção e o retalho, onde os jovens tinham mais oportunidades, estão a ter uma recuperação mais lenta e com isso um menor crescimento do emprego.

Mas também há um aumento cada vez maior do número de desencorajados, aqueles que não contam para a população ativa e perdem valor aos olhos dos empregadores por estarem fora do mercado de trabalho por um tempo prolongado.

Precariedade e pobreza

As mudanças que a crise provocou no mercado de trabalho, segundo o Fundo, têm afetado desproporcionalmente os jovens. O aumento da idade da reforma, já referido, é um desses casos, que até pode vir a ser positivo no médio prazo, mas que para já significa menos oportunidades para os mais jovens.

Também o tipo de emprego é diferente para os jovens. A maior parte dos novos empregos criados para os jovens são a tempo parcial, algo que não afeta da mesma forma os trabalhadores mais velhos. O número de empregos a tempo parcial cresceu 10% entre 2013 e 2017, mas não houve qualquer aumento no número de empregos a tempo inteiro.

A baixa ou ausência de progressividade na carga fiscal sobre o trabalho, em particular as contribuições pagas pelos empregadores (em Portugal, a Taxa Social Única) é outro fator que pode estar a desincentivar as empresas a contratar jovens, que, apesar de ter um salário tradicionalmente menor, os empregadores acabam por ter de pagar mais em termos relativos do que teriam de pagar por um trabalhador mais experiente, diz o FMI.

O Fundo deixa ainda um aviso que pode ser algo contraditório. Por um lado, lembra que os jovens estão sujeitos a piores condições laborais que os adultos, tais como salários mais baixos, contratos temporários e menor proteção social, que faz com que sejam já o grupo mais exposto ao risco de pobreza.

Por outro alerta que é necessário ter atenção ao rendimento que um trabalhador teria fora do mercado de trabalho (contando com subsidio de desemprego e outras prestações sociais de apoio aos desempregados) e o rendimento que teriam proveniente do trabalho. Caso este rácio penda mais para um rendimento que compense ficar fora do mercado de trabalho, isto pode desencorajar o regresso ao mercado de trabalho.