O tráfego aéreo foi reaberto no aeroporto de Gatwick na manhã desta sexta-feira, depois de mais de 24 horas suspenso devido à presença de drones sobre aquele espaço. Embora permaneçam fortes limitações à atividade aérea no segundo aeroporto mais movimentado do Reino Unido, os passageiros e companhias aéreas afetadas por esta suspensão de atividade estão a tentar retomar as ligações perdidas nas últimas 24 horas. Ainda assim, os responsáveis de Gatwick recomendam que, para já, verifiquem e confirmem os voos com destino ou partida naquele aeroporto britânico antes de reservarem — isto porque os fortes constrangimentos no tráfego podem ainda provocar cancelamentos ou atrasos prolongados.

Os primeiros voos a saírem de Gatwick foram da EasyJet (dois aviões) e da British Airways (mais dois) — houve ainda um voo da China Eastern Airlines que aterrou vindo de Xangai.

A polícia, que ontem considerou o “ataque de drones” um “ato deliberado de perturbação”, mantém a busca pelos operadores dos aparelhos detetados no espaço aéreo de Gatwick na noite de quarta-feira. Apesar dos esforços de agentes e investigadores, aparelhos desapareceram sem deixar rasto e sem se conseguirem detetar. Também a origem dos aparelhos continua desconhecida. Polícia acredita que os aparelhos foram adaptados e preparados para causarem o máximo possível de interferências com a atividade do aeroporto. O operador (ou operadores) dos drones arrisca-se a uma pena de prisão até cinco anos.

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Mais de 24 horas em terra

Os voos com partida e destino em Gatwick, em Londres, estiveram suspensos desde a noite de quarta-feira na sequência do avistamento de dois drones sobre o espaço do aeroporto. Esta situação provocou o caos no aeroporto e estima-se que mais de 110 mil passageiros e 760 voos tenham sido afetados. Por volta das 21h30 da última quinta-feira foi comunicado pelas autoridades que “na última hora” tinha sido detetada de novo a atividade de um drone, o que contribui ainda mais para o arrastar da situação. Na conta oficial do aeroporto no Twitter, foi avançado esta sexta-feira de manhã que um dos aviões já descolou e que a pista já se encontra atualmente livre.

O responsável pelo aeroporto britânico,  Stewart Wingate, já emitiu um comunicado a pedir desculpa pelos incómodos causados e “pelo inconveniente que este incidente provocou aos passageiros”, lê-se no post feito também pela conta oficial do aeroporto no Twitter.

Stewart Wingate avança que este incidente foi projetado “para fechar o aeroporto e trazer o máximo de perturbações no período que antecede o Natal” e acrescenta que se estão a fazer os máximos esforços para apurar responsabilidades.

A polícia de Sussex, que está a investigar o “ataque de drones”, considera que não se tratou de uma ação terrorista, mas que é claramente um “ato deliberado de perturbação” que mantém o segundo aeroporto mais importante do Reino Unido fechado. O ministro da Defesa britânico, Gavin Williamson admitiu aos jornalistas que vão ser enviados militares para Gatwick para ajudar a polícia a travar os drones, sem especificar que tipo de ação será realizada pelas forças armadas.

Mais de 24 horas de caos

Gavin Williamson, citado pelo The Guardian, disse aos jornalistas que “a polícia de Sussex solicitou assistência e apoio das forças armadas” e que por isso foram “mobilizadas as forças armadas para dar [à polícia] a ajuda de que necessitam para lidar com a situação de drones do aeroporto”. O ministro da Defesa lembrou que as forças armadas “estão sempre prontas para apoiar as autoridades civis.” Quanto ao tipo de ação que será desenvolvida Williamson disse: “Isso é algo que não podemos revelar. Estamos lá para ajudar e fazer tudo o que pudermos“.

