O secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, lamenta que haja países europeus que “não entendam” o investimento chinês em Portugal quando no “momento agudo” por que Portugal passou “foi um conjunto de empresas chinesas que veio e investiu”, e não os parceiros europeus.
Numa entrevista ao Público e à Renascença, o governante recorda que “quando Portugal assinou o memorando [com a troika] comprometeu-se com as instituições europeias a um conjunto de alienações de participações sociais do Estado”. “Era importante ter tido fluxo de capitais de outros países europeus, mas a verdade é que nesse momento agudo foi um conjunto de empresas chinesas que veio e investiu”, sublinha.
Eurico Brilhante Dias destaca ainda a importância de Portugal emitir dívida “não apenas em euro, mas também em renminbi”, a moeda chinesa. “Pode ser uma boa fonte de diversificação de clientes da dívida portuguesa. Isso para nós é um elemento interessante”, diz, acrescentando que “Portugal tem interesse em diversificar as fontes, reduzir risco e ter mais atores com títulos de dívida portuguesa”.
O governante fala também da visita a Portugal do presidente angolano, João Lourenço, que começa esta quinta-feira, para dizer que há sinais “positivos” e “uma grande vontade do Governo angolano” no campo do apuramento da dívida angolana a empresas portuguesas.
Portugal e Angola falam em valores diferentes, mas Eurico Brilhante Dias garante que se trata de “um assunto entre o Estado angolano e as empresas portuguesas”, e não entre os dois estados.
“Esses contratos foram desenvolvidos na moeda local, o kwanza, que sofreu uma forte desvalorização face ao euro e dólar. Várias faturas foram emitidas ao longo do tempo e ao longo desta desvalorização do kwanza. É preciso saber a que relação euro-kwanza é feito o pagamento: se é em função do valor atual ou do original aquando da emissão das faturas”, explica o secretário de Estado.
PS não mudou o PCP e o Bloco
O secretário de Estado disse também que o PS não mudou o PCP nem o Bloco de Esquerda nestes anos de acordo parlamentar, acrescentando que depende desses dois partidos a manutenção de uma governação estável sem maioria absoluta por parte do PS.
“O BE teve há pouco tempo a sua convenção e manifestou desejo de ir para o Governo — não conheço nenhum partido que entre nas eleições e diga o nosso objetivo é perder e não ser Governo. A pergunta seguinte deveria ser: quanto à reestruturação da dívida como foi apresentada em 2015? Isso continua a ser um objetivo programático e central ou já tem uma posição mais próxima da do PS? E em relação ao projeto da UEM? O euro é a nossa moeda ou Portugal deve em alguma circunstância abandonar o euro?”, questiona.