Há uma tempestade tropical que está a afetar o estado do tempo em Portugal. Chama-se Leslie, está praticamente parada a sudoeste do arquipélago dos Açores há dezassete dias, tem ventos sustentados de 121 quilómetros por hora, rajadas a soprar a 150 quilómetros por hora e desde 23 de setembro que só se movimentou 322 quilómetros. Num comunicado especial publicado na Internet, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera prevê que Leslie comece a encaminhar-se para nordeste e passe entre o arquipélago dos Açores e o da Madeira. O Centro Nacional de Furacões dos Estados Unidos anunciou esta quarta-feira que se transformou num furacão de categoria 1. Mas ninguém sabe bem o que pode acontecer a seguir.

Neste momento, o furacão Leslie está 1.780 quilómetros a oeste-sudoeste do arquipélago dos Açores, que corresponde mais ou menos à distância entre Lisboa e Paris. As medições mais recentes do Centro Nacional de Furacões dizem que tem uma pressão atmosférica de 980 milibares, move-se a uma velocidade de 11 quilómetros por hora e que os ventos ciclónicos são registados a um raio de 445 quilómetros a partir do olho da tempestade. “Leslie continuou a organizar-se melhor esta manhã e várias passagens de microondas indicam que o furacão está a manter um olho de nível médio bem definido”, descrevem os meteorologistas norte-americanos.

Isto é o que sabemos até agora, mas a força que Leslie pode ganhar ou perder depende da trajetória que percorrer a partir daí, explica o relatório. A tempestade evoluiu para um furacão de categoria 1 porque “encontrou as águas mais quentes com que se cruzou até agora”: para que um furacão se forme é preciso que haja uma região de baixa pressão atmosférica e de temperaturas mais altas que na vizinhança por cima de águas a pelo menos 27ºC e que os níveis de humidade sejam muitos alto. Tudo isso se verifica na zona onde o Leslie está neste momento. Mas os cientistas não têm a certeza de como é que essas condições vão evoluir.

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De acordo com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera, no fim de quarta-feira o Leslie deve passar entre os dois arquipélagos portugueses. Mas “as previsões dos diversos modelos numéricos para cinco dias ou mais apresentam soluções bastante distintas para o posicionamento do centro da depressão”, avisa o instituto: “Em particular, para domingo, algumas previsões sugerem que deverá dirigir-se para o norte de África, enquanto outras sugerem o rápido deslocamento para nordeste, passando a noroeste da Península Ibérica, havendo ainda uma possibilidade significativa de se movimentar para sudoeste”.

O mais provável é que a depressão passe a norte da Madeira no sábado e atinja a costa de Marrocos no final do dia seguinte. Sobre se é possível que o furacão Leslie chegue a terra, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera esclarece que “a probabilidade de a tempestade tropical Leslie atingir o território nacional é inferior a 10%, ou seja, menos de 5 previsões num total de 50 previsões, o que corresponde a um cenário com uma probabilidade muito baixa”.

De resto, o Centro Nacional de Furacões só é perentório ao dizer que “quanto mais para sul e para oeste o Leslie for, mais forte se tornará”, porque é por esse lado que iria encontrar mais água quente — uma espécie de motor para estas tempestades: “Está previsto que o Leslie desacelere esta quarta-feira e vire para este-nordeste. Um movimento mais rápido nesta direção é antecipado até amanhã [quinta-feira], quando se aproximar do noroeste. Leslie passará por uma transição extratropical que o levará para o norte e continuará para o oeste”.

O movimento de um furacão depende das correntes de ar em torno do globo. Os ventos dominantes que cercam um furacão formam o chamado campo de vento ambiental, que guia um furacão ao longo do caminho. O furacão propaga-se na direção deste campo de vento e a velocidade depende desse mesmo campo de vento: “Nos trópicos, onde os furacões se formam, os ventos do leste, chamados ventos alísios, conduzem os furacões em direção ao oeste. Na bacia do Atlântico, as tempestades são carregadas por esses ventos alísios da costa da África, onde se desenvolvem com frequência, em direção ao oeste até ao mar do Caribe e às costas norte-americanas”, descreve o Centro Nacional de Furacões.

O que pode alterar esse percurso típico é o anticiclone dos Açores. Normalmente, os furacões que se formam no Atlântico propagam-se à volta da periferia do anticiclone, mas “se ele estiver posicionado mais a leste, os furacões tendem a propagar para o nordeste, em redor da parede oeste do anticiclone, alcançando o oceano aberto e sem nunca chegar a terra firme”, explica o Centro. E ” se o anticlone estiver posicionado a oeste e se estender o suficiente para o sul, as tempestades são impedidas de se curvarem para o norte e forçadas a continuar para o oeste, colocando um grande alvo na Flórida, Cuba e no Golfo do México”.