A líder do Bloco de Esquerda admitiu esta terça-feira que a decisão do ex-vereador do Bloco na Câmara de Lisboa Ricardo Robles e da sua família, de avançarem para um negócio imobiliário em Alfama não corresponde “aquilo que defende o Bloco de Esquerda”.
Catarina Martins diz que Ricardo Robles fez o que devia ter feito, pedindo renúncia ao cargo, e que a postura do ex-vereador permite continuar a defender o partido, sublinhando que este se comportou de forma ética com os inquilinos e relativamente ao cargo que ocupava, e que não cometeu nenhuma ilegalidade.
Numa posição mais conciliadora do que a que tem assumido nos últimos dias em relação ao caso, Catarina Martins admitiu pela primeira vez, que o negócio de Ricardo Robles e da sua família são contrários às posições que o Bloco de Esquerda tem defendido em relação à política de habitação, especialmente em Lisboa.
A coordenadora do Bloco, que falava depois do encontro com o Presidente da República, admitiu ainda que a direção do partido apoiava o ex-vereador, e que este se comportou de forma exemplar – “foi travada qualquer operação [de venda] antes de ser tomada, não existiu nenhuma ilegalidade, não existiu nenhum aproveitamento do quadro político e do seu cargo, tratou bem os inquilinos e de uma forma eticamente irrepreensível” – e que por isso tinha condições para continuar, “embora a decisão inicial da família não correspondesse aquilo que defende o Bloco de Esquerda”.
No entanto, segundo a líder do Bloco de Esquerda, a sucessão de notícias sobre o caso acabou por impossibilitar as explicações que Ricardo Robles teria para dar, inviabilizando que o ex-vereador continuasse a defender as bandeiras do Bloco em Lisboa. Ricardo Robles acabou por pedir demissão, já depois de ter dado explicações públicas sobre o caso. Catarina Martins diz que fez o que devia ter feito.
“É verdade a direção política do Bloco de Esquerda analisou o que se tinha passado. Compreendemos que havia uma opção do Ricardo e da sua família que contrariava aquilo que são os princípios do Bloco, compreendemos também que foi travada qualquer opção antes de ser tomada, não existiu nenhuma ilegalidade, não existiu nenhum aproveitamento do seu quadro político e do seu cargo, tratou bem os inquilinos, de uma forma eticamente irrepreensível, e portanto achamos que, embora a decisão anterior fosse uma decisão que contrariava aquilo que defendemos, o Ricardo continuava a ter as condições para defender o seu cargo de vereador”, disse
“As circunstâncias demonstraram que se tornava muito difícil manter o exercício dessa função. O Ricardo Robles chegou ele próprio a essa conclusão, discutiu-a com a direção e a direção aceitou esse pedido de demissão. Foi um pedido de demissão para reforçar o Bloco de Esquerda. (…) O Ricardo fez o que devia fazer e o que é normal para proteger esse trabalho”, acrescentou
Sobre estas notícias, Catarina Martins também optou por uma posição mais conciliatória, dizendo que o escrutínio sobre os líderes do Bloco de Esquerda é bem-vindo e que houve trabalho feito de forma exemplar sobre o caso, mas disse também que houve notícias falsas que não foram corrigidas e que foi negado ao Bloco e a Ricardo Robles direito de resposta. Catarina Martins fala ainda de uma agenda política por detrás destas notícias.
“A par de trabalho que foi bem feito, houve também uma agenda política de instrumentalização, com reprodução de notícias falsas que nunca chegaram a ser desmentidas, e que criaram circunstâncias que face a perplexidade natural da decisão que o Ricardo tomou inicialmente dificultaram a explicação dessas decisões”, disse.
Prioridades para o Orçamento
Catarina Martins, que falava no Palácio de Belém, esteve reunida, juntamente com a cúpula do partido, com o Presidente da República para falar do processo orçamental que se seguirá após as férias, e ao fim da legislatura que se aproxima.
Sobre as negociações com o Governo, o Bloco de Esquerda aponta um atraso nas negociações, face ao que tem acontecido, lamentando porque, no entender da líder da partido, há “matérias importantes para resolver”.
“Poderíamos estar um pouco mais avançados nessas negociações do que estamos este ano, que tem sido um pouco mais lento do que em anos anteriores, porque temos matérias importantes para resolver”, disse.
Catarina Martins enumerou as prioridades do partido, sublinhando a necessidade de investir no Serviço Nacional de Saúde e nos transportes, a redução do IVA sobre a eletricidade — apesar de ainda não se conhecerem os moldes em que esta redução pode ser efetuada — e a questão das reformas aos 60 anos para os trabalhadores com carreiras contributivas muito longas, ou seja, que começaram a trabalhar e a descontar mais cedo mas que seriam penalizados se se reformassem aos 60 anos devido às regras do fator de sustentabilidade.
O Bloco diz ainda que espera que a negociação com os professores sobre a contagem do tempo de serviço para efeito de progressão na carreira já estejam terminadas quando o orçamento chegar.