Michelle Obama confessa ter “bloqueado” quando Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos e substituiu Barack Obama na Casa Branca. E afirma que Trump colocou em causa a cidadania de Barack Obama para “agitar deliberadamente os tolos e os malucos”. As revelações são feitas em “Becoming”, o novo livro de memórias da ex-primeira-dama norte-americana a que a Associated Press teve acesso. A obra chega às bancas norte-americanas na próxima terça-feira e parte do dinheiro vai ser entregue à Fundação Obama.

Donald Trump

O “corpo a zumbir de fúria”

A mulher de Barack Obama revelou ter achado “excelente” quando Donald Trump anunciou a candidatura à presidência dos Estados Unidos. Julgava que o multimilionário nunca poderia ganhar porque as mulheres não escolheriam um “misógino” em vez de Hillary Clinton, que foi “uma candidata excecionalmente qualificada”, avalia Michelle Obama. A ex-primeira-dama recordou também como sentiu “o corpo a zumbir de fúria” quando viu o vídeo “Access Hollywood” em que Trump se gabava de ter agredido sexualmente várias mulheres.

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Segundo Michelle Obama, Donald Trump “perseguiu” Hillary Clinton durante um debate eleitoral com o objetivo de “diminuir a presença dela”. O motivo? Transmitir a mensagem: “Eu posso magoar-te e sair impune”, teoriza a ex-primeira-dama americana no novo livro.

Michelle Obama, Barack Obama, Donald Trump e Melania Trump na tomada de posse do novo presidente dos Estados Unidos, a 20 de janeiro de 2017. Créditos: JIM WATSON/AFP/Getty Images

Barack Obama

O “preto inteligente” com “traços de nerdismo”

“Becoming” também fala da infância de Michelle Obama em Chicago, das situações de racismo que teve de enfrentar, em como ficou surpreendida quando se tornou na primeira dama negra dos Estados Unidos e nas discussões que teve com Barack Obama quando ele entrou no mundo da política. Michelle Obama conta que o marido estava muitas vezes ausente quando começou a carreira política, por isso chegaram a procurar conselheiros para salvar o casamento.

Foi “no punhado de vezes” que esteve com Barack Obama nos consultórios dos conselheiros que Michelle Obama percebeu que tinha “mais mão” na felicidade dela do que julgava, relata ela: “Esse foi o meu momento pivô. Foi o meu momento de auto-detenção”. À ABC, Michelle acrescentou: “O aconselhamento matrimonial foi uma das maneiras com que aprendemos a discutir as nossas diferenças. Conheço muitos casais jovens que lutam e pensam que de alguma forma há algo errado com eles. E eu quero que eles saibam que nós, que temos um casamento fenomenal e que nos amamos, trabalhamos o nosso casamento. E recebemos ajuda quando precisamos”.

Michelle e Barack Obama dançam no Baila Inaugural do Comandante-Chefe no Centro de Convenções de Washington a 21 de janeiro de 2013. Créditos: Pablo Martinez Monsivais-Pool/Getty Images

A ex-primeira-dama conta que conheceu Barack Obama num escritório de advogados chamado Sidley Austin LLP. Michelle era conselheira de Barack Obama nesse escritório e não se sentia atraída por ele. Os colegas diziam que ele era “fofo” e “brilhante”, mas Michelle Obama pensava que os brancos ficavam sempre impressionados quando viam um “preto inteligente de fato”. De resto, não via mais nada em Barack Obama além de “traços de nerdismo”.

Só mais tarde é que Michelle viu “um barítono rico e até sexy” em Barack Obama: “Este estranho homem-mistura-de-tudo fez detonar uma explosão de luxúria, gratidão, satisfação, maravilha”, pensou ela quando Barack a beijou pela primeira vez.

Michelle Obama

“Sou boa o suficiente? Sim”

Michelle Obama faz o último discurso enquanto primeira-dama dos Estados Unidos. Créditos: Chip Somodevilla/Getty Images

Michelle Obama revela que, ao longo da carreira política de Barack à frente da Casa Branca, teve dificuldades em manter a auto-estima. Não gostou de ter sido chamada de “fera” nem “Baby Mama do Obama” na Fox News. Quando isso acontecia achava que podia estar a prejudicar a campanha eleitoral do marido em 2008, principalmente nas ocasiões em que os discursos dele ou da própria Michelle eram copiados pelo outro lado da barricada política.

Essas foram tormentas que Michelle Obama enfrentou por ser “mulher, negra e forte”: “Para algumas pessoas isso só traduz raiva. Era outro cliché prejudicial, que sempre foi usado para levar as mulheres das minorias ao perímetro de cada sala. Estava a começar a sentir-me um pouco irritado, o que me fez sentir pior, como se eu estivesse a cumprir uma profecia feita para mim pelos inimigos”.

Os nomes que lhe foram atribuídos pela comunicação social feriram-na, admite. Michelle Obama diz ter sentido “uma semente perniciosa” que lhe fazia sentir “descontente e vagamente hostil” a crescer dentro dela. E sentia em cima dos ombros o peso de ter de conquistar a simpatia do público: como era a única primeira-dama negra da história dos Estados Unidos, sentia “nunca seria mais uma”. Como é que ultrapassou a timidez? Quando estava mais nervosa, repetia em silêncio: “Sou boa o suficiente? Sim, sou”.

Maternidade

Um aborto espontâneo há duas décadas. “Pensei que tinha falhado”

Michelle Obama conversou com a ABC sobre como se sentiu “abandonada e perdida” quando, há duas décadas, sofreu um aborto espontâneo: “Senti-me como se tivesse falhado porque eu não sabia como os abortos comuns eram. Nós não falamos sobre eles. Ficamos dentro da nossa própria dor, a pensar que de alguma forma estamos quebrados. Essa é uma das razões pelas quais acho importante conversar com as jovens mães sobre o facto de que os abortos podem acontecer”, disse ela numa entrevista exclusiva.

Antes de ser primeira-dama dos Estados Unidos, Michelle trabalhou também na administração de um hospital. Quando tinha 34 anos o relógio biológico começou a dar horas: estava na altura de ser mãe. “O relógio biológico é real e a produção de óvulos é limitada. Percebi que tínhamos 34 e 35 anos. Tivemos que fazer fertilização in vitro“, revela. Foi com esse método que as filhas do casal — Sasha, de 17 anos, e Malia, de 20 anos — foram concebidas.