Os especialistas que foram contratados pela União Europeia para avaliar a segurança do herbicida glifosato — que obteve autorização para ser usado por mais cinco anos apesar das suspeitas de causar cancro — copiaram 70% do relatório a partir de textos da empresa produtora, a Monsanto. A revelação é feita esta terça-feira pelo jornal francês Le Monde, que avança que as mais de 4.000 páginas do relatório produzido pelos alemães do Bundesinstitut für Risikobewertung (BfR) copiou, por vezes palavra por palavra, documentação da Monsanto.

Dois membros de uma organização não-governamental, a ONG Global 2000, usaram um programa informático vocacionado para detetar plágios académicos e constatou a semelhança entre o relatório que desbloqueou a utilização do glifosato e os dossiês que foram feitos, originalmente, pela Monsanto para obter a homologação de produtos como os que estão na base de herbicidas como o Roundup.

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O relatório de especialistas tinha sido encomendado por alguns partidos da esquerda do Parlamento Europeu e foi tornado público esta terça-feira, existindo há muito suspeitas de que a análise dos riscos não teria sido a mais adequada. “É uma evidência que as recomendações adotadas pelo BfR, sem recensão crítica, baseou-se em informação parcial, incorreta ou incompleta fornecida pelos produtores [do glifosato], o que terá influenciado a fundamentação sobre os perigos reais associados a este produto”, defendem os dois membros da ONG, o bioquímico Helmut Burtschner e Stefan Weber, um austríaco conhecido por ter detetado vários casos de plágio nos últimos anos.

Em março de 2015, o Centro Internacional de Investigação do Cancro (IARC), da Organização Mundial de Saúde, considerou o glifosato como “provavelmente cancerígeno”.

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