O Fundo Monetário Internacional (FMI) admite que a economia moçambicana poderá crescer entre 4% a 4,7% em 2019, acima dos 3,5% previstos para este ano, caso o país cumpra um conjunto de condições, anunciou esta terça-feira a instituição.

“O crescimento pode ser muito elevado se o pagamento dos atrasados ao setor privado continuar e tomar mais força a partir dos próximos meses”, referiu Ari Aisen, representante do FMI em Maputo. O pagamento a fornecedores do Estado “vai dar uma injeção importante ao setor privado e beneficiar o crescimento”, sublinhou.

Os outros fatores apontados são o avanço dos investimentos na área do gás natural no norte do país – parte já em curso -, a continuação dos esforços de paz, um relaxamento da política monetária e condições financeiras do banco central e uma consolidação fiscal. “Se essas condições todas forem cumpridas, nós achamos que o crescimento realmente pode ser mais elevado em 2019 do que foi em 2018”, sublinhou.

Aquele responsável falava na conferência e debate semestral promovido pelo fundo, em Maputo, e que habitualmente se segue à divulgação dos relatórios de perspetivas económicas, juntando-lhe elementos sobre Moçambique.

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O Instituto Nacional de Estatística (INE) moçambicano anunciou esta terça-feira que o Produto Interno Bruto (PIB) a preços de mercado apresentou uma variação positiva de 3,2% no terceiro trimestre de 2018, comparado com o mesmo período do ano anterior, alcançando um valor acumulado de 3,3% entre janeiro e setembro deste ano.

A previsão corrige o valor de 3,4% de crescimento para os primeiros nove meses de 2018, anunciado pelo Governo a 6 de novembro. Noutros indicadores, o FMI prevê para 2019 que a taxa de câmbio do metical se mantenha estável e que a inflação anual se fixe em 5,5%.

Do lado dos riscos, estão a volatilidade do preço de matérias-primas, como o carvão, alumínio e gás, das quais Moçambique é mais dependente, bem como as tensões comerciais e geopolíticas, sobretudo entre EUA e China. O FMI alerta também para os riscos que as eleições gerais de Moçambique poderão colocar sobre a consolidação fiscal em curso. A política monetária dos EUA, que aponta para uma subida das taxas de juro, é também um risco.

Durante a apresentação desta quarta-feira, Ari Aisen destacou a tendência de crescimento da economia moçambicana, considerou exemplar a forma como a inflação foi controlada – desde o pico de 2016 – e avaliou de forma positiva as reservas líquidas do país, que permitem suportar sete meses de importações, ou seja, com margem suficiente para amparar qualquer choque inesperado.

Durante a apresentação, o representante do FMI referiu que há um esforço fiscal em curso, enquanto a dívida pública permanece alta (reafirmando a previsão de que salte de 113% este ano para 119% do PIB em 2019).

A queda do crédito à economia abrandou, situando-se numa redução de 5% em setembro, comparada com o mesmo mês de 2017, e o risco de crédito malparado continua elevado, atingindo um rácio da ordem 13%, face a 3% em 2014. Este valor reflete um apuramento de dados melhorado pelo Banco de Moçambique, referiu, além de ser um sinal “da própria situação da economia”.

Moçambique anunciou no início do mês um acordo preliminar com parte dos credores da dívida pública estatal não declarada de 2.000 milhões de dólares e o FMI disse à Lusa que está a reanalisar a sustentabilidade da dívida moçambicana à luz das novas condições.

Ari Aisen referiu, esta terça-feira, que ainda é cedo para saber se tal permitirá colocar os rácios de sustentabilidade da dívida em níveis que permitam ao FMI estabelecer um novo programa de apoio ao país num futuro próximo, concluindo que as atenções estão centradas nas reformas necessárias ao país.