O Governo de Theresa May fez várias reuniões entre o Governo e autoridades do país desde as 15h00 de quinta-feira sobre a situação de Gatwick. O porta-voz de May explicou que o objetivo dessas reuniões (que não são reuniões oficiais do gabinete de crise conhecido como COBRA) era juntar membros de todos os departamentos envolvidos na operação para garantir que estavam a ser utilizados todos os recursos possíveis para travar o ataque. “Este é um incidente sério, que está a causar transtornos aos passageiros. O objetivo é acabar com a situação o mais depressa possível”, disse a mesma fonte de Downing Street. O porta-voz de May disse ainda que pode ser reforçada a legislação para evitar este tipo de situações e não quis fazer qualquer comentário sobre a intervenção militar.

Os aparelhos, de origem ainda desconhecida, foram vistos pela primeira vez por volta das 21h de quarta-feira, levando os responsáveis do aeroporto a suspender e a desviar ligações por razões de segurança. A informação foi prontamente divulgada pelos responsáveis de Gatwick na sua conta oficial de Twitter.

Houve uma primeira e muito breve reabertura do tráfego aéreo entre as 9h da noite e as 3h da madrugada de quinta-feira, mas devido a um novo avistamento na proximidade do aeroporto, decidiram retomar a suspensão dos voos a partir das 3h45 até que estivessem asseguradas condições de segurança. Há ainda vários testemunhos a dar conta de um ou mais drones a sobrevoar o mesmo espaço. Fontes do próprio aeroporto dão conta de que seriam pelo menos sete aparelhos a invadir o espaço do aeroporto.

Já na quinta-feira de manhã, o aeroporto confirmou que todas ligações de e para Gatwick continuavam suspensas até nova indicação e alerta para as perturbações que pudessem surgir em aeroportos vizinhos (sobretudo em Inglaterra e País de Gales) para onde têm estado a reencaminhar voos. Paris e Amesterdão são duas das cidades que também estão a receber voos desviados deste aeroporto britânico.

Localizado a 50 quilómetros a sul de Londres, o aeroporto de Gatwick é o segundo mais movimentado do Reino Unido. Devido à suspensão de atividade nas últimas horas, os responsáveis do aeroporto estimam que, nas primeiras horas, cerca de 200 voos foram impedidos de descolar, afetando perto de 10 mil passageiros, avançou Chris Woodroofe, chefe de operações de Gatwick citado pela BBC.

[Veja no vídeo como o caos se instalou em Gatwick e qual o real risco dos drones]

O mesmo responsável adiantou que perto de 20 equipas de agentes, de duas forças policiais diferentes, se organizaram na busca dos drones avistados sobre o aeroporto e em zonas de acesso em redor — um avistamento que, conta Woodroofe, terá “perturbado fortemente os passageiros”, sendo essa uma das razões para que a polícia não tenha tentado disparar para anular os drones. Havia ainda o risco de balas perdidas, algo que as autoridades quiseram evitar. Os drones, recorde-se, estão proibidos de sobrevoar aeroportos e até um quilómetro de distância do seu perímetro.

O voo foi cancelado ou adiado. E agora?

As companhias aéreas vão ter de compensar os passageiros que pedirem indemnização a não ser que fique provado que o cancelamento “se ficou a dever a circunstâncias extraordinárias que não poderiam ter sido evitadas mesmo que tivessem sido tomadas todas as medidas razoáveis”. À partida, os passageiros podem alegar que o ataque de drones podia ter sido evitado com uma segurança mais apertada.

Paralelamente, o aeroporto de Gatwick anunciou que os passageiros podem pedir o reembolso do bilhete sem qualquer custo administrativo e que podem viajar para o aeroporto de Luton também sem qualquer custo adicional.

Se um voo for cancelado ou adiado o passageiro tem vários direitos:

  • Assim que o voo é cancelado têm direito a um novo bilhete;
  • Depois de duas horas de espera têm direito a acesso a necessidades básicas, como água e comida, bem como o acesso a comunicações (telefone e internet);
  • Depois de cinco horas de espera têm direito ao reembolso do bilhete;
  • Em caso de necessitar de pernoitar, o passageiro tem direito a hotel e transporte de e para o aeroporto.

A compensação financeira pelo cancelamento do voo varia de acordo com a distância do voo.