Fazer uma mastectomia pode levar a uma espera longa e angustiante na África do Sul. Mas há uma cirurgiã que está a mudar isso, no âmbito do projeto Flamingo. Até agora, já conseguiu realizar 500 operações gratuitas com sucesso e salvar essas 500 vidas.

O Projeto Flamingo foi fundado por Liana Roodt, uma cirurgiã que se viu confrontada com a realidade pela qual passam as mulheres diagnosticadas com cancro da mama, numa clínica que oferece programas de formação financiados pelo governo sul-africano.

Geralmente, depois de serem diagnosticadas, as mulheres sul-africanas podem ter de esperar cerca de quatro meses para conseguirem marcar uma mastectomia — a operação cirúrgica que extrai a mama ou parte dela. É neste contexto que surge o Projeto Flamingo, financiado pelo governo sul-africano, para ajudar as pacientes com cancro da mama a terem oportunidade de fazer a cirurgia mais depressa no sistema de saúde público.

Foi o caso de Anne Borg, de 74 anos. Todas as semanas, Borg acordava cedo para ser a primeira pessoa de uma fila interminável que todos os dias se formava, às 6h00, num hospital na Cidade do Cabo, na África do Sul, para conseguir uma consulta médica apoiada pelo Governo. Isto antes de ser diagnosticada com cancro da mama.

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Borg explica que, como não tem seguro de saúde, não podia pagar todos os testes que precisava de fazer e que, caso os fizesse num hospital privado, sabia que teria os resultados muito mais depressa. Ao fim de seis meses de espera, o seu diagnóstico chegou e Borg precisava de uma cirurgia imediatamente. Foi então que uma amiga lhe deu conta do recém criado projeto.

Desde há oito anos que Liana Roodt tem dedicado o seu tempo a recrutar outros cirurgiões voluntários, e enfermeiras, para criar uma reserva de cirurgias vitais agendadas gratuitamente. “Há tantas operações que têm de ser feitas rapidamente. Mas as pessoas esperam três ou quatro meses depois do diagnóstico até poderem fazer efetivamente a cirurgia”, diz Roodt à CNN.

Liana Roodt, médica cirurgiã

Muitas eram as salas de operação que estavam vazias aos fins-de-semana e feriados, por todo aquele país. Neste contexto, em 2010, Roodt começou a juntar fundos para agendar cirurgias e pagar pelas instalações e enfermeiras de que precisava nesses dias para conseguir avançar com as cirurgias. Roodt conta que foi apenas preciso escrever um e-mail e logo obteve resposta de alguns sobreviventes de cancro da mama e de uns colegas, que voluntariamente ofereceram a sua ajuda para começar a desenvolver o projeto.

Embora tenha levado algum tempo até ver o projeto crescer, ao fim de três anos, Roodt conseguiu as autorizações e os regulamentos de que precisava para torná-lo em algo mais sério e sólido. Ao todo, a equipa de cirurgiões voluntários já fez com que 500 mulheres tenham realizado mastectomias, sendo que o tempo de espera reduziu para duas a quatro semanas. Quanto ao processo de seleção das pacientes, as mulheres são escolhidas entre aquelas que já estão identificadas no sistema dos hospitais.

O projeto Flamingo acabou por se expandir ao hospital público Tygerberg, na Cidade do Cabo, onde Borg foi operada. E tudo graças à determinação de Roodt a à equipa de voluntários. O grupo conta já com 10 profissionais cirúrgicos regulares, 10 anestesistas e 10 voluntários, que dedicam o seu tempo a cada hospital, sendo muitas pessoas se mostram dispostas a financiar as operações com o seu próprio dinheiro.

“Pelo menos seis a 15 cirurgias são realizadas por mês. Algumas pacientes pagaram uma pequena taxa, de acordo com a sua renda. Isso está de acordo com a política de faturação do Departamento de Saúde para cobrir a em entrada no hospital. Nós responsabilizamo-nos pela parte cara: a cirurgia.”, explica a cirurgiã.