O novo anúncio da marca de produtos de barbear Gillette está a causar polémica. Com um minuto e 48 segundos de duração, aborda a masculinidade tóxica, o assédio sexual e o movimento #metoo e suscitou vários ataques de figuras públicas nas redes sociais, noticiam esta terça-feira o jornal britânico The Guardian e a cadeia de televisão norte-americana CNN.

O anúncio começa com um pergunta aos espetadores: “Este é o melhor homem que consegue ser?”. Segue-se uma série de episódios do quotidiano que ilustram situações de sexismo, machismo ou assédio sexual, numa alusão aos casos denunciados pelo movimento #metoo.

No final, e com o slogan “Porque os rapazes que vemos hoje serão os homens de amanhã”, há uma sequência de cenas entre pais e filhos, com os pais a ser o exemplo para as crianças, separando-os de lutas ou a serem, simplesmente, carinhosos.

Há quem elogie o anúncio, mas também quem ameace fazer um boicote à empresa, dizendo que se trata de “propaganda feminista” ou que representava um insulto para os homens. Pankaj Bhalla, diretor de marca da Gillette na América do Norte, admite que a ideia era mesmo que os homens possam mostrar o anúncio aos filhos para que se sintam inspirados e saibam como reagir perante um mau comportamento e, sobretudo, que tratem as pessoas com respeito.

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Nós esperávamos um debate. Na verdade, a discussão é necessária. Se não debatermos e não falarmos sobre isso, não haverá uma mudança real”, afirma Pankaj Bhalla, diretor de marca da Gillette na América do Norte, em declarações à CNN.

A empresa garantiu ainda que para realizar o anúncio fez questionários a vários homens por todo o país, baseou-se em estudos sobre a masculinidade e falou com especialistas. Confrontado com as críticas apontadas, o diretor de comunicação defendeu que “o anúncio não trata de masculinidade tóxica”, mas pretende transmitir que “o principal inimigo é a inação”.

De acordo com o The Guardian, a publicação norte-americana The New American fez duras críticas à mensagem transmitida pelo anúncio, afirmando que “reflete muitas falsas suposições”, como se todos os homens fossem abusadores ou bandidos violentos, acrescentando que “os homens são o sexo selvagem, o que explica a sua perigosidade mas também seu dinamismo”.

Já o jornalista britânico Piers Morgan diz na rede social Twitter que sempre foi consumidor da marca, mas este anúncio pode afastá-lo para uma empresa concorrente “menos empenhada em alimentar este patético ataque global à masculinidade”.  

Outras pessoas criticaram o anúncio por ter sido realizado por uma mulher, a realizadora Kim Gehrig. O comentador político conservador canadiano Ezra Levant escreveu: “Um anúncio de barbear escrito por uma feminista de cabelos rosados é quase tão eficaz quanto um anúncio de tampões escrito por homens de meia idade …”.

Mas há também quem elogie a publicidade e que diga que são necessárias mais iniciativas como esta. “A sério: se a vossa masculinidade fica ASSIM tão ameaçada por um anúncio que diz que devemos ser mais simpáticos, então a vossa masculinidade está errada”, escreveu este utilizador.

A empresa comprometeu-se a doar um milhão de euros a associações sem fins lucrativos com programas “projetados para inspirar, educar e ajudar homens de todas as idades a alcançar o seu melhor a nível pessoal e a tornarem-se modelos para a próxima geração”.

No Youtube o anúncio teve mais de 50 mil comentários, 22 mil “likes” e 208 mil dislikes. Ou seja, quase dez vezes mais pessoas do que as que mostraram o seu apreço.