“Ninguém me pode tocar. Eu sou parlamentar”. “Eu sou a República!”. As frases foram proferidas pelo líder do movimento França Insubmissa, Jean-Luc Mélechon, durante as buscas da polícia à sua casa e à sede do seu partido na última terça-feira em França. Em causa estarão duas investigações paralelas: uma por alegados empregos fictícios de assistentes parlamentares europeus e a outra ao financiamento da campanha para as presidenciais de 2017, na qual foi candidato.
As primeiras buscas, logo pela manhã, foram filmadas em direto pelo próprio Mélechon para o Facebook — uma ferramenta que o político usa com frequência. Num direto feito às 8h11 da manhã o líder da extrema esquerda descreve que, naquele momento, estão vários polícias, do departamento anticorrupção, a “vasculhar” a sua casa. Num tom de voz baixo, mas num ângulo que permite assistir à busca, explica que ao mesmo tempo todas as pessoas que trabalham e trabalharam com ele estão a ser igualmente alvo de busca. E que estão a apreender-lhes os telemóveis e os computadores.
“É isto que o Ministério da Justiça está a fazer. Para intimidar e provocar medo. Não tenham medo, isto não é Justiça”, resume, para depois atirar culpas à sua opositora, a eurodeputada de extrema direita Sophie Montel que terá levantado suspeitas sobre o financiamento da campanha.
“Todos os discos rígidos da minha família política foram apreendidos. É isto uma democracia, uma república? Eu sou o presidente da oposição no parlamento!”, adverte e lança o conselho: “Não tenho medo, não tenham medo, protestem, isto não é normal, não é justiça e também já não é política”.
Noutro direto no Facebook, Mélenchon continuou a filmar-se e, a dada altura, chocou com um dos elementos presentes na busca e reagiu: “Não me toque. A minha pessoa é sagrada! Sou um deputado”. A seguir colocou no corpo uma faixa tricolor, com as cores da bandeira francesa.
Já num outro vídeo, captado pelos repórteres que entretanto se deslocaram ao seu escritório na Rua Dunkerque, perto da Gare du Nord, o tom de Mélechon é mais agressivo. Enquanto sobe as escadas acompanhado de alguns colegas e militantes, avisa: “Quero ver se não me deixam entrar no meu escritório!”. O polícia à porta não se mexe, sequer, e mantém-se impávido e sereno enquanto ele repete várias vezes para não lhe tocarem. Depois começa uma tentativa de arrombamento da porta das instalações, onde vários polícias procuram provas para as investigações que têm em mãos.
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Après la #perquisition menée à son domicile, Jean-Luc Mélenchon s’est rendu au siège de la France insoumise, également perquisitionné.Voici la scène hallucinante devant la porte de son propre local. ⬇#Quotidien pic.twitter.com/c661VAxp5q
— Quotidien (@Qofficiel) October 16, 2018
O movimento França Insubmissa já fez saber que as contas relativas às presidenciais francesas de 2017 foram validadas pela Comissão Nacional de Contas Eleitorais a 13 de fevereiro deste ano. E que não foi detetada qualquer irregularidade.