O Governo pretende que um quinto das águas residuais das 50 maiores ETAR tenham um tratamento “mais sofisticado” para serem reutilizadas para regar jardins ou lavar autocarros, afirmou hoje o secretário de Estado do Ambiente.
“Gostaríamos que um valor entre 10% e 20% da água tratada [em cada uma das 50 maiores Estações de Tratamento de Águas Residuais – ETAR] pudesse passar por um processo mais sofisticado de maneira a garantir que as pessoas a possam utilizar de maneira generalizada em usos mais nobres”, disse hoje Carlos Martins à agência Lusa.
A meta a atingir a cinco anos é ter 10% da água tratada naquelas estações a ser reutilizada e atingir 20% dentro de 10 anos.
Foram definidos cinco pilares para incentivar o uso de águas residuais preparadas nas 50 maiores ETAR, representando cerca de 75% do total dos caudais tratados no país, de modo a atingir 15 a 20% de reutilização.
Trata-se de uma estratégia nacional, um diploma a determinar o tipo de tratamento a ser dado atendendo ao uso, um guia prático, planos de ação das entidades gestoras das ETAR e um diploma legislativo para alterar a regulamentação das redes de águas, ‘normais’ e residuais’, nos edifícios.
Quanto ao investimento necessário para atingir aquelas metas, o secretário de Estado explicou que vai ser uma das informações que deverá ser obtida através do trabalho feito para os planos de ação.
“Temos consciência de que algumas destas ETAR têm uma localização geográfica descentrada daquilo que é o potencial de utilização”, reconheceu Carlos Martins.
Enquanto algumas ETAR “têm sorte de ter utilizadores potenciais muito próximo – agrícolas, industriais ou parques urbanos -, há outras que têm uma localização geográfica que não lhes permite o mesmo tipo de oportunidade e não vamos fazer investimentos se não tivermos a garantia de que vai haver utilização”, especificou o governante.
Carlos Martins recordou estimativas que colocam em 100 litros por dia o volume de águas residuais geradas diariamente por cada português.
“Se considerarmos os usos agrícolas, ainda poderemos potenciar mais” a reutilização da água tratada, realçou.
A agricultura, apontou, tem vindo a desenvolver-se muito em Portugal e “consome cerca de 80% dos recursos hídricos, muitas vezes água de uma qualidade que poderia ser reservada para usos mais nobres, nomeadamente o abastecimento público”.
Assim, as ETAR que não estão perto de centros urbanos poderiam canalizar a sua água tratada para a atividade agrícola.
O secretário de Estado referiu o caso de Espanha, que tem uma reutilização de águas residuais tratadas bastante superior a Portugal, “mas muito à custa do uso na agricultura”.
O Governo pretende “sinalizar” no quadro comunitário que está a ser negociado uma verba para estimular este tipo de projeto, uma preocupação que se enquadra na adaptação às alterações climáticas, com implicações na disponibilidade de água.