Um ataque informático ao Facebook, detetado na terça-feira à tarde, expôs informação de perto de 50 milhões de contas de utilizadores da maior rede social do mundo. A falha de segurança permitiu a exploração de uma vulnerabilidade no código da programação do próprio Facebook, mas não é necessário que os utilizadores alterem a sua palavra-passe, explicou a empresa num comunicado disponibilizado esta sexta-feira.

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Mark Zuckerberg, na sua conta de Facebook, também partilhou informações sobre a situação

Aos jornalistas, numa conferência telefónica em que o Observador participou esta tarde, Mark Zuckerberg disse que este “é um assunto sério” e por isso é que estamos focados em resolvê-lo e garantir que tudo está seguro”.  O líder daquela que é a maior rede social do mundo, disse ainda que sabe “que há ataques constantes” e que as equipas que estão a trabalhar no Facebook estão a esforçar-se para prevenir isso”. A empresa afirmou que alertou o FBI e as autoridades europeias na Irlanda — onde é a sede na União — do ataque.

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A comissão de proteção de dados irlandesa confirmou ao Observador que recebeu esta sexta-feira a notificação. Contudo, a entidade afirma que a notificação não tem toda a informação necessária e pede, “com urgência”, mais informações ao Facebook.

“A privacidade e segurança das pessoas é incrivelmente importante e lamentamos que isto tenha acontecido. É por isso que tomámos medidas imediatas para proteger estas contas e informámos as pessoas que isto tinha acontecido. Não é preciso ninguém mudar a sua password”, lê-se no comunicado.

A investigação ao que se passou ainda está a decorrer, mas a equipa de engenharia da rede social informa que já ativou uma série de medidas para proteger a segurança das informações que os utilizadores disponibilizam na rede. A vulnerabilidade do sistema terá sido utilizada pelos atacantes através da funcionalidade “View as” [Ver como], que permite aos utilizadores ver o seu perfil como aparece para as outras pessoas. Como medida de precaução esta funcionalidade foi removida em todas as contas do Facebook.

“Falta informação detalhada na notificação do Facebook” à Comissão de Proteção de Dados na Europa

Esta falha na segurança terá permitido aos atacantes aceder ao acessos token (chaves digitais que permite que os utilizadores se mantenham ligados à rede sem terem de introduzir sempre as palavras-chave) dos utilizadores, chegando, por esta via, às suas contas. O Facebook diz que resolveu logo a vulnerabilidade encontrada esta terça-feira e que os utilizadores não precisam de tomar nenhuma medida. “Os tokens de entrada é que foram comprometidos, não as palavras-passe”, explicou Guy Rosen, vice presidente de produto da empresa, acrescentando que as medidas de segurança necessárias foram já efetuadas pela rede social.

https://www.facebook.com/sheryl/posts/10160788252735177

Shery Sandberg, responsável pelas operações do Facebook, também partilhou o na rede social o problema de segurança: “Sabemos que isto nunca devia ter acontecido”, afirmou a mulher que é um dos braços direitos, e pessoas mais próximas, de Zuckerberg.

Segundo o Facebook esta vulnerabilidade surgiu a julho de 2017 com novas medidas implementadas na rede social para o upload de vídeos. Como esta ferramenta está ligada ao token de acesso guardado um bug permitiu o acesso da informação de milhões de utilizadores. “O vídeo uploader criou um access token para o utilizador de que se estava à procura e não para o que procurava”, explicou Rosen. Este bug fez a rede social ter um número de acessos demasiado elevados ao Facebook que levou a concluir, esta terça-feira, que tinha existido um ataque.

Isto é claramente uma quebra de confiança, estamos a trabalhar com legisladores e com as autoridades para evitar que isto aconteça outra vez, explicou Guy Rosen, acompanhado por Mark Zuckerberg numa conferência telefónica.

Os atacantes tiveram acesso a informações como o “nome, cidade e género” dos utilizadores, segundo foi explicado na conferência telefónica com jornalistas. O Facebook não sabe a extensão de todas as informações a que os atacantes tiveram acesso, mas garante que dados de cartão de crédito não foram comprometidos, explicou Rosen.

