Aos 45 anos, a atriz britânica Kate Beckinsale partilhou com o mundo, através do Instagram, o seu novo ritual de rejuvenescimento. Já conhecido como EGF (sigla para epidermal growth factor), o tratamento consiste na aplicação de um sérum sobre a pele do rosto, substância essa composto por células estaminais retiradas de prepúcios de bebés sul-coreanos circuncidados. “Depois de um longo voo, gosto de me deitar e de ser coberta com uma máscara de prepúcios clonados e liquidificados — sinceramente, quem é que não gosta?”, partilhou a atriz, numa publicação entretanto removida.
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Os seus seguidores não reagiram da melhor maneira. Segundo a edição britânica do jornal Metro, leram-se comentários como: “Isto foi a coisa mais nojenta que já li” ou “Este tratamento é absolutamente nojenta”. Após serem colhidas dos prepúcios dos bebés, as células estaminais, com rápidos efeitos na regeneração das células da pele, são aplicadas com a ajuda de micro agulhas. Os resultados no rosto parecem ser bastante imediatos.
Quem parece seguir a mesma técnica é Sandra Bullock. Entrevistada por Ellen DeGeneres, em maio deste ano, a atriz de 54 anos desvendou que fez um tratamento facial em tudo semelhante ao agora divulgado por Kate Beckinsale. Envolvendo micro agulhas, e estimulação da produção de colagénio, em um dia recuperou o aspeto normal da pele. “É extraído de um pedaço de pele de alguém muito jovem, bastante longe daqui”, afirmou a atriz. Confrontada com a proveniência do líquido aplicado no rosto, Sandra Bullock respondeu: “Não fico deitada com pedacinhos espalhados pela cara. Chamo-lhe o ‘tratamento de pénis’. E quando perceberes o bem que faz à pele, vais correr para o especialista mais próximo e pedir: ‘Dá-me o pénis'”.
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“O tratamento inclui limpeza, um peeling TCA [com ácido tricloroacético], uma máquina de micro agulhas e uma máscara eletrizante para acalmar a pele, seguida do sérum EGF”, explicou ao Metro Georgia Louise, a especialista na aplicação do método. Georgia parece ser o elo de ligação entre as várias celebridades que já experimentaram. Cate Blanchett, 49 anos, também é fã deste ritual de beleza. “A Sandy Bullock e eu encontrámos esta terapeuta em Nova Iorque, Georgia Louise, e ela fez-nos aquilo a que chama um tratamento facial de pénis e é qualquer coisa — não sei o que é, talvez porque cheira ligeiramente a esperma”, contou a atriz, numa entrevista à Vogue Australia, em março deste ano.
Georgia parece acompanhar também as rotinas de beleza de alguns anjos da Victoria’s Secret, indicia a sua conta de Instagram.
Dos transplantes para a cosmética: até onde deve ir o uso dos prepúcios de bebé
Segundo o site oficial de Georgia Louise, que cobra cerca de 650 dólares por tratamento e tem uma lista de espera de dois anos, o segredo do tratamento é um sérum “derivado de células progenitoras do fibroblasto humano, retiradas do prepúcio de recém-nascidos coreanos”. As mesmas células são usadas para criar tecidos usados na recuperação de vítimas de queimaduras e de diabéticos com úlceras, mas também na substituição de pálpebras e em cirurgias de enxertos cutâneos. No caso dos recém-nascidos, o fibroblasto encontra-se num estado puro, sem contaminações de toxinas.
Os prepúcios de bebés começaram a ser usados por médicos ainda no século XIX. Em 1891, o cirurgião Peter Charles Remondino mencionou esta parte do corpo num texto intitulado “A História da Circuncisão”: “Para transplantes de pele, não há nada que supere o prepúcio de um menino”. Para a cosmética, os fibroblastos existentes na pele do prepúcio são igualmente eficientes. As proteínas existentes nesses tecidos são consideravelmente mais eficazes na regeneração de células e na produção de colagénio. O efeito desejado é apenas um: fazer com que a pele pareça mais jovem.
Segundo um artigo da revista Vice, publicado em março deste ano, existem marcas a preparar o lançamento deste ingrediente no mercado. Parece ser o caso da britânica Vavelta e da norte-americana HydraFacial. Em 2013, a SkinMedica foi pioneira na utilização destas células. Na altura, a apresentadora Oprah Winfrey associou-se ao produto, tornando-se alvo de críticas, sobretudo por parte de grupos e associações anti-circuncisão.
Um prepúcio pode render milhares de dólares
A divisão de opiniões sobre a circuncisão de recém-nascidos assenta em questões culturais, sendo os países de religião muçulmana bem como os judeus os que mais têm esta prática enraizada. Há também questões fisiológicas, já que muitos defendem a circuncisão como forma de prevenir doenças e infeções, embora dezenas de estudos desvalorizem o procedimento como medida de prevenção. O processo é doloroso e nem sempre é feito sob o efeito de anestesia. As posições mais radicais falam em violação dos direitos das crianças, equiparando a circuncisão à mutilação genital feminina.
No caso da Coreia do Sul, não existe qualquer tradição ancestral ligada à circuncisão. A prática terá sido assimilada por influência das tropas americanas (os Estados Unidos são um dos países com maior percentagem de homens circuncidados a Ocidente), durante a Guerra da Coreia, nos anos 50. Num estudo feito em 2012, mais de 75% dos homens entre os 14 e os 29 anos eram circuncidados.
O negócio dos prepúcios de bebés pode ser bastante lucrativo: no livro What Your Doctor May Not Tell You About: Circumcision, em 2002, o pediatra Paul M. Fleiss escrevia que 3o centímetros quadrados de pele de tecido criado a partir de prepúcio de bebé podiam ser vendidos por 3 mil dólares. Ainda de acordo com o mesmo autor, um prepúcio contém material genético suficiente para dar origem a mais de 72.000 metros quadrados de pele.