Portugal está entre os países com um alto desempenho climático, segundo o Índice de Desempenho das Alterações Climáticas (CCPI, na sigla em inglês), divulgado esta segunda-feira na cimeira do clima das Nações Unidas, em Katowice (Polónia). Para o parâmetro das políticas climáticas Portugal conseguiu mesmo um primeiro lugar. O CCPI é da responsabilidade da organização não-governamental de ambiente Germanwatch e da Rede Internacional de Ação Climática e do NewClimate Institute.

Em termos globais, Portugal está em 14º lugar, numa lista de 57 países — ou em 17.º lugar, se contarmos com os três primeiros lugares por preencher. Estes primeiros lugares estão normalmente vazios, porque as organizações que criaram o índice consideram que nenhum país atinge um nível muito alto no desempenho em relação às alterações climáticas.

A Suécia e Marrocos, que ocupam os primeiros lugares do índice, também estão entre os cinco países com melhores políticas climáticas. França, em segundo lugar nas políticas climáticas, só consegue um desempenho médio (21º) em termos globais. Para as políticas climáticas, a União Europeia também aparece bem classificada em 6º lugar — e um lugar acima de Portugal no CCPI.

Sem surpresa, os Estados Unidos lideram o grupo das piores políticas climáticas. O anúncio de que o país sairá do Acordo de Paris terá contribuído para isso, mas toda a postura de negação das alterações climáticas do Presidente norte-americano, também. A Turquia é o segundo país com piores políticas, seguido da Austrálias. Estes três países, não só têm más políticas internas como na relação com os parceiros internacionais. Já a Alemanha, o Canadá e o Reino Unido, apesar de estarem a falhar na implementação das medidas a nível nacional, têm conseguido uma boa prestação internacional.

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Portugal subiu um lugar no desempenho climático

Portugal conseguiu subir um lugar no CCPI, em relação aos resultados de 2017, em parte graças às políticas climáticas. Os especialistas envolvidos na avaliação apreciaram os planos do país para atingir a neutralidade carbónica (conseguir capturar tanto carbono como aquele que emite) em 2050 e de querer acabar com as centrais a carvão até 2030. Além disso, Portugal é um dos países que apoia a neutralidade carbónica na União Europeia até 2050.

A quantidade de energias renováveis produzida, assim como a meta das renováveis para 2030 — 80% da eletricidade produzida —, são outros dos pontos destacados pelos especialistas e que faz Portugal estar bem classificado neste parâmetro. Já no parâmetro sobre o uso efetivo de energias renováveis, Portugal só consegue atingir um nível médio porque o desempenho no setor dos transportes públicos e mobilidade elétrica ainda não é tão bom como se desejaria.

Apesar do bom desempenho na produção de energia renovável, a associação ambientalista Zero lembra que, quando comparada com o total de energia consumida, só representa 25,43%. “Longe do objetivo necessário para impedir um aumento de temperatura abaixo dos 2ºC”, como estabelecido pelo Acordo de Paris, escreveu em comunicado a associação que faz parte da Rede Internacional de Ação Climática.

A União Europeia tem, segundo o CCPI, um desempenho alto, mas ainda assim contribui com 9% dos gases com efeito de estufa a nível global. Mais, os especialistas envolvidos no índice preveem que a União Europeia não esteja em condições de atingir a meta de emissões que se propôs para 2030, o que acabou por lhe dar uma má nota neste parâmetro. Também na produção e utilização de energias renováveis, a União Europeia só se classifica como médio. O que lhe garantiu um lugar tão alto no índice global foram as políticas climáticas.

Com a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, cabe à União Europeia assumir uma postura proativa à escala internacional, metas mais ambiciosas e papel de destaque na diplomacia climática, consideram os especialistas.

Nem tudo são boas notícias

Para a Germanwatch, não há países suficientes a tomarem medidas para prevenir os efeitos negativos das alterações climáticas, isto porque poucos países começaram a implementar as medidas que visam cumprir os objetivos do Acordo de Paris: de limitar o aquecimento global em 2ºC (ou se possível, 1,5ºC). Os países do G20 são um exemplo de falta de empenho: há oito que estão entre os que têm pior desempenho.

“Antes do Acordo de Paris, o mundo estava a caminho dos 4-5ºC de aquecimento global. Agora, estamos ainda no caminho para um aumento de mais de 3ºC, o que é ainda uma perspetiva catastrófica”, disse Niklas Höhne, coautor e especialista do NewClimate Institute. “Os custos da eletricidade a partir do vento e energia solar caíram cerca de um terços desde então, por isso os países podem aumentar a ambição e ritmo.”

As energias renováveis têm crescido, especialmente nos países que anteriormente tinham as taxas mais baixas, mas os países continuam a mostrar pouco interesse em acabar ou desacelerar o consumo de combustíveis fósseis.

Atualizado às 11h30