Vimos este ataque ser feito a uma escala muito grande e foi assim que o encontrámos. Em termos de dados não encontrámos nenhuma informação do que foi roubado”, disse Rosen.

A seguir, a rede social reiniciou as contas das 50 milhões de pessoas que foram afetadas por esta vulnerabilidade e que tomou medidas adicionais para outras 40 milhões de contas. No total, há cerca de 90 milhões de pessoas foram forçadas a desligar-se e voltar a ligar-se à rede social, introduzindo novamente a palavra passe. Isto acontecerá em todas as apps cujo login façam através da conta do Facebook. Quando estas pessoas voltarem à rede social se ainda não o fizeram esta sexta-feira, as pessoas receberão uma notificação que lhes explica o que aconteceu, afirma a empresa como resposta à necessidade de, com novo Regulamento Geral sobre Proteção de Dados, ter de informar os utilizadores.

Sobre o ataque o Facebook afirma que sabe pouco e que a “investigação ainda está em fases muito iniciais”. Sobre se os atacantes serem piratas informáticos experientes para se poderem aproveitar desta vulnerabilidade a rede social apenas afirmou que a aproveitação deste erro surgiu “de uma combinação de bugs” e que foi preciso “um certo nível [de perícia]” para abusar desta vulnerabilidade. “Vamos continuar a investigação”, responderam sempre os responsáveis da rede social sobre pedidos de mais informações sobre esta falha de segurança.

Por esta altura, o Facebook ainda não consegue determinar se a informação das contas foi comprometida, apenas sabe que esteve exposta. Também ainda não tem dados sobre quem serão os atacantes ou onde se encontram. “Não sabemos se, ou como, estão a utilizar estes dados”, explicou a rede social.

O Facebook conta com cerca de 2,2 mil milhões de utilizadores, além de deter outras plataformas como o Instagram ou o WhatsApp. No comunicado divulgado esta sexta-feira, a empresa diz que o ataque informático explorou vários detalhes do código que suporta o Facebook e que terá surgido de uma alteração que a empresa fez à forma como se descarregam vídeos para a plataforma, em julho de 2017.

A equipa aconselha ainda que quem estiver com problemas a aceder novamente à rede social deve contactar o centro de apoio do Facebook. Quem quiser terminar a sessão que tem no Facebook (fazer logout) deve consultar a secção de “Segurança e Login” da sua conta, onde consta informação sobre todas as apps em que o utilizador usa a sua conta do Facebook como login. Aqui, poderá terminar a sessão em todas as apps de uma só vez.

O ataque seis meses depois do caso Cambridge Analytica

A falha de segurança acontece seis meses depois de o Facebook ter vivido um dos seus piores momentos: em março, o The Observer e o The New York Times revelaram que a empresa de análise de dados britânica Cambridge Analytica utilizou indevidamente os dados de 50 milhões de contas (soube-se mais tarde que eram, afinal, 87 milhões de perfis) para ajudar a eleger Donald Trump. Os utilizadores participaram num teste de personalidade em 2013 que tinha como fim uma investigação académica, mas que serviram para criar influência política.

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O Facebook soube disto em 2015 e pediu à Cambridge Analytica para apagar os dados, mas não fez mais nada para se certificar que isso tinha efetivamente acontecido. Mark Zuckerberg foi amplamente criticado e foi ouvido durante 10 horas em duas audições no congresso norte-americano. Foi também ouvido no Parlamento Europeu, posteriormente, numa curta reunião com os líderes dos partidos europeus.

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Nos últimos meses, depois de a “quebra de confiança”, como referiu Zuckerberg quando pediu desculpa pelo sucedido, a rede social tem investido na segurança da rede social. Cerca de 20 mil funcionários estão a ser contratados apenas para garantir que as redes sociais do Facebook são mais seguras. Esta aposta na segurança “mostra é que fomos mais rápidos [a saber do ataque]”, assumiu Guy Rosen.

Um dos principais focos tem sido na segurança das próximas campanhas eleitorais. Zuckerberg tinha prometido que a rede social ia investir bastante para evitar novos cenários de falha de proteção de dados. “A segurança é como uma corrida de armas”, afirmou o líder e fundador da maior rede social do mundo em defesa do esforço feito para os utilizadores continuarem a ter confiança no Facebook.