Uma equipa de cientistas espanhóis, do Instituto de Investigação da Sida IrsiCaixa de Barcelona e do Hospital  Gregorio Marañón de Madrid, acreditam que as células estaminais podem ser um caminho para tratar a infeção com o vírus da imunodeficiência humana (VIH). Em cinco doentes sujeitos a transplante de medula óssea, os investigadores não voltaram a detetar a presença de VIH. No entanto, estes doentes ainda estão a fazer tratamento com antirretrovirais.

A investigação publicada esta terça-feira na revista Annals of Internal Medicine, verificou que em cinco dos seis doentes transplantados (e que sobreviveram pelo menos dois anos depois do transplante) não era possível detetar a presença do vírus no sangue, nem nos tecidos testados, ou seja, não foi detetado o reservatório do vírus. Num destes, nem sequer foi detetada a presença de anticorpos ao fim de sete anos, o que poderá indicar que o vírus foi completamente eliminado do corpo.

O único doente em que continuou a ser detetada a presença de VIH tinha recebido um transplante de sangue de cordão umbilical e demorado 18 meses a substituir todas as suas células pelas células doadas — os restantes doentes receberam de medula óssea. O facto de as novas células terem demorado mais tempo a substituírem as células do doente pode justificar a menor eficácia do tratamento.

Maria Salgado, investigadora do IrsiCaixa,  relata ao jornal El Mundo que ”isto poderia ser uma prova de que o VIH já não está no sangue, mas isso só se poderá confirmar depois de parar o tratamento e comprovando se o vírus reaparece ou não”.

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Até ao momento, apenas Timothy Ray Brown se curou da infeção com VIH. Conhecido como o “paciente de Berlim”, foi sujeito a dois transplantes de medula óssea (em 2007 e 2008). A diferença é que, no caso de Timothy Brown, o dador da medula tinha uma mutação genética chamada CCR5 Delta 32, que torna as células sanguíneas imunes ao vírus. No caso do presente estudo, os doentes transplantados receberam células estaminais sem a mutação. O que os investigadores queriam perceber era se, mesmo sem mutação, o transplante de células estaminais era eficaz no tratamento.

Os cinco doentes ainda estão a fazer tratamentos antirretrovirais, um tipo de tratamento dado a todos os doentes com a infeção para evitar que o vírus se multiplique e destrua o sistema imunitário. Timothy Brown, por sua vez, já não está a tomar antirretrovirais e, mesmo passados 11 anos do primeiro transplante, não apresenta indícios de VIH.

Livrou-se do VIH, mas sente “culpa de sobrevivente”

Maria Salgado e Mi Kwon, hematóloga do Hospital Gregorio Marañón, explicam ao jornal espanhol o motivo pelo qual atualmente os medicamentos não curam a infeção. O vírus instala-se em células, como as células T (responsáveis pela resposta imunitária), e forma um reservatório viral. Os tratamentos antirretrovirais mantém o vírus adormecido, mas não conseguem eliminar o reservatório. E o sistema imunitário não consegue identificar as células onde o vírus se instalou, logo não as consegue eliminar.

Este estudo destaca certos fatores associados com o transplante de células estaminais que podem contribuir para eliminar o vírus do corpo. O passo seguinte é fazer um ensaio clínico, vigiado por médicos e investigadores, para interromper a medicação antirretroviral em alguns dos pacientes e administrar-lhes novas terapias para comprovar se o vírus foi de facto completamente erradicado do organismo.