O Presidente da República disse este sábado durante uma visita a Monchique que “não vale a pena comparar com outros incêndios porque isso não diz nada” a quem perdeu as suas casas e os seus bens no incêndio de Monchique, em resposta às questões dos populares, que transmitiram a Marcelo Rebelo de Sousa que houve descoordenação no ataque às chamas e questionaram o sucesso que alguns responsáveis viram no caso de Monchique.

“É preciso ter uma grande compreensão. Não vale a pena comparar com outros incêndios porque isso não diz nada aos próprios. Se eu disser a uma pessoa que perde uma casa, ou perde os seus bens ‘olhe, console-se porque no ano passado nos fogos houve muito mais casas ardidas, houve muito mais bens perdidos, houve muito mais empresas atingidas, não consola porque para aquela pessoa aqueles bens são únicos”, afirmou o Presidente, depois de alguns minutos a ouvir alguns populares em Monchique.

Os populares transmitiram a Marcelo Rebelo de Sousa a sua indignação em relação ao que aconteceu e às palavras usadas por alguns responsáveis políticos para descrever o resultado da operação, como sucesso (uma palavra usada por António Costa, que não foi nomeado pelos populares diretamente). Os locais disseram ainda ao presidente que, a seu ver, houve uma descoordenação total na forma como foram combatidas as chamas.

O vereador da Câmara de Monchique,.José Chaparro contou ao chefe de Estado que as pessoas eram retiradas “a mal” das suas casas pela GNR e apontou que “máquinas de rasto, militares e civis” estiveram três dias sem entrarem ao serviço por “falta de indicações” do comando da Proteção Civil. “Houve descoordenação total. As pessoas que estavam à frente das operações nos ‘briefings’ não eram da terra e não conhecem o terreno. Andava tudo completamente às cegas”, afirmou.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Um empresário, cujas propriedades e casas “arderam”, queixou-se que na estrada do Alferce não ter visto qualquer carro dos bombeiros a ajudar ao combate e também deixou críticas à atuação dos elementos da GNR durante a evacuação das localidades.

“No geral estiveram bem, mas devia ter havido um pouco mais de bom senso na atuação junto dos populares”, afirmou.

Sobre esta matéria, Marcelo Rebelo de Sousa começou por dizer que o papel dos operacionais e da população foi “fundamental” para não haver vítimas mortais, sublinhando que a opinião pública está hoje “muito mais exigente em termos de segurança”.

“Têm de compreender que, sem querer antecipar nenhum juízo, houve uma definição de uma prioridade, que foi, na medida do possível, proteger populações”, afirmou, sublinhando que essa definição tem consequência, levando a “certas intervenções”. O Presidente alertou depois para o eventual cenário em que um operacional deixa de intervir atempadamente, tendo como consequência a morte de alguém: “‘O senhor tinha a obrigação de intervir e evitar aquele morto ou aqueles mortos’, é o que se dirá”.

“Imaginam o que é o dilema de cada pessoa que intervém ponderar o grau e a forma de intervenção. Visto depois, com frieza, as pessoas dizem, atendendo às condições e situações, ‘o tipo de intervenção foi drástico demais, incisivo demais, coercivo demais’?”, acrescentou, defendendo que estas questões sejam analisadas posteriormente.

Antes de a visita começar, Marcelo Rebelo de Sousa deixou uma mensagem de gratidão aos operacionais que combateram o fogo em Monchique na última semana, que diz ser em nome de todos os portugueses.

“Todos os portugueses acompanharam de perto ou de longe estes dias mais difíceis nas vossas vidas e que pela minha boca vos agradecem aquilo que foi uma dedicação, se possível, mais exigente, mais complexa, mais difícil, mais extenuante, que foi a dos últimos 10 dias”, disse Marcelo Rebelo de Sousa.

O Presidente quis deixar uma mensagem de gratidão, mas também lembrou que o verão está longe de terminar, e com ele o risco de incêndio.

“Nós não esquecemos o vosso papel, mas como sabemos estamos ainda longe de ter terminado esta época de verão. A gratidão está sempre presente e também a sensação dos portugueses de que é bom haver quem esteja disponível para colocar as suas vidas em risco durante uma vida ao serviço deles”, acrescentou.

O chefe de Estado sublinhou ainda que “o tempo disponível para tirar as lições” dos incêndios do ano passado e para “montar mecanismos preventivos” era “muito limitado”.

Um popular ligado à área da cortiça questionou Marcelo sobre se considera que a operação de combate ao incêndio tinha sido um “sucesso”, mas o Presidente da República acabou por devolver a pergunta: “Como alguém que viveu por dentro, qual é a sua opinião?”. “A minha opinião é que não. Isto ardeu tudo, nós perdemos o concelho. Considero que foi uma derrota de toda a gente”, respondeu.